E se tivéssemos
sido hexa?
Professor
Nazareno*
A França é bicampeã do mundo. Parabéns!
Fosse o Brasil, teria sido a pior coisa que podia nos ter acontecido. Nosso
país, que já está naufragado na política, na vida social, na educação, na saúde,
na economia e na Justiça, iria piorar ainda mais em tudo. Outras vitórias da
seleção brasileira demonstraram claramente esta tese. Levando em consideração
que apenas o futebol nos representa no mundo civilizado e desenvolvido, a
situação podia ter saído totalmente do controle como das outras vezes. “A mediocridade triunfa”. Esta seria a
absurda ideia e a primeira que muitos acreditariam ser verdadeira. O Brasil
nunca na sua História teve uma seleção tão ruim e tão fraca como esta para ser
inexplicavelmente hexacampeã mundial. Onze marmanjos tatuados, milionários,
semianalfabetos e quase sem leitura de mundo serem heróis do povo que busca
heróis?
Em 1958 quando foi campeão na
Suécia, o Brasil vivia os anos dourados de JK. A oposição se aproveitou da
comoção nacional para criar uma crise que se estenderia perigosamente até 1962
quando “os canarinhos” foram
bicampeões no Chile. Juscelino Kubitschek foi derrotado nas urnas e sai de
cena. Com o povo ainda anestesiado com a tolice de ganhar um mundial de
futebol, os militares se aproveitaram da situação para tramar o golpe de 1964.
Tudo embalado pelos resultados dos gramados. Em 1970, em plena Ditadura
Militar, a seleção conquista o tricampeonato no México e nos DOI-CODI a
repressão aumenta sem controle. Emílio Médici, o general-ditador de plantão,
endurece o regime e a tortura vira política de Estado. O povo nada viu e nada
soube. Estava festejando os gols de
Pelé, Jairzinho, Tostão e Gérson nos gramados mexicanos.
Em 1994, ainda vivíamos a
hiperinflação, herança dos governos militares e da irresponsabilidade de
Collor, outro arauto da elite nacional. Foi quando um sujeito, de nome FHC,
aproveita a burrice popular para lançar o Neoliberalismo e entregar de vez o
Estado ao setor privado. O seu partido, o PSDB, desmancha o setor público e o entrega
a amigos e correligionários. Empresas como a Vale do Rio Doce, bancos estaduais
e as telecomunicações são privatizadas. O povo, de novo, estava inebriado com a
conquista em estádios norte-americanos. Reclamar do governo por quê? O Brasil
foi tetra, mano! Felizes e alegres, embarcamos num sono que nos levou a ficar
mais pobres ainda. Em 2002, na conquista do pentacampeonato, veio a eleição do
“Lulinha paz e amor”, que mergulhou o
país no que já sabemos. O Mensalão e o Petrolão emergem dessa época.
Toda vez que se conquista uma Copa
do Mundo de futebol, o povão, que já é muito idiota e despolitizado, fica mais
estúpido ainda. Todos vestidos com suas camisas amarelas saem gritando para o
mundo que somos uma potência rica, desenvolvida e civilizada. Investir em
educação, saneamento básico, mobilidade urbana, habitação e outros benefícios
para quê? Discutir divisão de renda entre os miseráveis não faria sentido
nenhum: eles estariam felizes e gritando como loucos: “Hexa! Hexa!”. Países com um futebol muito melhor do que o nosso, e muito
mais civilizados, ficaram à frente do Brasil nesta Copa. É mais justo com suas
sociedades. Deus sabe o que nos viria depois desse momento de crise nacional
que estamos vivendo. Além do mais, um dos piores times do campeonato levantar a
taça de campeão soaria como uma coisa nossa: tudo fora armação. Aliás, a FIFA é
tão corrupta e desonesta que podia nos ter feito isto.
*É
Professor em Porto Velho.
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