O JBC de ladeira
abaixo?
Professor
Nazareno*
A Escola João
Bento da Costa de Porto Velho nos últimos vinte anos foi considerada uma das
melhores escolas públicas de Rondônia. Na época do vestibular para ingresso na
UNIR, a Universidade Federal de Rondônia, seus alunos sempre conseguiram vagas
para qualquer curso daquela instituição. No Enem, não é diferente. Na última
realização do Exame Nacional de Ensino Médio, por exemplo, muitos de seus
alunos conseguiram se destacar com notas altas principalmente em Redação. Foram
vários casos de alunos que ultrapassaram os 900 pontos. E a rotina da escola
sempre proporcionou a “seus meninos”
o que de melhor existe em preparação tanto para a vida como para a realização de
uma prova difícil como é o Enem. Por isso, vários de seus estudantes já
entraram em universidades particulares e públicas espalhadas pelo Brasil.
Porém sou suspeito para falar bem
daquela instituição ensino, pois trabalhei lá por longos vinte anos e sou,
junto com outros colegas professores, um dos fundadores do Projeto Terceirão na
escola pública, que funciona nessa escola e dispensa quaisquer comentários.
Hoje, já aposentado, gostaria de continuar falando bem da escola que me recebeu
tão bem durante tanto tempo. E o faço, pois sei que a habilidade dos
professores que deram continuidade ao trabalho de excelência lá realizado é
algo ímpar. Competência, dedicação, amor ao trabalho, apego ao conhecimento e
acima de tudo compromisso com a coisa pública apesar dos salários irrisórios
que recebem para desenvolver sua faina. Mas em 2020, a Escola João Bento da
Costa de Porto Velho sequer iniciou suas aulas para o atual ano letivo. E não
foi a ameaça pelo Coronavírus.
As escolas particulares de Porto
Velho não deviam, mas se quiserem podem até comemorar a paralisação do JBC. Terão
um concorrente de peso a menos com que se preocupar. As aulas em toda a rede
estadual de ensino iniciaram no dia seis de fevereiro e há previsões, incertas,
de que no João Bento só iniciarão no próximo dia 16 deste mês. Mas quase
ninguém acredita, pois várias previsões já foram feitas sem que se cumprisse
nenhuma das datas anunciadas. Os alunos que infelizmente se matricularam no JBC
este ano estão de quarentena sem que o Coronavírus tivesse ainda chegado por
aqui. Em outras escolas públicas como a Tiradentes da Polícia Militar e o Major
Guapindaia, dentre muitas outras, as atividades letivas já iniciaram e os
alunos, com garra, já estão perto de terminar o primeiro bimestre. “Circunstâncias” impedem o JBC de
funcionar.
Vergonha: num país onde a educação,
principalmente a pública, não tem nenhuma qualidade, impedir o bom
funcionamento de uma escola que mostra serviço como o JBC de Porto Velho parece
ser prioridade: lá não param as “reformas”. Ali já dei aulas em meio à poeira, marteladas
e barulho de construção. Os professores não têm culpa. Os pais dos alunos também
não. A Direção da escola idem. O Corpo de Bombeiros não tem culpa. A defesa
Civil não tem culpa. A SEDUC não tem culpa. O Suamy não tem culpa. O Coronel Marcos
Rocha também não tem culpa, mas os alunos do João Bento estão vergonhosamente
sem aulas há mais de um mês e por isso já foram prejudicados para o próximo
Enem. Ontem, essa escola era manchete por causa dos resultados de seus bons
alunos. Hoje, porque os impede de ter aulas. Como serão amanhã as manchetes dessa
escola pública que sempre honrou o nome deste Estado?
*Foi
Professor em Porto Velho.
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