Terra dos
apagões
Professor
Nazareno*
Rondônia tem
três grandes hidrelétricas, mas na sua capital Porto Velho a falta de energia
tem sido uma constante ultimamente. Em menos de 15 dias verificaram-se dois
terríveis apagões trazendo, óbvio, alguns transtornos para moradores e para o
comércio. Mas a caboclada já está se acostumando tranquilamente ao caos. Para
uma capital de Estado que detém o nada invejável título de “antessala do inferno” ficar no escuro quente
por alguns poucos minutos parece ser coisa normal. E como para muitos
porto-velhenses “não falta energia
durante o dia”, alguns só perceberam o primeiro apagão por que foi à noite.
Energia é um bem de consumo supérfluo e quase dispensável nestas terras
selvagens e inóspitas. Uma cidade que tem apenas dois ou três edifícios não
precisa mesmo de energia para movimentar elevadores ou outras coisas mais úteis.
Ninguém sabe até
agora a razão destes blackouts neste fim de mundo esquecido e abandonado. E
talvez nunca saberá. O Operador Nacional do Sistema pode até saber o
porquê, mas dificilmente dará explicações convincentes aos seus consumidores.
Rondônia produz energia boa e barata e manda quase tudo para o sul do país. O
nosso meio ambiente foi estuprado pelas duas grandes hidrelétricas no rio
Madeira apenas para satisfazer a necessidade energética de Rio de Janeiro, São
Paulo, Brasília e outras metrópoles mais civilizadas e desenvolvidas. Devem pensar que índios não precisam de geladeira para conservar seus poucos alimentos.
Beber água gelada e dormir com ar condicionado ligado é um mimo inexplicável
para quem nunca viu essas modernidades. Além do mais, em Rondônia não existem
indústrias que justifiquem luz o dia todo.
A única ponte da
cidade é também escura feito breu e com a recente vitória de Amazonino Mendes
para governar o Amazonas pela décima vez, a estrada que ligaria Manaus a Porto
Velho nunca mais sairá do papel. Portanto, a melhor coisa que se faria seria
implodir aquela velharia imprestável e desnecessária. Eu não colocaria uma
lâmpada sequer naquilo e como a cidade sempre fica às escuras, tudo combinaria.
Aliás, existe cidade no mundo mais escura do que Porto Velho? Como gostar dessa
“terra de apagões” se até os
políticos daqui não são flagrados contando dinheiro sujo como os de Cuiabá? O
Mato Grosso, sim, é uma terra abençoada. Lá eles precisam de claridade, já que
não se conta dinheiro no escuro. Amar Porto Velho, terra onde político tira
férias com apenas seis meses de trabalho, é uma das tarefas mais ingratas que
se conhece.
Qual o
empresário maluco que teria coragem de investir alguma coisa em Rondônia ou em
sua distante e atrasada capital? Matéria prima quase não existe por aqui, mão
de obra qualificada não há, mercado consumidor também não e agora nem energia
elétrica confiável. Investir aqui só se for para montar uma fábrica de porongas,
lamparinas ou velas. Pior: a apagada classe política local não dá um pio sobre
o acontecido. Com a reputação mais escura do que os apagões, nenhum deles vai à
mídia falar sobre o problema. Dormir no escuro batendo carapanã virará em breve
um hobby nesta capital calorenta, abafada e infernal. Além de suja, mal
administrada, fedorenta, podre e imunda, a capital mais chinfrim agora é
escura. Brevemente estaremos andando de cipó como já previram, atividade essa que
não depende da cara energia. Mais de 15 horas depois das trevas, a Eletrobras não
sabia explicar o que tinha acontecido. Nem eu.
*É
Professor em Porto Velho.
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