Terra de ninguém
Professor
Nazareno*
Há 37 anos que
respiro o ar poluído desta terra amaldiçoada. E há exatos 37 verões que nesta
época do ano o oxigênio fica quase irrespirável. E tristemente sempre foi e
será assim. Estamos na estação da fumaça, que vem logo após a estação da
poeira. Aqui, diferente de muitos outros lugares do mundo desenvolvido e
civilizado, as coisas parecem girar ao contrário: lama, poeira, fumaça e
mormaço é o oposto do que se conhece como verão, inverno, primavera e outono. A
criminosa fumaça das queimadas arde em nossos organismos e nos expõe a doenças
evitáveis como rinite alérgica, asma, bronquite, tosse, dentre muitas outras.
Esta parte da Amazônia, como uma Hiroxima abandonada e maldita, exala todos os
anos vergonhosamente para o mundo, a fumaça de suas ainda poucas matas. E tudo
sob o olhar complacente e passivo das autoridades.
Rondônia tem
INCRA, tem SIPAM, tem Sivam, tem IBAMA, tem secretarias de defesa do meio
ambiente em quase todos os municípios, tem Ministérios Públicos, tem tudo
relacionado à defesa do meio ambiente com uma estrutura de fazer inveja a
qualquer país civilizado do Primeiro Mundo, mas via de regra todo ano, a
vergonhosa situação fecha aeroportos, lota hospitais com crianças e velhos,
causa transtornos e providências não são tomadas para acabar ou pelo menos para
aliviar a hecatombe que se abate sobre nós. Em Rondônia é como se a sociedade
civil organizada não fosse organizada ou nem existisse. Nada aqui dá certo.
Nada funciona. Quase tudo é na gambiarra, no jeitinho. O fogo assassino e a
fumaça tomam conta de tudo. As pessoas incendeiam seus quintais. Fazendeiros
incineram suas terras e ninguém contém o caos.
Nesse Estado
parece que “é cada um por si e o diabo
por todos”. Até apagão essa desgraça de lugar tem, apesar de possuir três
grandes hidrelétricas que só servem para beneficiar os outros. A classe
política, que nada faz, é de fazer inveja ao Sudão do Sul, Burkina Fasso ou Eritreia.
Em vez de se preocupar com os inúmeros problemas do Estado, legislam em causa
própria e na Assembleia Legislativa do Estado aprovam para si próprios um
absurdo auxílio alimentação de mais de seis mil reais por mês sem levar em
conta as necessidades de seus burros e otários eleitores. Mas ainda bem que
recuaram diante do óbvio. Aqui nesta terra de ninguém, político só trabalha
seis meses e já sai de férias. Óbvio que viaja para o mundo desenvolvido e
civilizado. Disney e Paris, por exemplo. Tirar férias e ficar por aqui só para
nós mesmos, os pobres e ignorantes.
Como se não
bastasse o horror, até a educação do Estado estão querendo militarizar como se
usar fardamento, prestar continência aos “superiores”
e saber cantar o Hino Nacional fossem pré-requisitos básicos para se adquirir
leitura de mundo, conhecimentos teóricos e boas informações. Engraçado é que
ninguém falou em educação de tempo integral para nossas crianças e jovens. Rondônia
ou Roubônia caminha para trás há muito tempo. Em breve virará uma província sem
eira nem beira e finalmente desaparecerá do mapa. Isso aqui é uma espécie de “filial ruim e atrasada do Brasil”, outra
porcaria sem conserto e sem rumo. Um lugar onde Lula e Jair Bolsonaro lideram
pesquisas eleitorais para presidente da República não se precisa dizer mais
nada. O jeito é se conformar mesmo em inalar fumaça, aplaudir os apagões e
esperar chover merda. E então neste sinistro dia, a alegria reinará entre os
rotos e desdentados.
*É
Professor em Porto Velho.
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