sexta-feira, 16 de agosto de 2019

O “Mito” em Porto Fumaça


O “Mito” em Porto Fumaça


Professor Nazareno*

Depois de irresponsavelmente perder o dinheiro que Noruega e Alemanha mandavam para ajudar na preservação da Amazônia, Jair Bolsonaro resolve provar para o mundo que os brasileiros sabem muito bem preservar a maior floresta equatorial do mundo. Por isso, decidiu vir a Porto Velho em Roraima a fim de provar suas muitas teorias sobre os boatos, fofocas e mentiras que se fala sobre o desmatamento na região. Inicialmente, o avião presidencial teve muitos problemas para aterrissar no “aeroporto internacional” da cidade. A densa e criminosa fumaça não só fechou o campo de pouso local como também praticamente está inviabilizando o trânsito nas principais ruas e avenidas da imunda cidade. “Os rondonienses deviam parar de fumar um pouquinho só para diminuir esta fumaceira”, disse o presidente em meio a uma forte crise de tosse.
Efusivamente aplaudido pelos fãs e eleitores porto-velhenses e rondonienses, certamente aqueles mais intelectualizados e inteligentes, que foram receber seu herói nacional, o popular mandatário da nação quase não podia falar que era interrompido por aplausos e mais aplausos. Do aeroporto ao centro da cidade, multidões eufóricas gritavam slogans cívicos e muitos, emocionados, chegavam a desmaiar de tanta alegria. “Em termos de meio ambiente e preservação da natureza, o Brasil tem muito a ensinar ao mundo”, disse o “Mito” no início de seu acalorado discurso. “Além do mais, nós não precisamos do dinheiro desses países atrasados e subdesenvolvidos que tentam impor suas vontades sobre nós” completou o líder em meio a outra violenta crise de tosse. Disse depois que tinha visitado esses países e lá não encontrara uma só árvore plantada.
Sem enxergar quase ninguém a sua frente devido à densa fumaça, Jair Bolsonaro emocionava a todos os presentes toda vez que abria a boca para dizer algo. “Rondônia é um exemplo para o mundo em termos de respeito à natureza e ao ecossistema”, falava para delírio dos apaixonados seguidores. Disse que o mundo civilizado devia imitar esta cidade em termos de educação infantil. “Vejam o belo exemplo do prefeito Hildon Chaves e das autoridades em geral no tocante à educação das crianças e jovens ribeirinhos e da zona rural do município”.  Só não peço votos antecipadamente para ele por que o mesmo infelizmente não é do nosso partido, as eleições ainda serão no próximo ano e ele já está reeleito, completou para delírio dos presentes. “Vejam o nosso governador. Exemplo de homem ligado ao meio ambiente e à preservação ambiental”.
O presidente também falou que Rondônia é lugar de muita sorte com os governantes que tem. Após visitar o “açougue” João Paulo Segundo, teria cochichado a um assessor que a mídia local nunca mais falou sobre as mentirosas fofocas envolvendo aquele belo logradouro público. “Acho que esta minha tosse crônica e anormal seria resolvida aqui neste hospital de referência”, comentou para a preocupação dos seus asseclas mais chegados. Se não morasse em Brasília, o “meigo” presidente jurou que moraria em Porto Velho, Roraima. “Amei o clima de Alpes suíços do lugar. Nunca vi uma cidade mais arborizada do que essa. Põe Berlim e Oslo no bolso”, disse convicto. O “Mito” deu a entender que voltará em breve a “este lugar paradisíaco”. Talvez agora na Expovel ou então no final do ano durante o Arraial Flor do Maracujá. Após tossir muito e com os olhos já avermelhados, deixou-nos e voltou para limpar seus pulmões.



*É Professor em Porto Velho.

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