Obras
desnecessárias
Professor Nazareno*
Porto Velho é uma cidade horrível, bisonha, sinistra e desnecessária. Situada no extremo noroeste de Rondônia a poucos quilômetros da divisa com o Amazonas, a nossa capital ocupa uma posição geográfica que não a credencia para ser o principal centro urbano do Estado. Rolim de Moura, Ji Paraná ou qualquer outra cidade mais central poderia exercer esta função de maneira mais cômoda, eficiente e econômica para todos os rondonienses. Como se não bastasse esta desprivilegiada localização, a “capital dos destemidos pioneiros” é suja, mal cuidada, mal administrada e nem se parece com uma verdadeira cidade. Repleta de obras eleitoreiras e inacabadas, a cidade imita uma currutela daquelas dos seus antigos garimpos de ouro. Pior: muitas obras sem nenhuma serventia são construídas todos os anos com objetivos ainda pouco desconhecidos.
A primeira destas obras é o ginásio
Cláudio Coutinho. Construído e inaugurado no início dos anos 80, o “elefante branco” é uma obra totalmente faraônica.
Em Porto Velho não há nem nunca houve esporte de qualidade alguma que
justificasse construir aquilo. Agora, sem nenhuma necessidade, gastaram mais de
seis milhões de reais para recuperá-lo. O velho ginásio já serviu para tudo,
menos para esportes. Alojamentos de servidores públicos, pagamentos de salários,
apuração de votos, feiras de tecnologia, festas, reuniões. Foi por lá que
começou a trágica festa junina Flor do Maracujá, que ainda hoje continua sem
data ou local definidos. Sem times de vôlei, basquete, handebol ou qualquer
outro esporte de quadra, Porto Velho não precisa dele. Por isso, essa “praça de esportes” poderia ser implodida
que não faria falta nenhuma aos moradores daqui.
A ponte escura
sobre o Madeira, que custou mais de 300 milhões de reais, é outra coisa sem
nenhuma serventia. Sem ela, Porto Velho teria a mesma rotina, já que não há
vilas ou cidades do outro lado do rio que justificassem tamanho desperdício.
Humaitá fica a 200 quilômetros de distância e a BR-319 é um sonho que até os
próprios amazonenses já descartaram ao fazerem uma ponte de um bilhão e 300 milhões de reais ligando Manaus ao Cacau Pirêra e não à estrada em direção a
Rondônia e ao sul do país. O teatro Palácio das Artes é outra pilhéria homérica.
Não há artes por aqui. Nem artes nem nenhuma cultura. Então, não há necessidade
de uma casa de shows suntuosa como aquela. Em breve, a sua utilidade real será
igual à do Cláudio Coutinho: nada. Ficará às moscas ou abandonado e só servirá
para aulões, alojamento ou reuniões com outros fins.
Em vez de se
gastar seis milhões de reais à toa, esse dinheiro bem que poderia ter sido
usado para construir, por exemplo, um auditório na Escola João Bento da Costa,
a melhor da capital, onde passam diariamente quase quatro mil alunos. Será que
o povo daqui sabe o que é basquete, vôlei, tênis ou handebol? E quem diabos foi
esse tal Cláudio Coutinho? Muitos acham que foi algum ex-governador daqui ou
prefeito da capital. Em Porto Velho se gasta muito mal o dinheiro público. Sem
saneamento básico, sem água tratada, sem mobilidade urbana, sem áreas de lazer,
sem arborização, sem transportes públicos de qualidade, sem parques ou praças,
a “currutela fedida” e mal
administrada amarga a triste rotina de ser o que nunca deveria ter sido: uma
capital de Estado. Torcida aqui só para times de futebol de fora. Tanto dinheiro
desperdiçado teria mais utilidade se fosse usado para construir escolas de
tempo integral ou bons hospitais.
*É
Professor em Porto Velho.
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