O estocador de
merda
Professor Nazareno*
Zé Ninguém é um
brasileiro não muito famoso que nasceu na beira de um rio da Amazônia. Não se sabe
muito bem que rio é esse, talvez próximo a Porto Velho, a capital de Roraima, talvez
em outro rio da imensa região. Muito pobre, mas de direita e por isso muito
reacionário e conservador, Zé Ninguém sempre votou e apoiou todo e qualquer
governo. Até os chamados de esquerda, aqueles que estocavam vento e mentiam
descaradamente para o povo. O estúpido Zé sempre dizia que Lula, apesar de
algumas ideias “esquisitas”, tinha
tudo para ser o melhor presidente que este país já teve. “Acabar com a nossa fome é algo nunca antes pensado por nenhum
mandatário”, dizia. Mas antes de admirar o petista, o nosso beiradeiro já
havia se entusiasmado também por José Sarney, de quem fora fiscal na época do
famigerado Plano Cruzado.
Sem nenhum
acanhamento, Zé Ninguém também votou e elogiou Fernando Collor, Itamar Franco, FHC
e durante os governos militares obrigava seus filhos a cantar diariamente o
hino nacional e a prestar continências a ele próprio. Sempre acreditou na
lorota de que “este é um país que vai pra
frente”, negou a tortura nos DOI-CODI, ignorava a censura, as perseguições
políticas e estava convicto de que os esquerdistas queriam tomar o poder para
implantar uma ditadura comunista no nosso país. Cristão praticante, Zé
recentemente trocou o catolicismo pela Igreja Evangélica e hoje, claro, tece
loas e muitos elogios aos pastores Silas Malafaia, R. R. Soares, Valdemiro
Santiago e, claro, a Edir Macedo. Para ele, todos esses religiosos são homens
enviados por Deus e tudo o que eles pregam, falam e dizem são verdades
indiscutíveis.
Assim como a
maioria dos rondonienses e porto-velhenses, esse insólito beiradeiro também
votou no Hildon Chaves para administrar Porto Velho, no Coronel Marcos Rocha
para governador e, óbvio, no capitão Jair Messias Bolsonaro para presidente do
país. “Os falsos testemunhos que estão
levantando contra o atual ministro da Justiça terão respostas à altura”,
costuma dizer aos seus interlocutores. A alegria no rosto deste sinistro
eleitor é algo indisfarçável toda vez que o “Mito” dá uma de suas estabanadas declarações. Admirador de Joaquim
Barbosa, de Sérgio Moro e do atual prefeito de Colatina no Espírito Santo, Zé
Ninguém é um ouvinte assíduo da Rádio Parecis e não perde um único programa do
SBT, da SIC TV e afins. “Joice Hasselmann,
Alexandre Frota, Tiririca e Janaína Pascoal são exemplos de grandes políticos”,
diz.
O nosso “grande” Zé Ninguém disse que de agora em
diante vai se esforçar para defecar “dia
sim, dia não” em respeito ao nosso inestimável e insubstituível líder. “Já estoquei vento. Que diferença faz estocar
merda agora?”, indaga. “Se todos os
habitantes de Porto Velho em Roraima, por exemplo, defecassem menos, a cidade
seria muito mais limpa”, filosofa. Com tanta estupidez assim, muita gente
não entende porque este cidadão nunca exerceu nem exerce nenhum cargo político.
Poderia ser prefeito de Porto Velho, governador do Estado, um senador, deputado
federal ou até presidente do país. Quem sabe até trabalhar como jornalista ou
radialista a serviço de um destes políticos de plantão... Zé diz que a fumaça
que se respira em Rondônia hoje é sinal de progresso e de muita produção
agrícola. “O governo estadual e as
autoridades deviam premiar quem tocasse mais fogo e mais destruísse a mata”,
diz. Zé é Rondonha, mano!
*É
Professor em Porto Velho.
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