A sujeira rondoniense
Professor
Nazareno*
“Toda
unanimidade é burra. Quem pensa com a
unanimidade não precisa pensar”, disse certa vez o dramaturgo Nelson
Rodrigues. Se levarmos em conta o Carnaval da Banda do Vai Quem Quer e dos
blocos carnavalescos que desfilam na cidade de Porto Velho no mês de fevereiro,
chega-se à triste conclusão de que o cidadão porto-velhense é muito imundo
mesmo. Não todo cidadão, mas pelo menos aqueles que vão às ruas durante a folia
de Momo. Toneladas e mais toneladas de sujeira são jogadas por eles nas já
sujas e imundas ruas da cidade. Estive este ano na banda e vi o desleixo que se
tem pela cidade. Há quatro anos que vou no domingo pela manhã, logo cedo, fazer
fotos da sujeira e da imundície que a famosa banda deixa de “presente” para a municipalidade. Neste
tempo, quase nada mudou. Apenas a quantidade que só aumenta.
Todo rondoniense não é sujo, claro.
Muitas das cidades do interior do Estado de Rondônia são até limpas e
higiênicas. Cacoal, Vilhena e Ouro Preto são exemplos de cidades bonitas e
asseadas. Mas há outras bem menores que se esmeram na limpeza. Nem se comparam
com a porca Porto Velho. Além disso, algumas delas têm flores, muitas flores em
suas arborizadas ruas, praças e canteiros. Se parecem com as cidades do sul do
Brasil como Blumenau, Gramado, Canela e Curitiba. Guardadas as devidas
proporções, em alguns casos, podem ser compradas com cidades da Europa. Porto
Velho não tem comparação. A sujeira é tanta que esta capital sempre se pareceu
com uma filial do inferno. Uma cidade habitada só por porcos. Haja bosta e urina
nas ruas. Não é à toa que é a pior em esgotos dentre as capitais do Brasil com menos
de 2%.
E a culpa não é somente do prefeito
e das autoridades. Todos nós moradores temos uma parcela de responsabilidade no
lodaçal que é esta capital. Há casos em que o cidadão sequer limpa o mato na
entrada de sua residência. A cidade também não tem árvores, embora se situe em plena
floresta amazônica. Pouquíssimas ruas são arborizadas. A Avenida Jatuarana, por
exemplo, do início até o final na Avenida Campos Sales não tem uma só árvore
plantada. Na época do calor, andar nela se torna algo insuportável. Outras ruas
como a Calama, no sentido Leste/Oeste, talvez a maior rua da cidade, também não
tem uma só árvore em seu longo trajeto. Carlos Gomes, Pinheiro Machado e Sete
de Setembro igualmente não têm nada de sombra para amenizar o calor. No verão, a
cidade vira um suplício. Caos: “lixo dá
emprego a gari”.
Os filhos daqui e os que dizem ser “filhos de coração” deveriam colaborar
mais um pouco com o seu lugar. Por que a Banda do Vai Quem Quer não distribui
todo ano sacolas para os foliões recolherem o lixo que produzem? Os donos dos
blocos deviam fazer o mesmo se amam a cidade como dizem. Nada contra o
Carnaval, mas o Poder Público mandar garis limparem aquilo com o dinheiro dos
impostos que eu pago não é justo. Eu e muitos outros cidadãos que não foram às
ruas durante o Carnaval. Até por que os garis não limpam aquilo de graça num
dia de domingo. O rondoniense não é sujo, mas muitos foliões de Porto Velho são
“porcos imundos” que não mereciam
morar na cidade que vive com bueiros entupidos. Conheço muitas cidades do
Primeiro Mundo e duvido que lá eles produzam tanta nojeira assim nos seus
desfiles. Todos sabem que lixo e sujeira são sinônimos de povo subdesenvolvido,
atrasado e de lugar abandonado.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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