Prefeito “desarborizador”
Professor
Nazareno*
Falar mal de
Porto Velho é uma das coisas mais fáceis do mundo. E nem precisa dar sugestões para
a melhoria da cidade, pois aqui o lodo já é paisagem natural. O lugar parece
que nasceu para ser podre e imundo mesmo. O Instituto Trata Brasil não se cansa
de publicar o ranking das piores cidades do Brasil em saneamento básico e água
tratada. Com mais de cem anos de existência, essa cidade fica sempre nas
últimas colocações. Uma voltinha pelas esburacadas ruas sente-se logo a catinga
de água podre que escorre das muitas valas a céu aberto. A Avenida Jorge
Teixeira, por exemplo, porta de entrada da capital, é um esgoto nojento, sujo e
fedido. Do centro à periferia, dos bairros nobres às favelas o que se percebe é
muita sujeira, lixo, ratos, urubus, falta de esgoto e muita merda. Entra
prefeito e sai prefeito e essa cruel realidade infelizmente não muda nunca.
Outro problema
terrível por aqui é a falta de arborização. Mesmo se situando no meio da maior
floresta tropical do mundo, Porto Velho é uma cidade sem árvores e sem
organização urbanística nenhuma. O calor no verão é de matar qualquer cristão.
E nenhum prefeito até hoje se preocupou em arborizar a cidade. Pelo contrário,
arrancam sem dó nem piedade as poucas árvores que há. Fala-se que no início da
década de 1970, o então prefeito nomeado de Porto Velho, Odacir Soares, teria
mandado arrancar todas as árvores centenárias da Avenida Sete de Setembro bem no
centro da suja, quente e desarborizada capital. Não sei se é verdade, o fato é
que se ele não fez isso pelo menos é lembrado assim até hoje. Infelizmente esse
pouco caso com a natureza não é coisa só do passado. Agora foi o prefeito Hildon
Chaves que protagonizou uma nova destruição.
Mais de 100
árvores, que formavam um lindo tapete verde na Avenida Tiradentes, foram
simplesmente devastadas e arrancadas pela raiz. A Sema, secretaria que deveria
defender o meio ambiente, justificou a insensatez dizendo que aquelas árvores
não eram adaptáveis para o meio urbano e que suas raízes estavam ameaçando
casas e construções. Mas não mostrou nenhuma residência ou outro prédio que
estava prestes a cair por causa delas. Será verdade? E a lorota de que as
raízes podem danificar a rede de esgotos? Como assim, se não há esgotos por lá?
Nem lá nem na cidade inteira. A sombra, o bate-papo, o ar mais puro, coisas
boas que ironicamente a própria Sema reconhece, não mais existirão ali. Dizem que
vão plantar outras árvores no lugar. Quem nos garante que daqui a 30 anos os “sábios” do futuro não vão também
exterminá-las?
Estranho é
observar que esse “genocídio botânico”
aconteceu logo depois das eleições. Por que será? Por que não fizeram a desgraceira
antes? Os moradores do bairro Pedacinho de Chão e adjacências foram
consultados? Lamentável, mas demorará mais uns 30 ou 40 anos para voltarem os
benefícios proporcionados por aquelas saudosas árvores. Não é exagero, elas davam
um aspecto de Primeiro Mundo à suja e maltratada capital. Quem vendeu essas árvores
para a prefeitura plantar no passado? E quem venderá agora as “árvores corretas”? Sem esgotos e sem
água tratada, Porto Velho sucumbe também sem árvores. Porém, os puxa-sacos do
prefeito inundam as redes sociais dando razão ao alcaide sem lembrarem que o
calor só vai aumentar numa cidade já quente. E não reclamem! Se esse prefeito
fosse governador, pobres florestas daqui! Coitado do nosso meio ambiente! Vá
morar em Miami, homem! Mas leve a Sema junto!
*Foi
Professor em Porto Velho.
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