sábado, 7 de janeiro de 2017

“Bandido bom é bandido...”


“Bandido bom é bandido...”

Professor Nazareno*

Os massacres ocorridos em menos de uma semana neste início de ano nos complexos penitenciários de Manaus no Amazonas e em Boa Vista/Roraima e que vitimaram quase uma centena de presos numa suposta luta entre facções rivais, mostraram ao mundo a fragilidade de nossas cadeias e do sistema carcerário do Brasil. O pior é que quase a totalidade dos cidadãos brasileiros ficou alegre e satisfeita com as mortes e defende a absurda e ultrapassada ideia de que “bandido bom é bandido morto”. As redes sociais foram inundadas com frases apoiando a matança e comemorando a carnificina como se fosse a coisa mais normal do mundo. No Brasil, país de última categoria em relação aos direitos humanos, pode ser até normal. O Estado é responsável por todos os seus presos e a vida de cada um deles está sob a tutela do Poder Público. 
Até uma autoridade do governo golpista de Michel Temer ficou feliz com a desgraça alheia. Filiado ao PMDB, Bruno Júlio, o secretário nacional de juventude afirmou que “tinha era que matar mais” e que “tinha que fazer uma chacina por semana nas penitenciárias” depois reafirmou tudo o que dissera. Bruno teria pedido demissão logo após as desastradas declarações. Se o Estado prende o criminoso e se responsabiliza por sua integridade, esse mesmo Estado tem que ser punido se algo acontecer ao infeliz. É a lei. Não é o bandido que prende o Estado. É o contrário. Bandido age como quiser, por isso é bandido. O Estado tem que ser íntegro. Quando acontecem mortes em nossos presídios, pagamos pesadíssimas indenizações ao Conselho Interamericano de Direitos Humanos da OEA e também a outros organismos.
Muitas das pessoas que defendem o horror geralmente não têm nenhum parente entre os mortos. Dizem-se cristãs, pouco ou nada entendem de leis e desconhecem, por exemplo, a passagem da mulher adúltera. Essa reação criminosa não resolve em nada o complexo problema da violência e mancha com sangue ainda mais a pouca imagem que o Brasil tem perante os países mais civilizados do mundo. A Holanda está fechando prisões por falta de criminosos. Rui Barbosa disse há mais de cem anos que “uma nação que não constrói escolas, deveria construir presídios”. Não construímos nem uma coisa nem outra. Vemos com muita tristeza até jornalistas defenderem a barbárie e fazer chacotas sobre a política de direitos humanos. Ignorantes e de má índole, parece que desconhecem os horrores do Nazismo e do Fascismo. E defendem ainda a Lei de Talião.
Violência só gera mais violência e não leva a nada. As chacinas de Canudos, Carandiru, Urso Branco e tantas outras não evitaram agora as matanças de Manaus e Boa Vista. O Estado está falido e precisa se fortalecer com uma boa e justa política carcerária. O atual governador do Amazonas, José Melo, que dentre outras coisas foi incapaz de evitar o caos, disse que entre os mortos não havia nenhum santo. E entre os políticos há algum? O Estado não prende santos, só bandidos. E não adianta mandar  levá-los para a nossa casa. É um argumento chulo e desprovido de qualquer inteligência. O mesmo se diz quando, às vezes, mostro as verdades de Porto Velho: “não gosta da cidade, vá embora”. Mas o que esperar de uma sociedade onde muitos de seus cidadãos são burros e alienados? Bandido bom não é bandido morto. É bandido preso, julgado, condenado e cumprindo legalmente a sua pena. E sem nenhum privilégio dado a ele.




*É Professor em Porto Velho.

4 comentários:

Moacir Figueiredo disse...

Em obstante os esclarecedores comentários, concordo somente em parte com o raciocínio. Existe um princípio fundado no direito alemão de que o Estado presta o possível e o razoável. Suponha que um preso use sua própria roupa para enforcar e matar um outro colega de cela na calada da noite, sem que ninguém veja, o Estado teria realmente capacidade de evitar esta morte ?? Por outro giro, é curial não esquecer que as organizações dos direitos humanos só dá ênfase aos presos, as vítimas desses preso que procurem se virar !! Bom, a resposta também se amolda aquele princípio acima citado, haja vista que estas organizações efetivamente também só podem se dedicar ao possível e ao razoável, não é mesmo !!! Temos de ter cuidado com algumas conclusões de caráter absoluto haja vista a complexidade dos atos sociais e das particularidades que os envolvem.

Edilson disse...

Professor, como sempre preciso em suas colocações. Agora, faça um favor, contemple-nos com suas requintadas missivas discorrendo acerca dos cidadãos de bem que foram vítimas desses presos. Cite uma só visita feita pelos Direitos Humanos à família que perdeu o seu único provedor, um pai de família num desses latrocínios da vida. Seja justo, já que pregar a justiça o nobre assim o faz tão bem e elenque ações que visem dar assistência àqueles perderam a vida, sonhos, família, pai, mãe, irmão, irmã, avó, avô, sogra, tio, amigos, por causa dos coitadinhos que lá se encontram. Por ora, só li um lado da história.

Claudinei Recco disse...

Parabens professor, fico horrorizado com o crescimento dos ditos "cidadãos de bem" que costumam defeder estas ideias extremistas e acreditam que o estado deveria se ausentar e deixar a segurança e defesa por conta da própria população, mesmo sabendo, que no Brasil, mesmo com a proibição de porte de armas, se mata por uma pipa, um copo de cerveja, um som alto ou qualquer outra coisa! este assunto é tão sério que nem cabe sarcasmo e Ironia não é mesmo?

Gerli Azougue disse...

O grande problema é que a população, essa que trabalha, produz e paga a despesas dos presos, fica alijada de direitos e rpoteção e quando perde um ente para um assaltante não terá indenização. Não fico feliz com as chacinas, porém entendo a revolta dos que não tem a quem recorrer. Somos assaltados pelas autoridades e pelos marginais.