O Brasil é
Hexacampeão
Professor Nazareno*
O Brasil perdeu mais uma vez a Copa do Mundo de futebol. Este fato totalmente previsível entristeceu muito os torcedores do país. Não entendi o porquê, embora admita que não haja cena mais hilária, risível, gostosa e “comovente” a de ver torcedores chorando e se lamentando por uma coisa tão tola e banal. Perder uma competição internacional de um esporte apenas é fichinha diante das derrotas diárias a que esta nação é submetida. Ri muito dos simplórios chorões, mas não consigo ter a mesma alegria e felicidade quando vejo a realidade do nosso país nos aspectos políticos, sociais e econômicos. Coisas, aliás, que deveriam fazer chorar de verdade todos os torcedores. Se não chorar, pelo menos deviam corar de vergonha. O Brasil é há mais de 40 anos uma das dez maiores potências econômicas do mundo e tem a quinta maior população.
Mesmo com estes números invejosos,
não conseguimos fazer um único gol quando o assunto é corrupção. Somos um dos
Estados mais desonestos do mundo. Acredita-se que em torno de 200 bilhões de
reais sejam desviados todos os anos nas esferas governamentais. A corrupção é
endêmica e envolve governantes, políticos, autoridades, profissionais liberais
e até cidadãos comuns. Aqui se arrecada uma das mais altas taxas de impostos do
mundo. Aproximadamente 40 por cento de tudo o que se produz, vai para os cofres
públicos em forma de tributos e praticamente nada é devolvido em benefícios.
Temos talvez os piores serviços públicos entre as nações emergentes. A educação
é certamente uma das piores. Aqui o turno das escolas não é integral e muitos
alunos que saem do Ensino Médio não sabem fazer um texto simples.
E essa tragédia
acontece depois de frequentar por doze anos um estabelecimento de ensino. Nunca
ganhamos um Prêmio Nobel. Nunca nos destacamos em nada. Nossas bolas nem na
trave batem quando o assunto é educação de qualidade. Se levamos cartão
vermelho em corrupção e em educação, somos expulsos também quando o assunto é
desigualdade social. O Brasil tem hoje mais de 15 milhões de miseráveis. Como
pode haver fome no segundo maior produtor de alimentos do mundo? Como pode o
país que tem as maiores porções de terras agricultáveis apresentar problemas
nesta área? Uma vergonha. As periferias de todas as cidades atestam esta
irracionalidade. Tudo por aqui é feito sob medida para pobres e para ricos. Em
desigualdade social ainda nem entramos em campo e por isso não poderíamos
participar de uma única Copa do Mundo sequer.
A quarta das
pragas que se abate sobre nós é a violência urbana. Entre vítimas de trânsito e
assassinatos comuns, contabilizamos cerca de 110 mil mortos ao ano. Nenhuma
nação em guerra registra tamanha barbaridade. Como sair às ruas gritando de
alegria a cada vitória da seleção, se temos estes números preocupantes? Uma
sociedade extremamente violenta como a nossa não deveria participar de nenhuma
competição internacional. Também não temos mobilidade urbana decente e nem
meios civilizados de locomoção dentro das nossas cidades. A produção do campo
apodrece, portos e aeroportos estão
entre os piores do mundo. E como se tudo isso não bastasse, nossa sociedade é
de um modo geral atrasada e incivilizada. Vivemos em muitos aspectos uma
realidade antes da Idade Média. Direitos humanos por aqui é chacota e o
desrespeito constante às minorias completa nossa insensatez. Somos hexa só em
caos e desgraças.
*É Professor em Porto Velho.
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