Educação
sabotada
Professor
Nazareno*
Sou professor de
Redação e de Língua Portuguesa. Já completei 41 anos de sala de aula. Trabalho
vendendo meus conhecimentos no setor público e também no privado. Desde o
longínquo ano de 1976 que leciono e neste período vi que quase nada mudou na
estrutura da educação no Brasil. Ainda temos hoje em pleno século XXI um dos
piores sistemas de educação do mundo. Porém a nossa educação cumpre
rigorosamente o seu papel: foi feita para não funcionar e realmente não funciona
mesmo. Ditados pela elite conservadora e reacionária, os objetivos do nosso
sistema educacional reproduzem fielmente a realidade social preconizada por
Gilberto Freyre em seu livro Casa Grande e Senzala. A educação pública é
péssima, horrível e não ensina nada a ninguém. Mas na rede particular não há
muita diferença, já que são todas “farinha
do mesmo saco”.
Desde sempre, a
maioria dos meus alunos ao término do Ensino Médio, por exemplo, não sabe ler
nem escrever. Muitos infelizmente nem sabem grafar o próprio nome. Têm
dificuldades de entender um simples texto e tropeçam nas mais elementares
sentenças matemáticas. Sem leitura de mundo e sem conhecimentos básicos não
estão preparados para enfrentar a vida. E quase todos eles acham que são
culpados por esta tragédia, por este caos. Mas não são. A deficiência do nosso
sistema educacional foi plantada há tempos. A precariedade de nossas escolas é
ideológica, proposital mesmo. Darcy Ribeiro teria dito que “uma nação que não constrói escolas deveria
construir presídios”. E não se enganou. Vejam: desde o final do século
dezenove que os Estados Unidos criaram o sistema integral de ensino em suas
escolas. E o que são hoje os EUA?
Infelizmente a
classe política é corresponsável por toda esta desgraça. Os nossos políticos
são marionetes do sistema empresarial e elitista que sempre mandou no país e
consequentemente em todas as nossas escolas. Sistema esse com uma mentalidade
tacanha e retrógrada que aposta no atraso e na ignorância para continuar
mandando em todos. Confúcio não é o governador de Rondônia. Hildon Chaves não é
prefeito de Porto Velho. Michel Temer não é o presidente do Brasil. Todos eles
são marionetes, são apenas gerentes de um sistema maior chamado “establishment”. Dar ao povo uma educação
de qualidade para quê? Para tirá-lo da miséria? Para fazê-lo protagonista da
sua própria História? Nossas escolas têm que ser ruins mesmo, fracas, podres.
Mas há saída: escolas integrais e o compromisso de todos podiam ser a “salvação da lavoura”.
Muitos dos nossos
professores infelizmente têm culpa também por este caos. Vários deles são
eleitores do Bolsonaro e do Lula e defendem ardorosamente a militarização das
escolas, pois sem competência para disciplinar seus alunos, creem que ordem
unida, hierarquia, fardamento e repressão são pré-requisitos para uma educação
de qualidade. Conheço muitos colegas semianalfabetos e despolitizados que
defendem o absurdo sem compreender que a ideologização militar é parte de uma
estratégia criada para impor ainda mais ideias atrasadas e retrógradas às
nossas crianças. Nossos jovens não precisam prestar continência a ninguém, usar
fardas, nem saber cantar hinos toscos para ter sucesso na vida. Precisam da boa
leitura e de informações. Patriotismo é o pior dos sentimentos coletivos, pois
leva ao Nazismo e ao Fascismo. E muitos educadores parecem hoje querer isso.
Até quando teremos de nos submeter ao que nos é imposto?
*É
Professor em Porto Velho.
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