Outra retrospectiva
sinistra
Professor
Nazareno*
O escritor Zuenir Ventura escreveu o
livro “1968: o ano que não terminou”.
Na obra, o jornalista fala sobre as atrocidades cometidas pela infame, cruel e
nefasta Ditadura Militar que imperou no Brasil entre 1964 e 1985. Comparações à
parte, o presente ano de 2020 que ora se encerra tão cedo também não terminará.
Em Porto Velho, em Rondônia, no Brasil e no mundo o que se viu foi um rosário
de amarguras e desgraças que ficará para sempre marcado nos corações e mentes
de quem conseguiu sobreviver a este macabro ano de desventuras. Enquanto o
mundo se curvou diante da terrível pandemia da Covid-19, em Rondônia e no
Brasil as desgraças se multiplicaram. Primeiro com o Coronavírus e depois com a
insensatez, a incompetência, o escárnio, a maldade, o deboche, o desrespeito, a
perversidade e o pouco caso dos seus governantes.
Se Jair Bolsonaro foi uma desgraça
que sequer merece ser lembrada na história deste país, em Rondônia também não
tivemos nenhum acontecimento digno de ser rememorado. A pandemia, por exemplo,
avançou sem tréguas nas “terras de Rondon”
e continuou escancarando as deficiências do nosso frágil sistema de saúde. O
eterno e inóspito “açougue” João
Paulo Segundo de Porto Velho deu prosseguimento à maldade, à crueldade, à
irresponsabilidade e também à matança do povo pobre daqui. Isso apesar de ter
recebido, só mesmo no papel e nas promessas, uma doação de 50 milhões de reais
do Tribunal de Contas do Estado. Não há retrospectiva nenhuma em Rondônia em
2020, pois o filme de desgraças, caos e infortúnios continuou a desfilar suas
amostras bizarras como em anos anteriores. E para variar, ainda tivemos os “Lebrões” da vida entre nós.
Porto Velho não teve nenhuma
novidade no horroroso ano que se encerra: continuou suja, fedorenta e imunda,
sem redes de esgotos, sem água tratada, com precários serviços urbanos como a
coleta de lixo, sem saneamento básico, violenta e sem nenhuma mobilidade
urbana. Até as poucas árvores da capital foram exterminadas pela Sema, uma
secretaria do município que devia estar preocupada com a preservação do meio
ambiente. A partir de agora, o calor vai aumentar consideravelmente numa cidade
já quente, abafada e sem ventilação. Pior: os eleitores da castigada urbe deram
amostras de estarem perfeitamente conformados e satisfeitos com a desgraceira
do dia a dia: prorrogaram por mais quatro anos o sofrimento e a angústia. São
hienas rindo ao comer carne podre. Como sempre, boas opções não havia. “Era o diabo ou a mãe dele”.
É tanto infortúnio, tanto descaso,
tanta maldade e tantas misérias no Brasil que sequer temos uma tênue esperança
de quando vão começar a vacinar os brasileiros contra a pandemia. Enquanto
isso, o mundo civilizado já começou a imunizar seus cidadãos. Em Porto Velho e
em Rondônia não se sabe nem o que é vacina nem para que serve. Se o ano de 2020
definitivamente não foi bom para o mundo, imagine-se para o Brasil, para
Rondônia e para Porto Velho. Tudo por aqui foi uma tragédia repetida, já
anunciada. Não há na língua portuguesa um único adjetivo que qualifique os
últimos 12 meses vividos nestes distantes e esquecidos lugares. Como numa guerra
fratricida e desumana, os que conseguiram escapar já se dão por vencedores.
Nossas mais sinceras condolências aos familiares dos mortos que foram vítimas
da cruel pandemia. Enquanto isso, continuaremos
na peleja, pois se 2020 já foi péssimo, imagine-se o que virá depois.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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