Espaço dos
Curupiras
Professor
Nazareno*
Curupira é um
ser mitológico muito conhecido em toda a Amazônia brasileira. Trata-se de um
jovem muito danado, de cabelos vermelhos, pés virados para trás e um exímio
acrobata que anda pendurado nas árvores de toda a região. Acredita-se que o
Curupira não tenha nenhum dos órgãos excretores e por isso não defeca nem faz
xixi. Baseados neste ente demoníaco e surreal, autoridades de Rondônia refizeram
o Espaço Alternativo de Porto Velho. Não para homenagear a lenda e as crendices
populares da região, mas pelo singelo fato de não haver na suntuosa e
eleitoreira obra um único banheiro onde os atletas de fim de semana possam
fazer suas necessidades fisiológicas. O único espaço de lazer dos
porto-velhenses se localiza no caminho do desajeitado aeroporto da cidade e tem
chamado ultimamente a atenção pelas esquisitices vistas ali.
Esse Espaço Alternativo não foi
criado por nenhuma autoridade ou governante, mas pelo povo e hoje é uma
verdadeira vitrine para políticos mal intencionados. Trata-se da continuação da
Avenida Jorge Teixeira que faz a ligação entre a cidade e o seu aeroporto, dito
internacional pelos mais incautos e sonhadores. Se levada ao pé da letra a
questão da segurança, essa área de lazer nem deveria existir, pois representa
um sério perigo não só para o acanhado movimento de aeronaves, mas
principalmente para as pessoas que fazem suas caminhadas diárias naquele local.
Todos os dias entre as cinco e as oito horas da manhã e também entre as cinco e
oito da noite, fecha-se uma das ruas para as pessoas caminharem. O perigo
reside no fato, perfeitamente possível, de haver um acidente de grandes
proporções na única pista de pouso do campo de aviação.
Como transportar os feridos para os
hospitais da cidade se uma das ruas estiver entupida de pessoas caminhando? Como
fazer para que equipes de socorro se desloquem com mais rapidez para o local do
sinistro? Como evacuar multidões de uma hora para outra? É mais fácil para as
nossas autoridades evacuar nas pessoas em vez de evacuá-las. Como se vê: esse
caminho mais curto pode não ter adiantado de nada na hora de um sufoco. Óbvio
que se espera que isso nunca aconteça, mas se acontecer em quem colocar a culpa
pelo dimensionamento da tragédia? Mas pensando bem: levar feridos para os
hospitais da cidade adiantaria alguma coisa? Acho que as autoridades pensaram
nisto. Hospital de Base e Hospital João Paulo Segundo atenderiam os feridos
adequadamente? É melhor ficar agonizando na pista e esperar outro voo para cair
fora.
Por questões estritas de segurança,
o Espaço Alternativo deveria ser retirado dali. Se fosse implodido, ninguém
mais se elegeria deputado ou senador e tudo ficaria muito mais seguro. Ou então
que se faça outra ligação entre a cidade e o aeroporto que não tenha que ser
interrompida perigosamente em nenhum horário. Por que não se faz uma pista de
caminhada ao lado do imponente rio Madeira? O consórcio que construiu Santo
Antônio devia ter pensado nisso. Aliás, lindas passarelas ao lado de rios não
faltam nas cidades amazônicas. Humaitá e Santarém, por exemplo, têm lidas
pistas de caminhada ao lado dos rios que lhe banham. A única coisa que este
consórcio fez foi um porto meia boca que já está parado, danificado e sem uso.
Sem banheiros, o Espaço dos Curupiras é uma boate a céu aberto, servindo como pista
de racha e onde se encontra o maior número de preservativos usados por metro
quadrado da capital. E as letrinhas?
*É
Professor em Porto Velho.
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