A
fome longe do poder
Professor
Nazareno*
Não se enganem:
quando estava na presidência da República, é bem possível que Lula, o
ex-metalúrgico que foi presidente do Brasil por duas vezes seguidas, sempre tomava
vinho Romanee Conti, que custa hoje em dia “somente”
45 mil reais a garrafa. Provavelmente ele deveria ter à sua disposição caixas
inteiras da milagrosa e caríssima bebida. Todas talvez doadas por
megaempresários que mantinham relações de amizade e confiança com o poder em
Brasília. A cachaça, com que ele permitia que fossem feitas fotos, era apenas
para propagandas oficias. Mas Jair Bolsonaro também parece ter boas relações
com a rica gastronomia: foi filmado várias vezes degustando picanha Wagyu, que
custa quase mil reais o quilo. Igualmente ao Lula, o “Mito” se deixa filmar tomando café em copos americanos de vidro e
com potes de margarina abertos em cima da mesa.
Nem Lula nem
Bolsonaro nem nenhum outro presidente, governador ou político do Brasil parece
conhecer de perto as necessidades do povo que eles dizem que governam.
Provavelmente eles nunca viram uma “fila
do osso” nem as agruras da maioria dos brasileiros carentes e necessitados.
No atual governo da extrema-direita, a fome voltou com força à mesa dos nossos
cidadãos. Hoje são mais de 20 milhões de cidadãos famintos e miseráveis que
sequer se prestam àquele dantesco espetáculo televisivo da África subsaariana.
Lula, como muitos erroneamente afirmam, não venceu a fome de seus compatriotas.
Apenas amenizou no varejo alguns casos pontuais quando criou os programas
eleitoreiros com os quais se segurou durante 14 anos no poder. Já o Bolsonaro
repete os mesmos erros do petista: programas sociais rendem muitos votos.
O Brasil é um
país de gente faminta. E não adianta ter as maiores extensões de terras
agricultáveis do planeta nem ser o segundo maior produtor de alimentos da
atualidade. O agronegócio brasileiro, por exemplo, não produz alimentos apenas.
Produz lucros e muitos alimentos de boa qualidade para exportação a fim de matar
a fome, mas lá fora. Aqui, quem não tem dinheiro para comprar comida, fica à
margem da sociedade e se quiser comer alguma sobra vai ter que revirar
caminhões de lixo ou se sujeitar aos programas sociais do governo em troca de
votos. Todos os presidentes do país, de Cabral a Jair Bolsonaro, nunca
ensinaram o nosso povo a pescar, mas apenas a receber o peixe já pronto sempre
em troca de alguma coisa. Nenhum deles nunca deu educação de qualidade para
libertar os necessitados. A pobreza no Brasil dá dividendos.
O ideal seria
que a família de um político qualquer, ou ele, fosse a uma “fila do osso” ou então revirar um
caminhão de lixo para buscar o seu alimento de cada dia. Um presidente, um
governador de Estado, senador, ministro do STF ou STJ, um prefeito, vereador ou
deputado tinha que ver a realidade de grande parte de seus eleitores. O país
que está há mais de 50 anos entre as dez maiores economias mundiais precisa
exorcizar urgentemente a síndrome da “Casa
Grande & Senzala” tão bem definida por Gilberto Freyre. Os cartões
corporativos, os privilégios dos mais poderosos, as negociatas, a corrupção, as
rachadinhas, o salário mínimo de fome, os altíssimos salários dos “marajás”, o “toma lá, dá cá”. Tudo isso precisa ser revisto e acabado se quisermos
ter um país com mais justiça social e sem tanta fome e miséria. Precisamos de
um país sem “fila do osso” e sem pessoas
revirando lixo para ter comida. E presidentes mais simples.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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