UNIR:
bonificação para Letras
Professor
Nazareno*
UNIR é a
Universidade Federal de Rondônia, embora a sigla do Estado seja RO e não somente R. É a única instituição pública
de ensino superior a funcionar por estas bandas. Recentemente, o Ministério Público
Federal “recomendou” que a
universidade dê uma bonificação, ou seja, “uns
pontinhos a mais” para todos os alunos nascidos em Rondônia e que queiram
cursar Letras. Esse jeitinho, afirma-se, é por que muitos alunos de fora do
Estado estão “tomando as vagas” dos alunos karipunas. Parece que o egrégio MPF se
esquece de que uma universidade federal, mesmo estando no território dos entes
federados, é bancada com recursos públicos federais. Assim, por questões
lógicas, não deveria criar barreiras para que alunos “de fora” tenham ainda mais dificuldades de ingresso. Mesmo se fosse
só bancada com recursos locais, tudo isso já seria um delírio.
Se o nível dos alunos rondonienses é
muito mais baixo em relação ao de outros Estados, por que o MPF não tenta criar
mecanismos para melhorar esse nível? Assim, eles poderiam competir no ENEM, o
Exame Nacional do Ensino Médio, em “pé de
igualdade” com todo mundo de fora, já que o princípio isonômico é
constitucional. E os estudantes de Rondônia são tão capazes quanto os de São
Paulo, Minas Gerais ou de qualquer outro Estado. Só basta serem mais bem
preparados. É simples assim! Criar mecanismos como “pontinhos extras” só por que o indivíduo nasceu ou mora aqui não
ajuda em nada a melhorar o fraco nível de ensino que se tem no Estado. Além do
mais, essa “ideia” de dificultar a
vida de outros alunos brasileiros é antiética. Já pensou se esses outros Estados
também criarem barreiras para as pessoas oriundas de Rondônia?
O curso de Letras da UNIR é um dos
melhores do país e por isso muitos alunos de todos os recantos do Brasil sonham
um dia estudar em terras karipunas. Mas agindo assim, o MPF pode criar a falsa
ilusão de que os outros cursos não têm a mesma importância. Sabe-se que hoje o
sonho de todo cidadão brasileiro é ser professor de Português, Redação ou
Literatura. É ser formado em Letras. É ser chamado de “doutor” mesmo sem ter doutorado ou nem sequer pós-graduação. Além
do mais, quem garante que quando já estiverem formados esses alunos vão
continuar atuando ou mesmo até morando por aqui? Um absurdo a sociedade e o
Poder Público subentenderem essa “superioridade”
de um curso sobre outro. Todos os cursos são importantes e devem ter um só
tratamento. Já bastam as cotas sociais e raciais para ingressar nas
universidades.
Guardadas as devidas proporções,
essa ideia é a mesma usada pela organização do campeonato mundial de clubes da
FIFA. Os times sul-americano e europeu, por exemplo, já entram na semifinal do
torneio como se as equipes dos outros continentes tivessem uma importância
menor. É, portanto, um campeonato com cartas marcadas. O campeão e o vice serão
sempre da Europa ou da América do Sul. Algo surreal seriam dois alunos
paulistas, mineiros ou cariocas conversando: você vai a Rondônia cursar Letras?
Que nada, amigo! Não nasci lá, por isso não tenho chances. Esperemos que esses
mesmos Estados também não criem barreiras para que os alunos daqui, já formados,
tenham obstáculos para fazer residência médica, mestrado, doutorado ou
pós-doutorado. A ideia absurda de “primeiro
os meus, depois Mateus” não devia ser adotada numa Federação. E tomara que depois não criem
outras regras que excluam ainda mais.
*Foi
Professor em Porto Velho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário