O Sírio-Libanês
de Rondônia
Professor
Nazareno*
Rondônia é um
rincão atrasado, subdesenvolvido e inóspito. Disso quase todo mundo que mora
aqui sabe. Talvez o que não se saiba é o porquê de tudo isso ser verdade. Por
que um Estado que detém os melhores índices na agropecuária e se situa entre
dois biomas conhecidos mundialmente apresenta números tão frágeis quando se
trata de IDH? Temos água potável em abundância, temos um rebanho bovino
invejável, temos grandes extensões de terras agricultáveis, temos muitos outros
recursos naturais. Por que um Estado com toda esta riqueza e que tem uma
população minúscula não consegue dar a ela uma qualidade de vida pelo menos
razoável? Somos um fracasso na Educação, na Segurança Pública e também na
Saúde. Por que este Estado, por exemplo, tem que conviver ainda com um hospital
como o João Paulo Segundo de Porto Velho?
O “velho açougue” é uma vergonha, não somente para Porto Velho e
Rondônia, mas para todo o Brasil. Recentemente o Coren-RO, Conselho Regional de
Enfermagem de Rondônia, denunciou pela milésima vez as más condições daquele
estabelecimento público de saúde. O que acontece ali poderia ser denunciado ao
mundo, pois é um verdadeiro desrespeito à dignidade humana. Pacientes
esparramados pelo chão, jogados em macas improvisadas, falta de médicos, de
enfermeiros e de outros profissionais da saúde é o que se relata. Parece um
hospital de um país em guerra. Se a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
da OEA visitasse o João Paulo poderia constatar in loco como as autoridades
rondonianas tratam os seus pacientes mais pobres. Sim, porque as pessoas mais
endinheiradas querem distância daquele verdadeiro inferno.
O Coren-RO constatou o óbvio na
visita que fez: superlotação, pacientes “internados”
pelos corredores, em áreas externas e em condições insalubres. E as
autoridades, o que têm feito para sanar esta vergonhosa situação? Confúcio
Moura no início de seu governo trouxe até a rede Globo para fazer reportagens
sobre o “açougue”. Passou oito anos
governando o Estado e mudou o que ali? De campo de concentração, passou a ser
campo de extermínio de pobres. Essa foi talvez a única mudança verificada. Hitler
matava judeus, em Rondônia se matam pobres. Outros governadores também viram o
problema e deram de ombros. Ironia: quase todos os políticos e autoridades deste
Estado devem ter bons planos de saúde. Estamos agora em plena campanha política.
Alguns candidatos vão lá prometer mundos e fundos e depois esquecem tudo.
Infelizmente o Hospital João Paulo
Segundo de Porto Velho vai continuar assim por muito tempo. Só pobres e pessoas
com pouquíssima leitura de mundo é que usam suas dependências. Pior: já vi gente
aplaudindo aquele caos. “O hospital João
Paulo Segundo salva muitas vidas, graças a Deus”, falam alguns ignorando
que ninguém salva a vida de ninguém, apenas se for competente adia a morte.
Claro que algumas pessoas conseguem sair vivas de lá. Conheço algumas,
inclusive. Mas este pensamento conformista só adia melhores soluções para
aquele “açougue”. Óbvio que muitos
profissionais de João Paulo se esmeram em fazer o melhor dentro de um ambiente
com poucas condições para funcionar. São heróis, portanto. Entendi porque a
vilazinha de Calama no baixo Madeira não tem médico há seis meses. “Senhores candidatos, o Sírio-Libanês de
Rondônia precisa de soluções urgentes. Não deixem seus eleitores morrer”.
*É
Professor em Porto Velho.
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