segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Discussão desnecessária

Discussão desnecessária

 

Professor Nazareno*

 

            Com quase 610 mil mortos pela pandemia do Coronavírus, inflação em alta,  preços dos combustíveis “matando” os consumidores, vários cidadãos pobres revirando caminhões de lixo em busca do que comer e o consequente aumento das “filas do osso” espalhadas pelo país afora, a discussão mais importante no Brasil e que envolveu grande parte das pessoas em quase todas as classes sociais, foi uma fotografia de um desenho norte-americano que mostrava o filho do personagem fictício Clark Kent, o super-homem, beijando um amigo dele. A foto virou o Brasil de cabeça para baixo a ponto de o jogador de vôlei, o bolsonarista Maurício Souza, do Minas Tênis Clube, fazer um comentário sobre o referido desenho nas redes socais e que, em tese, condenava aquele fato e por isso ele foi visto como homofóbico. E o Brasil se levantou. E todos falaram.

            Por pressão da Fiat e da Gerdau, patrocinadores do Minas Tênis, o jogador foi  sumariamente demitido e a discussão tomou conta das redes sociais, da mídia e de todo o país. Em sua página pessoal no Instagram, o atleta publicou uma imagem do beijo entre os dois personagens do desenho animado com a legenda: “É só um desenho animado, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”. Foi o bastante para muitos dizerem que se tratava de uma postagem homofóbica. Porém, a discussão está totalmente equivocada e fora de propósito. O Brasil vive dias de agruras com a volta da fome e a pobreza só aumentando. Vivemos dias tensos com o presidente do país ameaçando as instituições democráticas e criando crises institucionais. Suas declarações assombram todos. Somos um pária no mundo desenvolvido. O caos é aqui.

            Maurício ou qualquer outra pessoa tem todo o direito de emitir sua opinião sobre qualquer tema. Porém, é preciso observar se no seu contrato com o time de vôlei havia alguma cláusula que o impedia de fazer isso devido a questões de imagem tanto dele quanto do clube e indiretamente também dos patrocinadores. Além do mais, preocupar-se com a sexualidade dos outros da forma como foi feita dá a entender que a postagem foi mesmo homofóbica. E isso é delito, segundo a nossa legislação. A liberdade de expressão no caso não deve ser exercida publicamente já que pode induzir a crimes. O Brasil é o país que mais mata homossexuais no mundo e a sexualidade de terceiros não diz respeito a ninguém, somente ao próprio indivíduo que vive as suas volúpias. Mas com o Bolsonaro e seus seguidores, vive-se o preconceito e a discriminação às minorias.

Além de bolsonarista, o jogador de vôlei deve se candidatar a algum cargo político por qualquer um dos partidos da extrema-direita, que admira. E parece que foi mesmo tudo de caso pensado. Maurício Souza pode até ter perdido um bom dinheiro no clube em que atuava, mas ganhou likes e compartilhamentos nas suas redes sociais e turbinou ainda mais a sua notoriedade para poder disputar um cargo de deputado federal ou mesmo de senador por Minas Gerais. Já ao Brasil e aos brasileiros sobrou a vergonha de se envolver mais uma vez em discussões estéreis, inúteis, desnecessárias e sem sentido numa nação que vive um de seus piores momentos tanto na sociedade dividida quanto na política e na economia. País de contradições sociais e muito injusto, aqui pessoas catando comida no lixo não incomoda tanto quanto uma foto de um desenho animado publicada lá nos Estados Unidos. E já pensou se o Flamengo não for campeão?

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

Nenhum comentário: