O Beni é uma
desgraça
Professor
Nazareno*
Com pouco mais de
três décadas de existência, a jovem província do Beni é uma das piores
periferias do capitalismo mundial. Confundida com uma província homônima, também
mais outra das terríveis periferias da nação, a bisonha e sinistra unidade da
federação nasceu e foi praticamente colonizada pelo que de pior existe no resto
do país. Com uma vasta extensão territorial, o Beni é maior do que muitos
países civilizados e desenvolvidos do mundo como a Inglaterra e a Coreia do
Sul, por exemplo. Tem uma população tão pequena que caberia numa cidade como
Campinas no interior paulista, mas mesmo assim não consegue dar uma boa
qualidade de vida ao seu povo. Situada estrategicamente entre dois biomas
reconhecidos mundialmente como a Amazônia e o Cerrado, o pouco que se produz lá
é à base da devastação ambiental.
Só na região de
sua suja e imunda capital Trinidad, existem três grandes hidrelétricas que
abastecem o Sul e o Sudeste do país com energia boa, abundante e barata
enquanto na cidade se paga uma das tarifas mais altas. Na província, é difícil
dizer o que é pior. Muitos dizem que são os políticos. De fato, dos poucos deputados
federais que ainda existem, pelo menos cinco deles votaram para salvar o
inexpressivo, impopular e golpista presidente do país. E devido a pouca ou
nenhuma memória dos seus parvos eleitores, todos eles serão tranquilamente
reeleitos a partir de 2018. Político em Trinidad trabalha só seis meses e já tira
férias normalmente. Foi o que aconteceu com o atual prefeito, que viajou para
Disney e Paris e deixou no seu lugar o vice, que está vergonhosamente enrolado
até o pescoço em denúncias de corrupção e maracutaias.
Mas como quase ninguém falou nada, a “carruagem” seguiu tranquilamente o seu
curso. Parece até que os habitantes daquela cidade adoram ser governados por
essa gente. Mas muito eleitor está espantado, pois na Câmara de Vereadores de
Trinidad e na Assembleia Legislativa da província não acontece um escândalo de
corrupção há mais de um ano. Será que os parlamentares estão doentes? Embora
seja uma porcaria, uma desgraça, quase todos os habitantes de Trinidad dizem
que amam a sua cidade. Vivendo confortavelmente em outros lugares pelo país,
adoram escrever textos pífios defendendo o torrão de onde saíram há tempos. No Beni
não existe turismo nenhum, óbvio, e talvez por isso as passagens aéreas são as mais
caras do país. Ninguém é louco de querer ir para lá por que de lá quase não se
pode sair. O Beni é o inferno. Não é irônico
isso?
No Beni não tem futebol nem estádio de
respeito. Até numa vizinha província há times de futebol bem melhores e tem uma
majestosa arena de jogos. A não ser que se acredite na lorota de que o “Oãziula” seja um estádio e que clubes da
“série Z” sejam times de futebol. Piada
pronta: sem nenhum clube de vôlei, handebol ou basquete, Trinidad tem estranhamente um caro, suntuoso e
desnecessário ginásio de esportes. Não há universidade estadual no Beni e o curso
de Medicina da única instituição pública de nível superior de lá funciona há
tempos sem um Hospital Universitário. Já a única unidade de pronto socorro da
capital é um campo de extermínio de pobres. Hitler se orgulharia dela. As
autoridades e os mais endinheirados fogem dali como o diabo foge da cruz. Estamos
na estação da poeira e da fumaça com quase 40ºC à sombra e umidade abaixo dos
30%. Se o Beni não é uma desgraça, então só pode ser a morada do Satanás.
*É Professor em Porto Velho.
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