domingo, 6 de agosto de 2017

O Beni é uma desgraça


O Beni é uma desgraça


Professor Nazareno*
           

Com pouco mais de três décadas de existência, a jovem província do Beni é uma das piores periferias do capitalismo mundial. Confundida com uma província homônima, também mais outra das terríveis periferias da nação, a bisonha e sinistra unidade da federação nasceu e foi praticamente colonizada pelo que de pior existe no resto do país. Com uma vasta extensão territorial, o Beni é maior do que muitos países civilizados e desenvolvidos do mundo como a Inglaterra e a Coreia do Sul, por exemplo. Tem uma população tão pequena que caberia numa cidade como Campinas no interior paulista, mas mesmo assim não consegue dar uma boa qualidade de vida ao seu povo. Situada estrategicamente entre dois biomas reconhecidos mundialmente como a Amazônia e o Cerrado, o pouco que se produz lá é à base da devastação ambiental.
Só na região de sua suja e imunda capital Trinidad, existem três grandes hidrelétricas que abastecem o Sul e o Sudeste do país com energia boa, abundante e barata enquanto na cidade se paga uma das tarifas mais altas. Na província, é difícil dizer o que é pior. Muitos dizem que são os políticos. De fato, dos poucos deputados federais que ainda existem, pelo menos cinco deles votaram para salvar o inexpressivo, impopular e golpista presidente do país. E devido a pouca ou nenhuma memória dos seus parvos eleitores, todos eles serão tranquilamente reeleitos a partir de 2018. Político em Trinidad trabalha só seis meses e já tira férias normalmente. Foi o que aconteceu com o atual prefeito, que viajou para Disney e Paris e deixou no seu lugar o vice, que está vergonhosamente enrolado até o pescoço em denúncias de corrupção e maracutaias.
 Mas como quase ninguém falou nada, a “carruagem” seguiu tranquilamente o seu curso. Parece até que os habitantes daquela cidade adoram ser governados por essa gente. Mas muito eleitor está espantado, pois na Câmara de Vereadores de Trinidad e na Assembleia Legislativa da província não acontece um escândalo de corrupção há mais de um ano. Será que os parlamentares estão doentes? Embora seja uma porcaria, uma desgraça, quase todos os habitantes de Trinidad dizem que amam a sua cidade. Vivendo confortavelmente em outros lugares pelo país, adoram escrever textos pífios defendendo o torrão de onde saíram há tempos. No Beni não existe turismo nenhum, óbvio, e talvez por isso as passagens aéreas são as mais caras do país. Ninguém é louco de querer ir para lá por que de lá quase não se pode sair.  O Beni é o inferno. Não é irônico isso?
No Beni não tem futebol nem estádio de respeito. Até numa vizinha província há times de futebol bem melhores e tem uma majestosa arena de jogos. A não ser que se acredite na lorota de que o “Oãziula” seja um estádio e que clubes da “série Z” sejam times de futebol. Piada pronta: sem nenhum clube de vôlei, handebol ou basquete,  Trinidad tem estranhamente um caro, suntuoso e desnecessário ginásio de esportes. Não há universidade estadual no Beni e o curso de Medicina da única instituição pública de nível superior de lá funciona há tempos sem um Hospital Universitário. Já a única unidade de pronto socorro da capital é um campo de extermínio de pobres. Hitler se orgulharia dela. As autoridades e os mais endinheirados fogem dali como o diabo foge da cruz. Estamos na estação da poeira e da fumaça com quase 40ºC à sombra e umidade abaixo dos 30%. Se o Beni não é uma desgraça, então só pode ser a morada do Satanás.





*É Professor em Porto Velho.

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