Minhas
depressões
Professor
Nazareno*
Eu não tenho
depressão. Na verdade nunca tive. Sofro apenas de momentos depressivos, como
muitas pessoas que conheço. E são muitos esses instantes que já vivi na minha
vida. Brasileiro, nordestino e paraibano sou mais um sobrevivente da seca que
sempre assolou aquela distante região. Só isso já seria motivo suficiente para
viver eternamente deprimido. Mas a situação consegue ser bem pior: moro há
quase quarenta anos em Rondônia. Na verdade em Porto Velho, a capital da
sujeira e da fedentina. Haja antidepressivos e ansiolíticos nas receitas
médicas. Ser brasileiro num Brasil que nunca foi sério tira a saúde de qualquer
um. Como país, o Brasil sempre foi uma espelunca que nunca deu exemplo a
ninguém muito menos serviu para nada. E hoje ser governado por um golpista assessorado
por gente corrupta, torna a situação ainda mais catastrófica.
Não há nada mais depressivo e tosco
do que observar o rio Madeira, o maior rio morto do mundo. Com sua nascente
agora a partir da hidrelétrica do Santo Antônio, o “rio das Madeiras”
não tem mais madeira boiando em suas turvas e selvagens águas. O seu feio e
horroroso pôr do sol perdeu o encanto e o brilho diante da agressão que lhe permitiram
em troca de nada. E olhar para a cidade que acabou de ser administrada por um
Mauro Nazif? E a agonia de esperar por uma eficiência que nunca chega do Hildon
Chaves? Há momentos que pensamos em desistir de tudo e por isso queremos a todo
o momento voltar para Curitiba ou para Gramado na Serra Gaúcha. Não existe nada
mais depressivo do que passar 20 dias na Europa visitando Geneve, Munique ou Paris
e de repente estar ali na Jatuarana ao lado de pessoas grossas e sentindo o
cheiro de merda.
Andar de coletivo em Porto Velho não
é só antidepressivo, como também uma espécie de estágio para experiências bem
piores. Mas há muitas outras coisas bem mais estarrecedoras para se visitar
nesta cidade sem eira nem beira. Outro dia, por exemplo, fui ao Hospital João
Paulo Segundo visitar um parente meu internado lá. Foi o equivalente a ter ido
umas três ou quatro vezes ao inferno numa única tarde. Só não vi o Satanás, mas
tenho certeza de que aquilo não é um lugar que cuida de seres humanos. Se for,
pelo que presenciei, na morada do Belzebu é muito melhor. Aquilo ali é um
verdadeiro campo de extermínio de pobres. Recentemente o governador de Rondônia
disse em seu blog, claro, que “o SUS é maravilhoso em sua essência”.
Quem não acreditaria nestas “sábias palavras” vindas de quem conhece a
fundo aquela realidade?
Diante disso, só não fica deprimido
que não tem sentimentos. Eu me deprimo ao ver que a situação no Brasil só
piorou com o novo governo e que as panelas se calaram covardemente. E quando
passa o momento depressivo, eis que vejo pessoas incautas dizendo que o Estado
tem que agir conforme agem os bandidos rebelados. Segundo esses ignorantes, o
Estado tem que também matar, estuprar, extorquir, violentar, mentir,
sequestrar, corromper e semear o medo e o terror. Fico deprimido também quando
percebo que a Operação Lava Jato não pega tucanos mesmo sabendo da culpa deles.
E saber que o Lula só será preso para que não vença as eleições em 2018? É
mole? E como não se deprimir ao saber que o ex-prefeito Mauro Nazif não fez o
Natal em Porto Velho, mas disse que deixou pelo menos 20 milhões de reais em
caixa? Ah! Vou ligar a televisão e assistir ao Jornal Nacional. Esqueci: aqui é
tudo gravado na TV. Meu Deus!
*É Professor em
Porto Velho.
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