Calama está sem
médico
Professor
Nazareno*
Talvez fosse difícil
imaginar Porto Velho sem médico. De uma hora para outra todos os profissionais
de medicina daqui deixaram de atender aos seus pacientes ou simplesmente foram
embora da cidade. Óbvio que isso é apenas no campo da ficção. Mas Calama, a
charmosa e encantadora vilazinha no baixo Madeira está sem médico há mais de
cinco meses e raríssimas providências foram tomadas até hoje para resolver este
gravíssimo problema, pelo menos muito grave para aquela comunidade. A “Veneza esquecida do Madeira” tem hoje
mais de três mil habitantes e é um centro de mais de cinco mil moradores
incluindo outras vilas menores como Demarcação no rio Machado, Papagaios,
Conceição do Galera, Maici e Ilha de Assunção. Como há trinta ou quarenta anos,
não existe ali um só médico. Entendi agora porque Calama é a Veneza esquecida.
Porto Velho tem um prefeito, um
vice-prefeito, secretários, várias autoridades e pelo menos 21 vereadores muito
bem instalados na Câmara Municipal e duvido que ali não haja muitos médicos e
outros bons profissionais para atender a todos. Não lembro qual dos políticos,
mas teve um deles que disse outro dia que ia amar, abraçar, acariciar e beijar
a cidade. Pensei que isso seria também aplicado aos distritos. Mas no caso da
vilazinha do Madeira a lorota não era pra valer. Calama tem pelo menos uns dois
mil eleitores cadastrados e ainda que não tivessem votado em nenhum dos
vereadores eleitos, não merecia esta triste situação. E mesmo que lá não
tivesse nenhum eleitor, não poderia nem deveria estar passando por esta situação
surreal, pois ali existem seres humanos bons, hospitaleiros, trabalhadores, íntegros,
corretos e todos são brasileiros.
Dizem que até fevereiro de 2018, o
Programa Mais Médicos do Governo Federal mantinha ali um profissional de saúde
e que por algum motivo saiu de lá. Mas deixar o bravo e ordeiro povo de Calama
sem médico por tanto tempo é de uma crueldade que afronta até a política
internacional de direitos humanos. A Comissão Interamericana de Direitos
Humanos da OEA deveria saber disto. Não só Calama, mas qualquer outro distrito,
vila, aldeia ou comunidade situada nos rincões deste Brasil necessita de
médico. Em Calama não há médico, não há dentista, psicólogo ou advogado. Caos:
o Posto de Saúde do distrito pode até ter remédios, mas só podem ser
distribuídos com prescrição médica. E como não há médico... Pessoas podem
simplesmente morrer de causas evitáveis e tudo por culpa de quem? O Poder
Público tem que ser responsabilizado, sim!
Estive em Calama recentemente e vi dentre
muitos dois casos que me chamaram a atenção. Igor Prestes, um jovem pescador
de uns 20 anos, foi picado por uma cobra e se não fosse levado às pressas para
Humaitá no Amazonas, teria ido a óbito. Em Calama parece que não existe soro
antiofídico e, claro, nem médico para prescrevê-lo. Ali se precisa contar muito
com a sorte. Minha comadre Safira também estava doente. O rosto inchado por
causas desconhecidas só melhorou depois de compressas de gelo. O que um
professor de Gramática entende de medicina? Pedi providências ao vereador Aleks Palitot. Solícito, ele me disse que vai buscar soluções. Eu pediria à
Prefeitura de Porto Velho e às autoridades responsáveis que se não podem mandar
médico para lá, criem a “Secretaria do
Ramo de Arruda” para pelo menos rezar e benzer o povo. Pior: quando voltei
no domingo, o porto estava fechado e tive que subir o barranco liso feito sabão.
*É
Professor em Porto Velho.
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