Rondonha,
capital Berlim!
Professor
Nazareno*
Sempre tive
dificuldades de entender por que muitos brasileiros sempre confundem Rondônia
com Roraima. Várias vezes a própria mídia do sul do país comete esta pequena
gafe com as duas unidades da federação consumando certa injustiça com ambas, já
que nenhuma delas quer ser a outra. E talvez não seja apenas por
desconhecimento da geografia regional ou por causa da semelhança entre os nomes,
mas pela pouca ou nenhuma importância dos dois Estados dentro da já tosca,
cruel e dantesca realidade nacional. Mas agora, desta vez comecei a compreender
melhor esta esquisitice: o general Cristovam, senador por Rondônia, disse para
todo o Brasil, dentro do Congresso Nacional para quem quisesse ouvi-lo, que
ficou muito encantado com os bois-bumbás da cidade de Guajará-Mirim, “ali na fronteira do Brasil com a Colômbia”.
O general não está totalmente
errado. Bolsonarista de carteirinha e reacionário como poucos, ele pediu votos
e se elegeu, mas em outra fronteira: com a Bolívia. Homem muito culto, estudado
e de rara inteligência, o intelectual-político obteve quase 30 mil votos nas
últimas eleições. E apesar do pequeno e perdoável deslize, está cotado para se
reeleger nas próximas eleições. Ele não devia ser censurado, pois eu mesmo já
confundi Porto Velho, capital de Roraima, com várias outras cidades do primeiro
mundo. Devido à importância da “metrópole
karipuna” dentro das realidades nacional e mundial, é muito fácil
confundi-la com Berlim, Viena, Paris ou mesmo Munique. Com mobilidade urbana
ímpar, muito bem administrada, com arborização, sem violência, com hospitais moderníssimos,
rede de esgotos e água tratada, qualquer um se confunde.
O senador Cristovam só confundiu a Bolívia
com a Colômbia. Nada fora de contexto. Natural da cidade de Tefé, interior de
Pernambuco e muito próxima à fronteira com a Colômbia, é normal fazer esta “pequena confusão”. Só que embora muito
entusiasmado e emocionado, ele falou sobre algo que é invisível: a existência
de cultura naquela área de fronteira. É normal e já faz parte do folclore
nacional que grande parte dos políticos do Brasil não entenda muito bem da
realidade onde estão inseridos. No mesmo Estado “fronteiriço com a Colômbia”, um deputado também bolsonarista e
reacionário, proibiu recentemente aquilo que não existe: o uso da linguagem
neutra nas escolas. Mas, parece ser cada vez mais comum neste lugar surreal
e atrasado que algumas poucas autoridades possam dizer algo fora da realidade
local. Estão perdoados!
Parabéns, general pela sua
capacidade ímpar de distinguir lugares tão importantes em sua vitoriosa e
brilhante carreira política! Mas tenha certo cuidado: aqui, por exemplo, não se
gosta muito de quem confunde Rondônia com Roraima. E quem combate esse “imperdoável erro” pode até receber
muitos votos e se eleger. Não é o máximo? Deve ser por isso que nunca concorri
nem tenho vontade de concorrer a nenhuma eleição em terras karipunas, pois não
vejo nenhuma diferença entre essas duas toscas unidades da federação. Rondonha
não é mais a terra de Txai Suruí, mas a de Marcos Rocha, Marcos Rogério e por
que não dizer com muito orgulho que também é a terra do general Cristovam, o
expert em geografia regional? Aqui, nessa distante “fronteira com a Colômbia” têm bois-bumbás, quadrilhas, tacacá,
açaí, Carnaval e até futebol. Tudo cultura autóctone. Há coisa mais originária
do que o “Flor do Maracujá”?
*Foi
Professor em Porto Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário