quarta-feira, 15 de março de 2023

IPTU zero, mas sem a Banda

IPTU zero, mas sem a Banda

 

Professor Nazareno*

 

            Em 2023, após o auge da pandemia de Covid-19, o valor do IPTU de Poto Velho subiu exponencialmente. Até agora ninguém sabe de onde partiu a infeliz ideia de açoitar a chibatadas os pobres contribuintes da cidade. Ministério Público, Tribunal de Contas do Estado, Câmara de Vereadores, CRECI e Prefeitura Municipal tiraram logo o corpo fora depois das repercussões negativas de parte da população atingida. Ninguém assume publicamente ser “o pai dessa enjeitada criança”. E o jogo de empurra-empurra atingiu o ápice. O problema é que alguns desses órgãos são administrados por pessoas que apesar de morar no meio do lodaçal porto-velhense, acham que vivem em Viena, Paris ou Barcelona. Assim, aumentar tributos sem a contrapartida parece seu uma coisa normal. Muitos podem até pensar que dando “pão e circo” aos moradores, as coisas se resolvem.

            Poucos dias antes do aumento desse referido imposto, a Banda do Vai Quem Quer desfilou pomposamente pelas sujas e fedorentas ruas da “capital dos destemidos pioneiros”. Praticamente não houve uma só autoridade que não estivesse ali presente fazendo fotos e confraternizando com os tolos carnavalescos. Muitos disseram que uns 250 mil foliões estavam ali brincando. Para uma cidade que mal ultrapassa os 400 mil moradores, isso é uma cifra astronômica. Enquanto isso, não mais do que 250 pessoas foram às mesmas ruas para reivindicar a diminuição do injusto tributo. Com medo, desconhecimento ou mesmo por falta de mobilização política, encheram só as redes sociais com discursos, fotos, xingamentos, palavras de ordem e declarações eivadas de orgulho e de sentimento telúrico como se a cidade não fosse a pior dentre todas as capitais.

            Como religião, futebol e Carnaval sempre funcionaram como o ópio do povão, muitas autoridades estavam ali desfilando na Banda como que dizendo: “Nós lhes damos a alegria de brincar na Banda e vocês têm que nos pagar altos impostos”. Óbvio que com IPTU zero, pode não ter desfile da Banda nem Carnaval. Mas quem de Porto Velho aceitaria tal heresia? Porto Velho já não tem futebol. Não tem também festa religiosa como a festa do santo padroeiro, por isso, a única coisa que nos resta mesmo é essa Banda sujando e emporcalhando as ruas da cidade. A capital está repleta de terrenos baldios à espera de uma valorização que nunca virá. Capoeiras e mais capoeiras estão ali pelo centro, pagando IPTU barato e enfeiando o que por si só já é feio e desengonçado. E como não temos um Pereira Passos ou um Lúcio Costa, o jeito é continuar vivendo no monturo.

            Mas os vereadores e o prefeito de Porto Velho já consertaram a lambança: pressionados e acuados pelas redes sociais, recuaram e revogaram todo e qualquer aumento do IPTU para este ano e possivelmente para anos vindouros. O valor venal dos imóveis voltou ao preço normal. A novela IPTU de Porto Velho finalmente chegou ao fim. E como ainda faltam dois longos anos para as eleições municipais, é bem provável que não haja nenhuma consequência para os futuros candidatos. O povo esquece muito rápido as chicotadas que leva no lombo e ainda tem um Carnaval com Banda do Vai Quem Quer e tudo pelo caminho. Tem também muito futebol e muitas igrejas e templos lotados para adorar os santos, os pastores, os padres, Jesus Cristo e Deus. Neste episódio pode ter ficado uma lição: em tempos de Facebook e WhatsApp não se pode menosprezar a capacidade política de uma população alienada. Porto Velho ainda terá IPTU baixo com as pessoas podendo sujar as ruas à vontade, participando do Carnaval e amando a sua Banda.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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