sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Eu defequei na EFMM


Eu defequei na EFMM


Professor Nazareno*

            Eu nem sabia que a cidade de Porto Velho estava comemorando seus 102 anos. Pensava que a data comemorativa da cidade fosse dois de outubro como consta no brasão do município.  E como sempre soube que se tratava de uma “cidade cem anos”, não dei muita importância para o fato. Mesmo assim, fui à festa que a prefeitura organizou para o evento lá na Praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré. Fiquei encantado várias vezes com o que vi naquelas bandas. Primeiro, a prefeitura da cidade, que em outras administrações gastara mais de 11 milhões de reais para embelezar a dita praça, saiu do marasmo tradicional e não mediu esforços para fazer a limpeza do local onde seria realizado o grande espetáculo para alegrar a população municipal, hoje carente de grandes homenagens oficiais. Antes, a faxina foi geral e feita com afinco.
            Caminhões-pipa limpando todos os terrenos baldios da velha estação. O lodo, já impregnado ao ambiente, sendo escorraçado a jatos de água. Sabão, detergentes, vassouras, rodos e homens limpando cada centímetro quadrado daqueles trilhos enlameados e infectos. Cada bolinha de papel era apanhada e retirada dali. Sacolas de plástico e garrafas pet eram recolhidas em sacos de lixo. A grama milimetricamente aparada e varrida dava a impressão de que se tratava de um campo de futebol do Primeiro Mundo daqueles que só se veem na Alemanha ou na Suíça. Vi montanhas de  fezes humanas sendo removidas e limpas a vassouradas e esfregões potentes. Os trilhos antes retorcidos brilhavam como se fossem novos. Não sejamos injustos: os dias que antecederam a festa foram encarados pela prefeitura com uma verdadeira faxina.
            Mas como tudo tem que ser criticado, ouvi algumas pessoas más intencionadas falarem que no outro dia a sujeira tomava conta daquele lugar. Mentira! Conversas de fofoqueiros e maliciosos. A Praça da Estrada de Ferro Madeira Mamoré em Porto Velho estava na manhã do dia 25 de janeiro de 2017 muito mais limpa ainda do que nos dias que antecederam a grande festa. Disseram os faladores que havia toneladas de lixo esparramado pelo chão. Papel, garrafas pet, sacos plásticos, preservativos usados,  fraldas descartáveis, absorventes femininos manchados de vermelho, restos daqueles cigarros suspeitos, cacos de vidros e até fezes humanas. Fico possesso de raiva quando alguém fala estas coisas do povo de Porto Velho. Não nasci aqui, mas sou “rondoniense de coração” e não admito que falem uma só vírgula contra qualquer morador daqui.
            É claro que ninguém nascido aqui teria coragem de sujar aquela linda escadinha que foi pacientemente pintada nas cores azul e branca. Os trens impecavelmente limpos e asseados, as velhas peças de ferro ainda lustrando e o chão quase sem resquícios da lama que sobrou da enchente histórica nos convidavam a voltar no tempo para relembrar os áureos anos da EFMM. O povo de Porto Velho é limpo e asseado. Jamais permitiria qualquer tipo de sujeira num ambiente histórico daquele. Por isso, dizer que havia sujeira depois da festa é pura invencionice. Em outras oportunidades e festas naquele aprazível lugar o povo poderá provar o contrário de tudo o que se falou dele. Até vendedores de refrigerantes e pipocas alertavam seguidamente sobra a sujeira. A única coisa desagradável que aconteceu foi comigo mesmo. Deu-me uma terrível dor de barriga e tive que defecar ali na grama. Desculpe-me, Porto Velho! Foi sem querer!




*É Professor em Porto Velho.

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