Acovardados
no Facebook
Professor
Nazareno*
Lima Barreto
disse certa vez que “o Brasil não tem
povo, tem público”. Isso por que nunca tomamos as decisões políticas, nunca
participamos efetivamente da política, apenas assistimos passivamente a classe dominante
fazer “gato e sapato”, decidir tudo
conforme suas conveniências e depois, calados e passivos, aceitamos
tranquilamente. As absurdas declarações do escritor nunca estiveram tão
atualizadas como agora. Insatisfeita com a ex-presidente Dilma Rousseff, eleita
democraticamente com mais de 54 milhões de votos, e pensando em se livrar da
cadeia por causa das acusações de corrupção, a classe política dominante se
aliou aos setores mais reacionários e conservadores da sociedade e deu um golpe
tomando o poder na maior cara de pau. Michel Temer assume prometendo resolver
todos os problemas do país, mas fracassou.
Vários ministros
e asseclas do novo governo já caíram ou foram denunciados por desmandos ou
roubalheiras. Temer é o primeiro presidente do país a ser denunciado por
corrupção em pleno exercício do cargo. “O
que o Temer fez de lambança já dava para ter cassado umas cinco Dilma”, é o
que se afirma. Porém, poucos acreditam que ele sofrerá qualquer tipo de
punição. Aécio Neves, senador mineiro pelo PSDB e um dos artífices do golpe, está
também enrolado até o pescoço em maracutaias, mas foi recentemente anistiado
pelo STF. Como não era petista, não perdeu o mandato e nem foi preso. Rocha
Loures, ex-deputado federal e “amigo de confiança”
do presidente, foi flagrado e filmado com uma mala de 500 mil reais. Preso por
poucos dias, já recebeu seu indulto sob o silêncio covarde de todos os que
bateram panelas contra a Dilma.
Martin Luther
King, ativista político norte-americano, disse que o que mais o preocupava não
era o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos
sem ética, mas o silêncio dos bons. Os brasileiros continuam calados e acovardados
diante da hecatombe política do país. E isso é vergonhoso como disse a
jornalista Luciana Oliveira de Porto Velho: “a vergonha não é o STF nem os
políticos, a vergonha é o povo brasileiro acovardado”. Ninguém faz
nada. Ninguém vai às ruas protestar. Ninguém grita. Só às vezes e no Facebook.
Quando se convocam passeatas, apenas alguns “gatos pingados” têm coragem suficiente para se inquietar e gritar.
Na Venezuela, onde o presidente Maduro, assim como Michel Temer, luta para não perder
a boquinha do poder, muitos venezuelanos já perderam a vida lutando contra o cinismo.
A nossa elite
política sempre conspirou contra o povo, que vota nela nas eleições. Deve ser
por isso que Lula lidera em todas as pesquisas para ser presidente a partir de
2018. Se não derem um jeitinho de prendê-lo ou tirá-lo de cena, ele governará o
país de novo. Nas urnas, bate qualquer um que o encare. E a lógica é clara: “se todos são iguais, pelo menos Lula olhou
para os mais pobres”. Até agora, punição, ainda que branda, só para uns,
enquanto muitos outros se safam. Se fôssemos um país sério, todos os envolvidas
em escândalos de roubo deveriam ser presos, investigados, e se culpados,
condenados na forma da lei. Sem prestígio aqui e lá fora, Temer não quer largar
o osso. E nós, passivos, aceitamos tudo quietos. “Só num país muito doente, um deputado é flagrado recebendo uma mala de
dinheiro e fica solto. Um senador é pego combinando propina e fica em
liberdade. E um presidente é gravado em prevaricação e não cai”.
*É
Professor em Porto Velho.
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