IPTU
zero, mas sem a Banda
Professor
Nazareno*
Em
2023, após o auge da pandemia de Covid-19, o valor do IPTU de Poto Velho subiu
exponencialmente. Até agora ninguém sabe de onde partiu a infeliz ideia de
açoitar a chibatadas os pobres contribuintes da cidade. Ministério Público,
Tribunal de Contas do Estado, Câmara de Vereadores, CRECI e Prefeitura
Municipal tiraram logo o corpo fora depois das repercussões negativas de parte
da população atingida. Ninguém assume publicamente ser “o pai dessa
enjeitada criança”. E o jogo de empurra-empurra atingiu o ápice. O problema
é que alguns desses órgãos são administrados por pessoas que apesar de morar no
meio do lodaçal porto-velhense, acham que vivem em Viena, Paris ou Barcelona.
Assim, aumentar tributos sem a contrapartida parece seu uma coisa normal. Muitos
podem até pensar que dando “pão e circo” aos moradores, as coisas se
resolvem.
Poucos
dias antes do aumento desse referido imposto, a Banda do Vai Quem Quer desfilou
pomposamente pelas sujas e fedorentas ruas da “capital dos destemidos
pioneiros”. Praticamente não houve uma só autoridade que não estivesse ali
presente fazendo fotos e confraternizando com os tolos carnavalescos. Muitos
disseram que uns 250 mil foliões estavam ali brincando. Para uma cidade que mal
ultrapassa os 400 mil moradores, isso é uma cifra astronômica. Enquanto isso,
não mais do que 250 pessoas foram às mesmas ruas para reivindicar a diminuição
do injusto tributo. Com medo, desconhecimento ou mesmo por falta de mobilização
política, encheram só as redes sociais com discursos, fotos, xingamentos,
palavras de ordem e declarações eivadas de orgulho e de sentimento telúrico
como se a cidade não fosse a pior dentre todas as capitais.
Como
religião, futebol e Carnaval sempre funcionaram como o ópio do povão, muitas
autoridades estavam ali desfilando na Banda como que dizendo: “Nós lhes
damos a alegria de brincar na Banda e vocês têm que nos pagar altos impostos”.
Óbvio que com IPTU zero, pode não ter desfile da Banda nem Carnaval. Mas quem
de Porto Velho aceitaria tal heresia? Porto Velho já não tem futebol. Não tem também
festa religiosa como a festa do santo padroeiro, por isso, a única coisa que nos
resta mesmo é essa Banda sujando e emporcalhando as ruas da cidade. A capital
está repleta de terrenos baldios à espera de uma valorização que nunca virá.
Capoeiras e mais capoeiras estão ali pelo centro, pagando IPTU barato e enfeiando
o que por si só já é feio e desengonçado. E como não temos um Pereira Passos ou
um Lúcio Costa, o jeito é continuar vivendo no monturo.
Mas os vereadores e o prefeito de
Porto Velho já consertaram a lambança: pressionados e acuados pelas redes
sociais, recuaram e revogaram todo e qualquer aumento do IPTU para este ano e
possivelmente para anos vindouros. O valor venal dos imóveis voltou ao preço
normal. A novela IPTU de Porto Velho finalmente chegou ao fim. E como ainda
faltam dois longos anos para as eleições municipais, é bem provável que não
haja nenhuma consequência para os futuros candidatos. O povo esquece muito
rápido as chicotadas que leva no lombo e ainda tem um Carnaval com Banda do Vai
Quem Quer e tudo pelo caminho. Tem também muito futebol e muitas igrejas e
templos lotados para adorar os santos, os pastores, os padres, Jesus Cristo e
Deus. Neste episódio pode ter ficado uma lição: em tempos de Facebook e
WhatsApp não se pode menosprezar a capacidade política de uma população
alienada. Porto Velho ainda terá IPTU baixo com as pessoas podendo sujar as
ruas à vontade, participando do Carnaval e amando a sua Banda.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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