Coronavírus
rondoniense
Professor
Nazareno*
Zé Beiradeiro é
um rondoniense nato. Muito religioso e defensor da família, ele acredita que a
terra sempre foi plana e que todas as doenças são um desígnio de Deus, “o pai
todo poderoso de todos nós”. Zé, talvez por ter poucos recursos financeiros
e quase nenhuma leitura de mundo, nunca saiu de Porto Velho ou de Rondônia.
Sobre o tal Coronavírus, ele já disse para todo mundo que quis lhe ouvir que
isso é apenas uma invenção das televisões e jornais mais importantes, ou seja, da
grande mídia. Zé está um pouco adoentado agora e por isso foi ao único hospital
que já conheceu em toda a sua vida. Trata-se do “açougue” João Paulo Segundo de Porto Velho, onde acredita que
existem médicos muito inteligentes e capacitados para curar qualquer tipo de
doença. “Todos esses médicos foram
formados nas escolas daqui mesmo”, acredita o simplório.
Por ter uma
religião, Zé das Beiradas acredita piamente que esse Coronavírus, se existir
mesmo, jamais chegará por aqui. “Porto
Velho é do Senhor Jesus”, diz confiante. Por isso, esse capiau tem a certeza
de que “nada de mal acontecerá com esta
cidade abençoada nem com os seus habitantes inclusive aqueles que não têm fé”.
E costuma tranquilamente ensinar em sua prosa que “mesmo que o vírus insolente chegasse aqui, todos nós, os bravos
bandeirantes de Rondônia, enfrentaríamos ele com os nossos terçados”. Além
do mais, acredita esse “Zé da Roça”
que sendo Rondônia uma potência na religião podem-se dispensar remédios e
vacinas que “para nada servem”. Basta
juntar alguns pastores em um culto e levar todas as pessoas infectadas para lá
que a doença seria exterminada. “É na
igreja que resolvo todos os meus males”, diz convicto.
Zé também
acredita que Rondônia já tenha experiência suficiente com hospitais lotados e
por isso não teria problema algum com este negócio de vírus inventado. “O estresse aqui seria mínimo nestes casos”.
Ele diz que na Itália e em outros países desenvolvidos do mundo o sofrimento é
maior porque lá as pessoas não sabem conviver com estas precariedades. “Aqui em Porto Velho, temos até escolas que
não funcionam e já estão em quarentena há tempos sem nem precisar de
Coronavírus”, filosofa. Numa
coisa concordamos com o nosso rondoniense matuto: esse negócio de vírus
importante é conversa de Primeiro Mundo. Só se preocupa é quem foi à China, à
Itália e aos Estados Unidos. Ou seja, os ricos. Pobre que só visita Porto Velho
se preocupa é com piolho, vermes, zika, dengue, malária, diarreia, brotoeja,
pira, potó, mutuca, carapanã e maruim.
O Zé rondoniense
acredita que a distância e a pouca importância de Porto Velho e de Rondônia
podem manter essa doença muito longe daqui. De fato: para este lugar fedido,
sujo, feio, sem organização, violento, sem eira nem beira só vem quem tem muita
necessidade mesmo: parentes ou negócios. Também vem para Porto Velho e para
Rondônia quem quer entrar na política e “encher
as burras” de dinheiro. Já disseram ao Zé Beiradeiro que vírus é um troço
muito inteligente. “Então o povo daqui tem
que se orgulhar de morar nesse lugar e se acalmar, pois está mais do que
comprovado que jamais essa praga viria a esse fim de mundo distante e
incivilizado”. Zé está um pouco chateado por que algumas pessoas incrédulas
duvidaram que o seu herói, o presidente Jair Bolsonaro, pudesse ter sido
infectado com o vírus. “Um homem mandado
por Deus para salvar o Brasil e os
brasileiros está acima dessas tolices”, avisa o nosso filósofo.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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