O aniversário da
podridão
Professor
Nazareno*
Porto Velho, a
sombria e bisonha capital de Roraima, está mais uma vez fazendo aniversário.
São pelo menos 107 anos tentando ser uma cidade minimamente habitável.
Estranhamente o município é uma capital de Estado, embora seus índices de
qualidade de vida e de características urbanas ainda sejam de uma currutela
fedida, daquelas que só se viam em plena Idade Média. Pela sua posição
geográfica afastada, Porto Velho não era para sediar a administração de um
Estado. Não fossem as pedras e corredeiras no rio Machado, a capital de
Rondônia há tempos seria Ji-Paraná ou Rolim de Moura, cidades limpas, floridas,
organizadas e bem mais centralizadas. O acanhado porto no rio Madeira fez a
diferença lá no distante 1914 e continua até hoje sendo o fiel da balança. Mas
a cidade em todo este tempo não evoluiu nada e continua sendo a latrina
do Brasil.
E quem diz isto é o Instituto Trata
Brasil. Os rankings de saneamento básico e de
água tratada apontam a capital dos rondonienses como sendo a penúltima
cidade dentre as cem maiores do país. Sempre ficamos em último lugar, mas as promessas de termos água tratada, esgoto e limpeza são anuais. Situada em plena
Amazônia do Brasil, temos apenas 4,67 por cento de esgotos e somos beneficiados
com pouco mais de 37% de água encanada. Aqui, bebemos água de imundos poços
artesianos que têm mais coliformes fecais do que propriamente água. Ou seja,
morar na Porto Velho dos 107 anos é ainda ter que saciar a sede com merda
mesmo. Diferente das cidades europeias ou mesmo de muitas cidades do sul do
Brasil, caminhar pelas avenidas de Porto Velho é sentir o mau cheiro da
podridão de veredas sem esgotos com ratos, carniça, urubus, lixo e tapurus.
Desde 1914 que Porto Velho tem
prefeito, mas é como se nunca tivesse sido administrada por alguém comprometido
com a municipalidade. Em tempo: a cidade nunca foi governada por um legítimo
filho seu. O fedorento lugar é como se fosse um imundo e sujo lodaçal sem eira
nem beira, uma curva de rio perdida e amaldiçoada. Durante a atual pandemia do
Coronavírus, por exemplo, prometeram 400 mil doses de vacinas. Era tudo
conversa fiada. Hoje, a cidade já conta com 87 mil casos de Covid-19 e mais
de 2500 mortes. Chegou-se ao absurdo de quase faltar cemitério para enterrar
tanta gente. Reduto bolsonarista e permeada de gente muito pobre, mas de
direita e reacionária, Porto Velho não tem nada de belezas naturais, não tem
nada para se ver e por isso, seu turismo é incipiente e quase não existe. Qual
o louco que viria nos visitar?
A capital da imundície não tem
árvores. As poucas que tinha na Avenida Tiradentes, o atual prefeito e a SEMA
mandaram arrancar pela raiz e nada colocaram no lugar. Até hoje ficou só o
buraco por lá. O calor é cruel e desumano. No verão é só fumaça das queimadas e
no inverno são as enchentes e alagações com lama podre e infecta. Os igarapés
que cortam a urbe viraram esgotos podres com dejetos boiando em suas águas mortais.
Ninguém quer saber desta aniversariante. Em vez dos alemães, franceses,
austríacos ou belgas, são enxurradas de haitianos e venezuelanos, pobres e
desempregados, que “enfeitam” os
sinais de trânsito com seus filhos pequenos a pedir esmolas para comer. Porto
Velho é um tosco fim de mundo, o esfíncter anal. Um rincão amaldiçoado que
nunca prospera. Aqui não há rodoviária, hospital de pronto-socorro, arborização
nem mobilidade. E só tem 107 anos. Mas se tivesse mil, seria tão diferente?
*Foi
Professor em Porto Velho.
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