Movimento
Relincha Rondônia
Professor
Nazareno*
O MRR, Movimento Relincha Rondônia,
é uma espécie de partido político oculto que tem muita força e expressão e que já
existe há muitos anos em Porto Velho, a eterna capital de Roraima. Na
longínqua, subdesenvolvida, atrasada, suja, imunda, incivilizada e afastada
curva de rio há várias discussões “muito
importantes” entre os moradores e que pode mudar a vida de muita gente daqui:
o maior pittbull do mundo, por exemplo, não se sabe se está em Porto Velho ou
em Vilhena. Há também a já famosa discussão provinciana de que Rondônia e
Roraima são dois Estados diferentes. Por isso, nas próximas eleições pode até
ter candidato que defende isto. Rondônia também tem deputado estadual que
esconde dinheiro sujo de propina em sacos de lixo e não é punido por seus
pares. O relincho é tão forte que ele pode até se reeleger de novo.
Na política, os rondonienses sempre
rincharam e ainda zurram a bel prazer. Aqui foi proibida recentemente a
inexistente linguagem neutra nas escolas. Mas o STF, atento, derrubou a exótica
lei criada em terras karipunas. Rondônia é mesmo um lugar surreal, pois apesar
de ter um dos maiores índices nacionais de mortes por Covid-19, quer proibir o
passaporte da vacina. Foi aqui que durante o auge da pandemia, autoridades
foram às ruas da capital para distribuir o “kit
covid”, ou seja, envenenaram as pessoas com drogas ineficazes para combater
o Coronavírus e ninguém foi punido. Porém tem algo pior: estão dizendo na mídia
que o novo hospital de pronto socorro de Porto Velho custará pelo menos 300
milhões de reais (o mesmo preço daquela ponte inútil e desnecessária), mas o
Estado vai pagar mais de um bilhão pelo novo “açougue”.
Se isso é motivo para mais relinchos, o
zurrar dos animais rondonienses não vai parar tão cedo. A falta de árvores na
capital é um problema secular (e a cidade tem só um século), mas o atual
prefeito insiste em desarborizar ainda mais a já “pelada” currutela fedida. Ao arrancar todas as árvores da Avenida
Tiradentes e não substituí-las por outras, o alcaide foi reeleito. Mais
relinchos: a falta de esgotos e água tratada parece que é uma felicidade para
os moradores daqui. Zurremos: a única universidade pública de Rondônia não tem
hospital universitário? Tem problemas, não! E as pinturas nos viadutos tortos que
já foram tomadas pelo mato? Alguém ainda consegue enxergar as “obras de arte” em meio a tanto lodo? E a banda Versalle? Parece que não tem feito
muito sucesso ultimamente. Será que está fazendo turnê pela Europa e Estados
Unidos?
Rondônia é sempre motivo para relinchos
cada vez mais altos: o arraial Flor do Maracujá em Porto Velho, “o maior arraial sem santo do Norte do Brasil”,
é uma espécie de carro chefe da cultura local. “Só que ali nada se cria, tudo se copia”. Fato bem intrigante: o
internacionalíssimo aeroporto da capital não faz voo além da fronteira nem para
Guyaramerín na Bolívia, única experiência de turismo internacional da maioria
do povo rondoniense. Mas Rondônia já teve muita gente boa: Carlos Ghosn,
Maurício Bustani e Rodrigo Pacheco teriam nascido por aqui. O primeiro foi preso
no Japão e hoje está foragido no Líbano. O segundo perdeu seu cargo na ONU a
pedido dos Estados Unidos e o terceiro é o atual presidente do Senado, mas foi
eleito senador lá por Minas Gerais. Temos a Txai Suruí, indígena, pessoa boa e
reconhecida pelo mundo inteiro, só que amaldiçoada por muitos moradores e autoridades
locais. E haja relincho!
*Foi
Professor em Porto Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário