Uma cidade sem “açougue”
Professor
Nazareno*
O Brasil tem o
maior rebanho bovino do mundo com muito mais gado do que gente. São mais de 220
milhões de cabeças que garantem ao país ser o maior exportador de proteína
animal do planeta. O Estado de Rondônia tem quase 15 milhões de cabeças,
ficando entre os Estados com maior produção bovina do Brasil. Já Porto Velho,
sua suja e imunda capital, é o quinto município do Brasil em cabeças de gado
superando a marca de 1,2 milhão de unidades. Mas os números garbosos param por
aí. Rondônia destruiu grande parte de seus dois biomas apenas para produzir
capim. O Cerrado e a Amazônia perderam quase toda a sua vegetação nativa só para
dar lugar ao pasto, gerando assim um dos maiores desastres ambientais do mundo.
Além do mais, os donos de toda esta grande e invejável criação bovina
geralmente são de pessoas que moram fora do Estado.
Aqui para nós moradores
nem os ossos ficam. Já em Cuiabá até fila do osso eles têm. O preço da iguaria
está nas alturas. Por isso, a cidade de Porto Velho praticamente não tem
açougues. Tinha um, era o João Paulo Segundo, situado na zona sul da cidade. O
“açougue” mais conhecido e mais
importante da capital e também de todo o Estado já derrubou vários governadores
e políticos. E continua lá cumprindo sua tenebrosa sina. É uma espécie de “campo de extermínio”, só que de pobres e
miseráveis. Os poucos ricos e poderosos aqui residentes nem passam a sua
frente. Muito menos entram lá para buscar auxílio médico. O atual governador do
Estado, o coronel bolsonarista Marcos Rocha até que tentou “pegar uma carona” na cruel situação:
prometeu solenemente erguer um novo açougue para os porto-velhenses, mas já “deu com os burros n’água”.
O raciocínio
macabro das autoridades deve ter sido: “ora,
se o povo pobre daqui não tem dinheiro sequer para comprar um quilo de carne,
por que precisaria ter um novo açougue”? Mas além de ter muito gado em suas
pastagens, Porto Velho tem também muitas repartições públicas suntuosas. Cada
uma mais luxuosa do que a outra. E tem até algumas que para nada servem. É o
caso de certo “Teatro das Artes”,
onde nunca tem espetáculos, muito menos arte. Tem a ponte escura do rio
Madeira, que até agora infelizmente só tem servido para as pessoas cometerem
suicídio. E a capital tem também os viadutos do antigo Trevo do Roque, umas
geringonças imprestáveis, tortos, desnivelados, íngremes e sem nenhuma função
no caótico trânsito da cidade. Até o porto no rio Madeira, que devia dar nome à
cidade, está fora de ação já faz muito tempo.
Se o coronel
bolsonarista tivesse competência de construir um novo e moderno “açougue” para os porto-velhenses
miseráveis, certamente ele ganharia as próximas eleições, mesmo que seu “frouxo guru” esteja em queda vertiginosa
nas pesquisas e para alegria geral deve logo deixar o poder, expulso pelas
urnas. Porém, se construírem uma nova rodoviária ou um novo e equipado “açougue” em Porto Velho, vão prometer o
que nas futuras campanhas eleitorais? Mas como dizem que o “Bozo” virá em breve a Porto Velho,
deviam usá-lo para inaugurar qualquer “açougue”
para os habitantes lascados daqui. Até o “Hospital
de Campanha”, que fora criado para ajudar o “açougue- mor” no enfrentamento à Covid-19, pode ser desativado em
breve. E assim a “cidade das hidrelétricas”
deve continuar com a sua sina macabra por muito tempo ainda: com muito gado no
pasto, porém sem “açougues” para seus
habitantes pobres. Mas felizes!
*Foi
Professor em Porto Velho.
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