Minha cidade
precisa de...
Professor
Nazareno*
De tudo. A minha cidade é um lugar
perdido no tempo e no espaço. Além de feia
é imunda e fedorenta. Muito fedorenta. Precisa de tudo para ser pelo menos
comparada a uma cidade de verdade. Daquelas da Europa, dos Estados Unidos ou
mesmo do sul do Brasil. Com pouco mais de 500 mil habitantes e ainda muito
jovem com apenas um século de existência, a minha cidade é uma das antessalas
do inferno. Essa minha cidade até o diabo enjeitaria e jamais gostaria de morar
nela, mesmo que tivesse muitas almas à sua disposição. Sempre foi muito mal
administrada desde os tempos de sua criação no início do século passado. Nasceu
por acaso e ainda hoje não se sabe o fato real que deu nome a uma das piores
capitais do Brasil para se viver. Curva de rio, nela aporta toda qualidade de
gente sem o menor amor ao lugar. Um velho oeste.
Sem água tratada, sem esgotos, sem
saneamento básico, sem coleta seletiva de lixo, sem arborização, sem praças,
sem recantos de lazer e quente feito o purgatório, a minha cidade agoniza agora
no verão com a fumaça das criminosas queimadas e da poeira sufocante. Porém, as
autoridades eleitas para administrar o lugar procuram compensar a incompetência
com engodos e enganações para iludir trouxas e simplórios. Por isso, muitos moradores
creem cegamente que moram numa cidade civilizada, com boa mobilidade urbana e
com infraestrutura adequada. Imaginem se eles morassem numa cidade de verdade
onde quase tudo funcionasse. Durante as eleições, por exemplo, muitos de seus
moradores brigam por causa dos seus candidatos. Nas convenções partidárias,
eles se pegam na tapa por causa de seus políticos de estimação.
Minha cidade precisa de mais amor,
coisa muito rara de ser demonstrada pelos seus ingratos moradores. Precisa de
mobilidade urbana, rede de esgotos, recantos de lazer e não de letreiros
estúpidos para ludibriar eleitores idiotas como os que fizeram em vários pontos.
Como no restante do Brasil, pelo menos 80 por cento dos moradores desta minha
cidade são ignorantes, porcos e só servem como massa de manobra para os
ambiciosos e astutos políticos de plantão. Minha cidade não tem um porto decente,
uma rodoviária que preste e um hospital de pronto socorro. O acanhado
aeroporto, que dizem ser internacional, só faz voos para dentro do Brasil
mesmo. Se pelo menos um dos políticos que administrou a “currutela fedida” fosse filho dela, talvez não tivéssemos a triste
sina de ter o satanás como protetor. A minha cidade é o próprio inferno na
terra.
Última dobra do esfíncter anal, ela
não tem importância nenhuma na triste realidade do país. É um lugar ermo, sem
eira nem beira onde nenhum turista de bom senso desejaria visitá-la. Vir à
minha cidade só se for a negócios. E negócios rentáveis. Ou então para ser
candidato a algo. Minha cidade não tem nenhum atrativo turístico e seus
políticos são quase todos mentirosos, incompetentes, ladrões e encantadores de jumentos.
Mas são todos amados e idolatrados pelos eleitores. Na minha cidade não tem
cultura, não tem lazer, não tem esportes, não tem mobilidade urbana, não tem
educação de qualidade e não tem saúde pública. Mas tem muita violência, pobreza
e ignorância. Sua rotina é lama ou poeira. Seus moradores dizem que odeiam a
corrupção, mas raramente votam em políticos honestos. Seu nome devia ser “Meia-Boca”, pois quase tudo dela foi “feito nas coxas”. E ela é uma capital. Agora
só falta a Anitta cantar nela.
*É
Professor em Porto Velho.
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