Orgulho da
escola Rio Branco
Professor
Nazareno*
Alguns alunos da Escola Rio Branco
de Porto Velho em Rondônia num gesto simples deram na semana passada um exemplo
não só para a nação, mas para toda a Humanidade: diante da catástrofe ambiental
que se abateu sobre a cidade e o Estado, saíram às ruas com máscaras nos rostos
para denunciar ao planeta toda a sua insatisfação com a derrubada e a queima da
“outrora” floresta amazônica. Como
muitos sabem, sou professor há mais de 20 anos na Escola Professor João Bento
da Costa na zona sul da cidade, mas não tive a ousadia nem a coragem para, em
total silêncio e respeitando todas as regras impostas, denunciar um crime tão
bárbaro e violento que se pratica de forma vil contra as futuras gerações.
Parabéns a todos que participaram deste ato cívico e também aos que tiveram a
iniciativa de mostrar ao mundo a sua amargura.
Diante do silêncio criminoso das
autoridades locais, do hoje maior incentivador da atual destruição da Amazônia,
o “capitão motosserra” e também de
todos os órgãos pagos com o dinheiro público para evitar a catástrofe, a brava
comunidade daquela escola estadual tomou a dianteira e se insurgiu contra o
absurdo reconhecido em todo o mundo civilizado. A cidade de Porto Velho está
mergulhada em fumaça e fuligem há mais de três semanas sem que nenhuma
autoridade ou mesmo a mídia tenha tomado qualquer providência. Aeroporto quase fechado por duas vezes, voos são desviados e os acanhados hospitais locais estão
tomados por velhos, crianças e principalmente pessoas mais sensíveis à fumaça.
O calor é infernal e a qualidade de vida, que sempre foi uma desgraça nesta
capital, piora sensivelmente. O horror é visível e ninguém faz nada.
Quando iniciou esta catástrofe
ambiental, o governador do Estado estava calado e dela vai sair mudo. Parece
até que concorda com o caos a que submeteram os rondonienses, seus eleitores.
Até agora, nenhuma palavra, nenhuma ação, nenhuma providência para conter a
desgraça. O prefeito da cidade, que deve ter viajado para o Primeiro Mundo para
se livrar do ar irrespirável, também nada disse sobre a hecatombe ambiental. A
inútil Câmara de Vereadores, a tosca Assembleia Legislativa, o Poder Judiciário,
os Ministérios Públicos. Ninguém deu um pio sobre o problema. A própria
população de Rondônia, muito acomodada e indolente, apenas reclama e muitos
chegam a admitir que “todo ano é assim
mesmo. Não há muita coisa a se fazer”. Vi até uma "jornalista" publicar em
sua rede social que na Europa eles também poluem. É mole?
Os alunos da Escola Rio Branco de
Porto Velho que participaram deste protesto mereciam ganhar um prêmio pela sua
coragem e pela bravura em mostrar para o mundo o que estão fazendo com a nossa
floresta amazônica. Nenhuma autoridade daqui certamente vai valorizar o que
eles fizeram. Mas se essas ações isoladas crescerem, num futuro próximo, os
incendiários de plantão e também o agronegócio vão pensar duas vezes antes de
acender o primeiro fósforo. Muitos desses “meninos
de ouro” não estavam preocupados apenas com a sua respiração naquele
momento, tenho certeza disso. Estavam todos preocupados com o seu próprio
futuro e o futuro das próximas gerações. Neste ritmo alucinado de colocar fogo
na floresta tropical e de destruir a Amazônia, em pouco tempo não sobrará uma
árvore sequer. Obrigado, alunos e comunidade da Escola Rio Branco! Se eu não
estivesse no JBC, queria estar com vocês.
*É
Professor em Porto Velho.
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