terça-feira, 29 de agosto de 2017

Terra dos apagões


Terra dos apagões


Professor Nazareno*


Rondônia tem três grandes hidrelétricas, mas na sua capital Porto Velho a falta de energia tem sido uma constante ultimamente. Em menos de 15 dias verificaram-se dois terríveis apagões trazendo, óbvio, alguns transtornos para moradores e para o comércio. Mas a caboclada já está se acostumando tranquilamente ao caos. Para uma capital de Estado que detém o nada invejável título de “antessala do inferno” ficar no escuro quente por alguns poucos minutos parece ser coisa normal. E como para muitos porto-velhenses “não falta energia durante o dia”, alguns só perceberam o primeiro apagão por que foi à noite. Energia é um bem de consumo supérfluo e quase dispensável nestas terras selvagens e inóspitas. Uma cidade que tem apenas dois ou três edifícios não precisa mesmo de energia para movimentar elevadores ou outras coisas mais úteis.
Ninguém sabe até agora a razão destes blackouts neste fim de mundo esquecido e abandonado. E talvez nunca saberá. O Operador Nacional do Sistema pode até saber o porquê, mas dificilmente dará explicações convincentes aos seus consumidores. Rondônia produz energia boa e barata e manda quase tudo para o sul do país. O nosso meio ambiente foi estuprado pelas duas grandes hidrelétricas no rio Madeira apenas para satisfazer a necessidade energética de Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e outras metrópoles mais civilizadas e desenvolvidas. Devem pensar que índios não precisam de geladeira para conservar seus poucos alimentos. Beber água gelada e dormir com ar condicionado ligado é um mimo inexplicável para quem nunca viu essas modernidades. Além do mais, em Rondônia não existem indústrias que justifiquem luz o dia todo.
A única ponte da cidade é também escura feito breu e com a recente vitória de Amazonino Mendes para governar o Amazonas pela décima vez, a estrada que ligaria Manaus a Porto Velho nunca mais sairá do papel. Portanto, a melhor coisa que se faria seria implodir aquela velharia imprestável e desnecessária. Eu não colocaria uma lâmpada sequer naquilo e como a cidade sempre fica às escuras, tudo combinaria. Aliás, existe cidade no mundo mais escura do que Porto Velho? Como gostar dessa “terra de apagões” se até os políticos daqui não são flagrados contando dinheiro sujo como os de Cuiabá? O Mato Grosso, sim, é uma terra abençoada. Lá eles precisam de claridade, já que não se conta dinheiro no escuro. Amar Porto Velho, terra onde político tira férias com apenas seis meses de trabalho, é uma das tarefas mais ingratas que se conhece.
Qual o empresário maluco que teria coragem de investir alguma coisa em Rondônia ou em sua distante e atrasada capital? Matéria prima quase não existe por aqui, mão de obra qualificada não há, mercado consumidor também não e agora nem energia elétrica confiável. Investir aqui só se for para montar uma fábrica de porongas, lamparinas ou velas. Pior: a apagada classe política local não dá um pio sobre o acontecido. Com a reputação mais escura do que os apagões, nenhum deles vai à mídia falar sobre o problema. Dormir no escuro batendo carapanã virará em breve um hobby nesta capital calorenta, abafada e infernal. Além de suja, mal administrada, fedorenta, podre e imunda, a capital mais chinfrim agora é escura. Brevemente estaremos andando de cipó como já previram, atividade essa que não depende da cara energia. Mais de 15 horas depois das trevas, a Eletrobras não sabia explicar o que tinha acontecido. Nem eu.





*É Professor em Porto Velho.

Nenhum comentário: