terça-feira, 31 de julho de 2018

Povo escolhido, povo infeliz

Povo escolhido, povo infeliz


Professor Nazareno*

            
       Terminada a Copa do Mundo de 2018 com mais um melancólico e abençoado fracasso do Brasil, eis que começa outra encenação em terras tupiniquins: as eleições. Em ambas, o combustível em comum que as alimenta é o povo. Sempre ele, o povo, carente de pão e circo, que contribui para que estes lamentáveis fatos aconteçam. E é em nome dele que se comentem as mais absurdas mentiras e enganações. A sociedade brasileira continua a mesma de séculos atrás. Estamos muito pior do que na época da escravidão e até, em alguns aspectos, vivemos antes da Idade Média. E sem nenhuma previsão de avançarmos em direção a uma sociedade mais justa e moderna. Pelo menos se depender da classe política e de pelo menos uns 80% dos eleitores que participarão do próximo pleito para escolher os novos deputados, senadores e o presidente do país.
Praticamente sem rumo e sem nenhuma perspectiva de melhoras, a multidão caminha bovinamente para o seu matadouro particular: serão mais quatro anos de desolações e angústias. Pior: ele mesmo será o seu carrasco, pois vai escolher como sempre faz em todas as eleições os piores candidatos para lhe governar. São quase 150 milhões de eleitores, dos quais se acredita que pelo menos uns 120 milhões não sabem votar nem escolher corretamente seus governantes. Isso é quase o dobro da população da França inteira e uma vez e meia a população de toda a Alemanha. São analfabetos políticos, sem leitura de mundo, despolitizados e semianalfabetos. Pessoas pobres e iletradas na sua maioria, mas que vão decidir o futuro de um país inteiro como o Brasil. E os políticos, como uma raça de víboras e aranhas caranguejeiras, se aproveitam disso.
Em Rondônia não é diferente do resto do país. Candidatos ambiciosos que na maioria só representam seus grupos políticos entram na corrida para ganhar as eleições e aumentar ainda mais a desigualdade social e a exploração dos pobres e miseráveis. Se a Justiça proíbe suas candidaturas, colocam filhos, esposas e parentes para continuar o feudo. E geralmente depois de eleitos, nada fazem por aqueles que, pela ignorância, os elegeram. Eles brigam entre si para poder disputar cada eleição. Basta ver a última convenção do MDB por aqui. Como pode um Estado tão rico como Rondônia ter um hospital como o João Paulo Segundo, por exemplo? Como pode ter uma capital tão mal administrada, suja e inabitável como Porto Velho? Como pode ainda ter gente pobre se é um dos maiores produtores agropecuários do país e com uma ínfima população?
Engana-se, no entanto, quem acha que existem brigas ideológicas entre os políticos. Brigar por ideologia e por política deve ser coisa só da “gentalha”. O PT, que sempre acusou o MDB de golpista, está coligado com o partido do impopular Michel Temer e de sua turma em pelo menos quatro Estados. Mais de 30 por cento do atual Congresso Nacional pertence à bancada BBB, boi, bala e bíblia. Eles defendem com unhas e dentes somente os seus interesses e na maioria dos casos “não estão nem aí” para os idiotas que brigaram e mataram por eles e os elegeram. O eleitor comum, aquele que decide de fato a eleição por ser a maioria, não sabe de nada disto. Não lê, não se informa, não se interessa por política, nem sabe por que votou neste ou naquele candidato. Com as eleições, o Brasil não vai mudar em absolutamente nada. Somos jumentos que continuaremos zurrando dentro dos currais que criaram para nos dominar.






*É Professor em Porto Velho.

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