Txai Suruí é
Rondônia!
Professor
Nazareno*
A COP26, a conferência do clima que
começou esta semana em Glasgow na Escócia, reservou uma daquelas surpresas mais
do que agradáveis para Rondônia, Estado brasileiro periférico, sem eira nem
beira e localizado em plena região amazônica do país. Walela Txai Suruí, uma
linda e encantadora mulher com seus 24 anos, cativou o mundo com suas sábias
palavras na abertura da cúpula mundial do clima. Falando num inglês perfeito e
sem nenhum arrodeio, a jovem desbancou todas as autoridades constituídas do
país que viajaram com dinheiro público para representar o Brasil. Apesar de
estar na Europa, o desprestigiado e inútil presidente Jair Bolsonaro não
participou da abertura nem da conferência. Também o governador de Rondônia,
Marcos Rocha, teria viajado para a Escócia. Só que os dois foram solenemente
ignorados ali.
Talvez poucos
rondonienses conheçam o trabalho da jovem indígena. Estado baseado na
agropecuária e resultado de um dos maiores desastres ambientais do planeta, a
jovem unidade da federação até hoje nada deu nem nada trouxe de bom para o
Brasil nem para o mundo. Com quase 15 milhões de cabeças de gado, três
hidrelétricas, dois biomas reconhecidos mundialmente e uma população menor do
que dois milhões de habitantes, Rondônia sempre foi uma vergonha nacional.
Todos os anos durante o verão amazônico, a floresta pega fogo em Rondônia e as
suas poucas cidades vivem sob um manto vergonhoso de fumaça tóxica mostrando ao
mundo como os brasileiros e principalmente os rondonienses tratam o seu meio
ambiente. A jovem índia não só defende o ecossistema local como também atua em
muitas frentes na defesa da natureza.
Destaque na COP26,
a jovem paiter-suruí tem pai perseguido pelo governo Bolsonaro e mãe ameaçada
de morte. Na cúpula do clima, no entanto, ela ensinou ao mundo a sabedoria
indígena e mostrou como salvar o planeta da catástrofe iminente. “Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me
ensinou que devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores”,
ensinou ela num inglês impecável. Mas tomara que ela continue com a sua boa e
útil militância em defesa da natureza e da floresta amazônica em vez se meter
na política. Teria poucos votos num universo onde o povo pobre, apesar de estar
passando fome e ameaçado de desaparecer, prefere votar nos políticos ricos e
ligados ao agronegócio. Aqui já vi voto “na
galega do saquinho”, “na menina do
pacu grande” e até quem diz que “Rondônia
não é Roraima” pode ter votos.
Para as próximas
eleições no Estado, os candidatos bolsonaristas e mais reacionários, que estão
ligados à devastação da natureza local e consequentemente ao agronegócio,
disparam na preferência do “analfabeto”
eleitor rondoniense. O Brasil é o vilão do clima mundial. Nossas autoridades se
escondem e não nos representam como deviam. E é como disse a jornalista Luciana
Oliveira: “Jair Bolsonaro como presidente
do Brasil entrou e saiu da COP26 sem ser notado. Parece que ninguém o viu por
lá. Já o governador Marcos Rocha, aliado na destruição do meio ambiente e
perseguição aos povos originários, entrou e saiu da COP26 também sem ser
notado. Enquanto isso, a jovem indígena suruí, entrou anônima, sem cargo
público, sem poder político ou econômico e saiu por seu discurso engajado sob
os holofotes da imprensa global”. Txai Suruí me representa e representa
Rondônia. Assim como a parintintin Francisca Pereira.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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