quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Uma cidade sem “açougue”

Uma cidade sem “açougue

 

Professor Nazareno*

           

O Brasil tem o maior rebanho bovino do mundo com muito mais gado do que gente. São mais de 220 milhões de cabeças que garantem ao país ser o maior exportador de proteína animal do planeta. O Estado de Rondônia tem quase 15 milhões de cabeças, ficando entre os Estados com maior produção bovina do Brasil. Já Porto Velho, sua suja e imunda capital, é o quinto município do Brasil em cabeças de gado superando a marca de 1,2 milhão de unidades. Mas os números garbosos param por aí. Rondônia destruiu grande parte de seus dois biomas apenas para produzir capim. O Cerrado e a Amazônia perderam quase toda a sua vegetação nativa só para dar lugar ao pasto, gerando assim um dos maiores desastres ambientais do mundo. Além do mais, os donos de toda esta grande e invejável criação bovina geralmente são de pessoas que moram fora do Estado.

Aqui para nós moradores nem os ossos ficam. Já em Cuiabá até fila do osso eles têm. O preço da iguaria está nas alturas. Por isso, a cidade de Porto Velho praticamente não tem açougues. Tinha um, era o João Paulo Segundo, situado na zona sul da cidade. O “açougue” mais conhecido e mais importante da capital e também de todo o Estado já derrubou vários governadores e políticos. E continua lá cumprindo sua tenebrosa sina. É uma espécie de “campo de extermínio”, só que de pobres e miseráveis. Os poucos ricos e poderosos aqui residentes nem passam a sua frente. Muito menos entram lá para buscar auxílio médico. O atual governador do Estado, o coronel bolsonarista Marcos Rocha até que tentou “pegar uma carona” na cruel situação: prometeu solenemente erguer um novo açougue para os porto-velhenses, mas já “deu com os burros n’água”.

O raciocínio macabro das autoridades deve ter sido: “ora, se o povo pobre daqui não tem dinheiro sequer para comprar um quilo de carne, por que precisaria ter um novo açougue”? Mas além de ter muito gado em suas pastagens, Porto Velho tem também muitas repartições públicas suntuosas. Cada uma mais luxuosa do que a outra. E tem até algumas que para nada servem. É o caso de certo “Teatro das Artes”, onde nunca tem espetáculos, muito menos arte. Tem a ponte escura do rio Madeira, que até agora infelizmente só tem servido para as pessoas cometerem suicídio. E a capital tem também os viadutos do antigo Trevo do Roque, umas geringonças imprestáveis, tortos, desnivelados, íngremes e sem nenhuma função no caótico trânsito da cidade. Até o porto no rio Madeira, que devia dar nome à cidade, está fora de ação já faz muito tempo.

Se o coronel bolsonarista tivesse competência de construir um novo e moderno “açougue” para os porto-velhenses miseráveis, certamente ele ganharia as próximas eleições, mesmo que seu “frouxo guru” esteja em queda vertiginosa nas pesquisas e para alegria geral deve logo deixar o poder, expulso pelas urnas. Porém, se construírem uma nova rodoviária ou um novo e equipado “açougue” em Porto Velho, vão prometer o que nas futuras campanhas eleitorais? Mas como dizem que o “Bozo” virá em breve a Porto Velho, deviam usá-lo para inaugurar qualquer “açougue” para os habitantes lascados daqui. Até o “Hospital de Campanha”, que fora criado para ajudar o “açougue- mor” no enfrentamento à Covid-19, pode ser desativado em breve. E assim a “cidade das hidrelétricas” deve continuar com a sua sina macabra por muito tempo ainda: com muito gado no pasto, porém sem “açougues” para seus habitantes pobres. Mas felizes!

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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