sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Xenofobia e truculência em Roraima

Xenofobia e truculência em Roraima


Professor Nazareno*

A cidadezinha de Pacaraima no extremo norte do Brasil deu recentemente para o Brasil e para o mundo a pior lição que se podia dar com relação a bons modos com os visitantes. Levas de pessoas iradas e dominadas pelo ódio cego agrediram imigrantes venezuelanos, incendiaram seus miseráveis acampamentos e os expulsaram de volta ao seu país. Toda a truculência dos brasileiros foi feita hipocritamente ao som do hino nacional. A confusão se deu porque dois venezuelanos foram acusados de roubar um supermercado local e de agredir seu dono. A acusação pode até ser verdade, já que cerca de 65 por cento da violência registrada na cidade envolve cidadãos do país vizinho. Porém, essa crueldade dos nossos cidadãos não se justifica, uma vez que “justiça com as próprias mãos” nos remete ao terror da Idade Média e ao Código de Hamurabi.
Um dos maiores produtores de petróleo do mundo, a Venezuela vive dias difíceis com o fracasso do bolivarianismo. O país está num colapso sem precedentes em sua História. Por isso, grande parte de seus 32 milhões de habitantes emigra do país em busca de melhores dias. A maioria vai para países de língua espanhola como Colômbia, Peru e Equador. Alguns vêm para o Brasil. Há registros de que pouco mais de 50 mil cidadãos de lá tentam a sorte no nosso país. A estupidez em Pacaraima não se  justifica por vários motivos: a imagem do Brasil de país bom acolhedor de todos os povos cai por terra. E num mundo cada vez mais globalizado, receber bem significa ter seus cidadãos também bem recebidos em qualquer parte do mundo. É tradição nossa acolher de maneira cortês e educada todo e qualquer cidadão estrangeiro em busca de refúgio.
Estranho isso ter acontecido. O Brasil é um país de imigrantes. O Estado de Roraima assim como Rondônia são lugares cuja população é formada por imigrantes. Brasileiros, assim como qualquer outro povo, emigram sempre que problemas sociais, políticos e econômicos atingem seus países. A Europa vive hoje o drama dos refugiados e esse fato sempre acontece e vai acontecer entre os povos. Muitos brasileiros fizeram fortuna vivendo no exterior depois que emigraram. O nosso Ministério das Relações Exteriores não gostou quando a truculência do governo de Donald Trump nos Estados Unidos separou pais e filhos, todos imigrantes ilegais. Governo nenhum, quer ver seus cidadãos sendo massacrados em outro país. Por isso, o governo de Nicolás Maduro exigiu do Brasil que desse tratamento adequado aos seus cidadãos em solo brasileiro.
O ódio em nosso meio parece ter virado uma rotina desde o fatídico golpe de 2016. Armar a população, rejeitar a mulher, o negro, os homossexuais e quilombolas têm sido mote de campanhas políticas, infelizmente. O Brasil avança em direção ao passado.  E retaliações já começaram a aparecer. A Bolívia, imaginem só, já proibiu o ingresso em seu país de cidadãos brasileiros que não tenham cartão de vacinação contra o sarampo, por exemplo. Eu não tenho e por isso não posso ir ao país vizinho. Se o Brasil continuar a receber mal os cidadãos de outros países, pagará com mesma moeda. O episódio de incivilidade de Roraima denigre sobremaneira a nossa imagem lá fora. Como festejar o “Brazilian Day” como fazemos nos EUA? Quando há a ameaça de se deixar a ONU ou se incita o ódio a outros povos nós perdemos créditos no mundo civilizado. Por isso, “é sempre preciso amar ao outro como se não houvesse amanhã”.




*É Professor em Porto Velho.

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