Sonho: EFMM
privatizada
Professor
Nazareno*
É inegável a
importância histórica da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré. A Ferrovia do Diabo,
concluída no início do século passado, faz parte do acervo histórico da
humanidade não só por que trabalhadores de várias nacionalidades participaram
da obra, mas principalmente pelo fato de ter sido destaque entre as relações do
Brasil com a Bolívia e de ter fechado com “chave
de ouro” os áureos tempos do Primeiro Ciclo da borracha. Por sua causa,
Porto Velho e Guajará-Mirim existem. O Estado do Acre, a própria Bolívia, o
Chile, os Estados Unidos, Barbados, Reino Unido e várias outras nações do mundo
estão direta ou indiretamente ligadas ao seu contexto. Porém com pouco mais de
cem anos de existência, o que resta da velha ferrovia está abandonado e
apodrecendo no meio do mato. Transformada em monturo e ferrugem, agoniza a esmo.
Os problemas da EFMM foram muitos,
mas sua lenta agonia provavelmente começou quando passou a ser administrada por
brasileiros e depois pelos rondonienses. Seus trilhos viraram “estacas” de seguranças de residências,
suas locomotivas foram desativadas e descartadas como lixo velho, seu
patrimônio dilapidado, muitas peças de seu acervo foram roubadas e na enchente
histórica em 2014, as águas do rio Madeira lentamente lhe impuseram o tiro de
misericórdia sob o olhar passivo e negligente das autoridades que tomavam conta
da velharia. Por tudo isso, a Estrada de Ferro mais importante da Amazônia
deveria ser privatizada. Um sonho se outras nações ou povos mais zelosos
cuidassem dela e de toda a área circunvizinha. O porto do Cai N’água, que está
parado há meses, finalmente voltaria a funcionar com os novos administradores.
Duvido que se alemães, franceses ou
japoneses, por exemplo, tivessem a suprema coragem de tomar conta daquelas
sucatas podres, a ponte ainda estivesse escura como breu e sem nenhuma
serventia. Zelosos como são, os estrangeiros já tinham construído uma pista de
caminhada do centro até a hidrelétrica de Santo Antônio para substituir o
famigerado Espaço Alternativo. E sem roubar um único centavo da obra. Caminhar
com uma vista panorâmica do Madeira e da região seria privilégio para poucos.
Os competentes e novos administradores certamente plantariam flores e criariam
muitos jardins e recantos de lazer ao longo da beira do rio desde a
hidrelétrica até a estrada do Belmont. Tenho certeza absoluta de que sob uma
administração de responsabilidade não haveria sequer um só saco plástico, papel
ou garrafa pet jogados.
Festa Gospel ou de qualquer outra
natureza ainda haveria no lugar, mas depois não se encontrariam imundícies
jogadas no meio da grama. Antes de toda concentração, sacos de lixo seriam
distribuídos e fiscais orientariam os participantes a não sujar o espaço
público. Além de não saberem administrar nada, brasileiros e rondonienses de um
modo geral adoram sujar e emporcalhar o ambiente que os cerca. Segurança
haveria de sobra e ninguém ousaria mais defecar nas imediações da praça
histórica muito menos usar drogas a céu aberto sem ser importunado pela
inexistente segurança. O vergonhoso cemitério de locomotivas seria todo
restaurado e colocado em exposição. Se foram os forâneos que construíram a
majestosa obra, só mesmo eles com sua organização e honestidade para fazê-la
trazer de volta a alegria dos seus poucos visitantes. O que estão esperando?
Devolvam logo a Mad Maria e todo acervo da EFMM para os estrangeiros.
*É
Professor em Porto Velho.
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