Quero um emprego!
Professor Nazareno*
Não! Eu ainda não estou desempregado. Estou é muito perto de me aposentar e como ainda me considero jovem apesar dos quase sessenta anos, tenho certeza de que posso desempenhar minhas atividades profissionais sem muito esforço e ainda ser útil à sociedade onde passei a maior parte de minha vida trabalhando e pagando impostos altíssimos. Estou já à procura de um novo emprego para, somando ao que receberei de salários de professor aposentado, ajudar no custeio de minhas despesas mensais. E gostaria muito de trabalhar na prefeitura de Porto Velho sob a gestão de Hildon Chaves. Logo eu, considerado por muitos como um “revolucionário de Facebook” e chegado a um esquerdismo míope e estéril. Trabalharia para a prefeitura desta capital, mas sem concurso público nem exigências tolas e exerceria qualquer função que me ordenassem.
Só que quero ser
um comissionado. É o meu maior sonho: ter um emprego e não fazer muita coisa.
Nem ter que me esforçar para receber mensalmente dos idiotas, quer dizer, dos
nobres contribuintes do município, um gordo salário. Concurso público não é o
meu forte. Poderia ser lotado na Câmara Municipal, onde para cada funcionário
concursado existem pelo menos três comissionados, ou mesmo em qualquer uma
destas secretarias. Juro que iria ao local de trabalho pelo menos uma vez ao
mês para assinar o ponto. E, claro, na campanha política para prefeito em 2020
não só me filiaria ao PSDB como também pediria votos e apoio para qualquer
candidato do partido e das respectivas coligações. Ser de direita, reacionário,
coxinha, neoliberal, conservador e assessor de coisa alguma não é para os
fracos. Essa é a Porto Velho que dá certo, mano!
Com um pouco de
sorte poderia até ganhar da prefeitura desta capital um terreno grande na
periferia. Bastava dizer que fui financiador da última campanha e que num
futuro qualquer colocaria um comércio ali e geraria empregos para os pobres e
miseráveis. O juiz Sérgio Moro nunca virá aqui mesmo. Lava Jato em Porto Velho
só aqueles de carro sujo. Além do mais, deixar a limpa e civilizada Curitiba
para se intrometer em “coisas tucanas”
neste fim de mundo sem eira nem beira não é atribuição para aquele eminente magistrado.
Mas não sejamos injustos: comissionado trabalha, às vezes, e muito. O esforço
para convencer os poucos incrédulos na eficácia da nova administração desta
cidade não é coisa para amadores. A limpeza urbana está com tudo. Ainda assim,
o nosso prefeito nem salário tem. Doará mesmo a quem seus proventos?
A antes suja e
mal cuidada “cidade das hidrelétricas”
agora é coisa do passado. O corte de gastos se aprofunda gerando mais dinheiro
para os combalidos cofres municipais. Até o Carnaval daqui serão “só” quatro dias e quatro noites de muita
alegria e confraternização. Juro que apesar das chuvas torrenciais ainda não
percebi nenhuma alagação. Os ônibus estão mais rápidos e pontuais. E o IPTU
quase de graça. Nem vi também nenhum animal morto apodrecendo pelas ruas. Porto
Velho já se parece com o Primeiro Mundo, mano! E se há bonança, por que não
contratar mais comissionados? Eles serão o futuro daqui e do país. Hoje na
prefeitura já são mais do que o dobro dos de Mauro “lento” Nazif. E se o salário de cada um for maior do que quem
passou em um reles e insignificante concurso? Ah! Quero um emprego, uma
boquinha também! Dê-me uma chance, por favor! Posso ser pelo menos um “ombudsman” da sua administração?
*É
Professor em Porto Velho.
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