segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Quem é esse Paulo Freire?

Quem é esse Paulo Freire?

 

Professor Nazareno*

 

            Este mês de setembro, o educador brasileiro Paulo Freire completaria 100 anos se estivesse vivo. Conhecido no mundo inteiro pelo seu trabalho de alfabetizador e citado como referência nas principais universidades do mundo, no entanto, o educador pernambucano não é e nunca foi reconhecido dentro do seu próprio país. Freire recebeu homenagens de Kosovo ao Chile. Da Guiné Bissau na África à Universidade de Harvard nos Estados Unidos. Nos principais países da Europa e nos mais reconhecidos centros de estudos do mundo, ele é citado como uma das maiores autoridades na área da Educação. Paulo Freire não estudou em Oxford, Coimbra, MIT, Harvard ou outra universidade de renome. São estas universidades que estudam Paulo Freire. Perseguido e banido durante a Ditadura Militar no Brasil, ele também é odiado pelo atual governo.

            Exilado do Brasil em 1964, ele ganhou o mundo com suas ideias. Há vários centros de estudos espalhados pelo planeta inteiro que levam o nome do educador brasileiro: na África do Sul, na Áustria, na Alemanha, na Holanda, em Portugal, na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Canadá. Na Suécia, Paulo Freire é lembrando em um monumento público. Mas a elite do Brasil não gosta dele. Os ricos brasileiros odeiam a sua metodologia, que é fartamente premiada fora daqui. O governo de Jair Bolsonaro, assim como a assassina Ditadura Militar que o prendeu, consideram-no um comunista e por isso atualmente o MEC o demoniza. Um “bolsomínion raiz” não pronuncia jamais o nome do eminente e premiadíssimo educador. Mesmo que seus livros já tenham sido traduzidos para centenas de idiomas e sua pedagogia seja ímpar.

            Mas por que todo esse ódio da elite brasileira contra Paulo Freire? É por que sua pedagogia de alfabetização de adultos não ensina o cidadão apenas a ler e a escrever. Os pressupostos do professor Freire ensinam também a pensar, a ser crítico e a entender a realidade que nos cerca. “Toda prática pedagógica é um ato político”, dizia o mestre. E prosseguia: “À medida que se ensina, também se aprende. Todo mundo tem um conhecimento que deve ser valorizado. Ensinar não é transmitir conhecimentos, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Paulo Freire não poderia mesmo ter prosperado no Brasil, um país que jamais valorizou a Educação e o saber. Temos hoje um dos piores sistemas de ensino do mundo e tudo isso de caso pensado. A nossa elite tem medo do conhecimento, pois ele liberta e abre novos rumos.

            Manter o nosso povo na eterna ignorância sempre foi um projeto de todos os governos que já passaram pelo país. Tanto os de direita, de extrema-direita quanto os de esquerda. Em pleno século XXI, não temos ainda escolas de tempo integral. Nossas escolas não ensinam nada a ninguém, mas os privilegiados filhos da elite estudam geralmente em boas escolas particulares, escolas bilíngues ou mesmo em escolas no exterior. O acesso universal ao bom conhecimento amenizaria a nossa desigualdade social e resolveria os graves problemas sociais que temos. O brasileiro praticamente  não lê se comparado a outros povos. Nossas universidades estão entre as piores do mundo. Aqui, nossos jovens não falam outras línguas e mal se expressam em Português. Paulo Freire não é reconhecido por quase ninguém no Brasil, salvo algumas poucas faculdades de Educação. Desprezamos o que é nosso enquanto o mundo inteiro valoriza.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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