Comemoração
desnecessária
Professor
Nazareno*
O sequestro de
um ônibus em São Gonçalo na área metropolitana do Rio de Janeiro talvez tenha
exposto ao mundo o tipo e o caráter de alguns governantes do Brasil nesta atual
safra de maus políticos recém-eleitos. Willian Augusto da Silva, um jovem negro
de apenas 20 anos, morador da periferia, diagnosticado com problemas mentais,
tomou quase 40 pessoas como reféns dentro de um ônibus e a todo instante
ameaçava matá-los ateando gasolina dentro do veículo em plena ponte
Rio-Niterói. Não deu outra, após algumas negociações entre a PM e o “jovem depressivo”, um atirador de elite
da Polícia Militar o abateu com oito tiros, sendo que seis balaços perfuraram o
corpo do rapaz matando-o na hora. A horripilante cena, filmada ao vivo e
transmitida para todo o país, arrancou efusivos aplausos de quase toda a nação.
Uma alegria geral.
Porém, o que mais chamou a atenção
naquelas cenas dantescas foram as comemorações do atirador e também do
governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Ao descer do
helicóptero, Witzel vibrou como se Neymar tivesse feito um gol pela seleção brasileira
em plena Copa do Mundo. Com as mãos cerradas era impossível para ele esconder a
euforia, a alegria e a satisfação pela possível morte do jovem. Estranha também
foi a vibração do policial que apertou o gatilho: comemorou “o
feito” como se estivesse participando de uma competição esportiva. O
governador depois disse que havia vibrado pela vida e não pela morte. “Vibrei pelas pessoas que saíram vivas do
episódio” disse após ser confrontado pelas cruéis imagens da triste realidade.
Já o policial que “cancelou o CPF” do
infeliz, até agora não declarou nada.
Alguns questionamentos, no entanto,
precisam ser feitos. Havia mesmo a necessidade de abater aquele infeliz e daquela
forma midiática? Não havia possibilidade de atingi-lo nas pernas sem precisar
ter que matá-lo? E por que oito disparos? Será que a PM e o governador teriam
coragem de fazer isto com milicianos, com corruptos ou com poderosos
traficantes de drogas? Medir forças com quem não as tem pode ser ainda,
infelizmente, uma mentalidade reinante dentro da maioria das nossas forças
policiais. E agora no Brasil, nestes tempos bicudos e politicamente incorretos,
o que prevalece é a força bruta, a demonstração da estupidez e da ignorância.
Se o governador vibrou com a morte do rapaz, errou grotescamente e desceu ao
nível dele. Foi desrespeitoso com ele, com a família dele e principalmente com
a postura inerente a um governador de Estado.
Todo governante tem a função de
harmonizar e de pacificar a sociedade que governa. Mas no Brasil de hoje o que
se vê é a barbárie e a estupidez como políticas de Estado. Declarações absurdas
e surreais são dadas a todo instante pelos governantes de plantão. Parece que
ainda não desceram dos palanques eleitorais. A própria Justiça do país dá a
entender, como no caso da Lava Jato, por exemplo, que julga de acordo com os
interesses políticos em jogo e não de acordo com o que preconiza a lei. Há uma clara
inversão de valores e quem perde com isso é a própria sociedade que assiste
inerte ao uso da violência para combater a violência. Parece que voltamos aos
tempos da Lei de Talião, da barbárie e da carnificina. Pior: já pensou se a
família daquele infeliz morto ajudou a eleger Witzel? Deu um tiro no próprio
pé. “Bandido bom é bandido morto”, só que aquele bandido tinha uma arma
de brinquedo e sofria de sérios problemas mentais.
*É Professor em Porto Velho
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