Xenofobia
e truculência em Roraima
Professor
Nazareno*
A cidadezinha de
Pacaraima no extremo norte do Brasil deu recentemente para o Brasil e para o
mundo a pior lição que se podia dar com relação a bons modos com os visitantes.
Levas de pessoas iradas e dominadas pelo ódio cego agrediram imigrantes
venezuelanos, incendiaram seus miseráveis acampamentos e os expulsaram de volta
ao seu país. Toda a truculência dos brasileiros foi feita hipocritamente ao som
do hino nacional. A confusão se deu porque dois venezuelanos foram acusados de
roubar um supermercado local e de agredir seu dono. A acusação pode até ser
verdade, já que cerca de 65 por cento da violência registrada na cidade envolve
cidadãos do país vizinho. Porém, essa crueldade dos nossos cidadãos não se
justifica, uma vez que “justiça com as
próprias mãos” nos remete ao terror da Idade Média e ao Código de Hamurabi.
Um dos maiores
produtores de petróleo do mundo, a Venezuela vive dias difíceis com o fracasso
do bolivarianismo. O país está num colapso sem precedentes em sua História. Por
isso, grande parte de seus 32 milhões de habitantes emigra do país em busca de
melhores dias. A maioria vai para países de língua espanhola como Colômbia,
Peru e Equador. Alguns vêm para o Brasil. Há registros de que pouco mais de 50
mil cidadãos de lá tentam a sorte no nosso país. A estupidez em Pacaraima não
se justifica por vários motivos: a
imagem do Brasil de país bom acolhedor de todos os povos cai por terra. E num
mundo cada vez mais globalizado, receber bem significa ter seus cidadãos também
bem recebidos em qualquer parte do mundo. É tradição nossa acolher de maneira
cortês e educada todo e qualquer cidadão estrangeiro em busca de refúgio.
Estranho isso
ter acontecido. O Brasil é um país de imigrantes. O Estado de Roraima assim
como Rondônia são lugares cuja população é formada por imigrantes. Brasileiros,
assim como qualquer outro povo, emigram sempre que problemas sociais, políticos
e econômicos atingem seus países. A Europa vive hoje o drama dos refugiados e
esse fato sempre acontece e vai acontecer entre os povos. Muitos brasileiros
fizeram fortuna vivendo no exterior depois que emigraram. O nosso Ministério
das Relações Exteriores não gostou quando a truculência do governo de Donald
Trump nos Estados Unidos separou pais e filhos, todos imigrantes ilegais.
Governo nenhum, quer ver seus cidadãos sendo massacrados em outro país. Por
isso, o governo de Nicolás Maduro exigiu do Brasil que desse tratamento
adequado aos seus cidadãos em solo brasileiro.
O ódio em nosso
meio parece ter virado uma rotina desde o fatídico golpe de 2016. Armar a
população, rejeitar a mulher, o negro, os homossexuais e quilombolas têm sido
mote de campanhas políticas, infelizmente. O Brasil avança em direção ao
passado. E retaliações já começaram a
aparecer. A Bolívia, imaginem só, já proibiu o ingresso em seu país de cidadãos
brasileiros que não tenham cartão de vacinação contra o sarampo, por exemplo.
Eu não tenho e por isso não posso ir ao país vizinho. Se o Brasil continuar a
receber mal os cidadãos de outros países, pagará com mesma moeda. O episódio de
incivilidade de Roraima denigre sobremaneira a nossa imagem lá fora. Como
festejar o “Brazilian Day” como
fazemos nos EUA? Quando há a ameaça de se deixar a ONU ou se incita o ódio a
outros povos nós perdemos créditos no mundo civilizado. Por isso, “é sempre preciso amar ao outro como se não
houvesse amanhã”.
*É
Professor em Porto Velho.
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