segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

A fome longe do poder

A fome longe do poder

 

 

Professor Nazareno*

 

 

Não se enganem: quando estava na presidência da República, é bem possível que Lula, o ex-metalúrgico que foi presidente do Brasil por duas vezes seguidas, sempre tomava vinho Romanee Conti, que custa hoje em dia “somente” 45 mil reais a garrafa. Provavelmente ele deveria ter à sua disposição caixas inteiras da milagrosa e caríssima bebida. Todas talvez doadas por megaempresários que mantinham relações de amizade e confiança com o poder em Brasília. A cachaça, com que ele permitia que fossem feitas fotos, era apenas para propagandas oficias. Mas Jair Bolsonaro também parece ter boas relações com a rica gastronomia: foi filmado várias vezes degustando picanha Wagyu, que custa quase mil reais o quilo. Igualmente ao Lula, o “Mito” se deixa filmar tomando café em copos americanos de vidro e com potes de margarina abertos em cima da mesa.

Nem Lula nem Bolsonaro nem nenhum outro presidente, governador ou político do Brasil parece conhecer de perto as necessidades do povo que eles dizem que governam. Provavelmente eles nunca viram uma “fila do osso” nem as agruras da maioria dos brasileiros carentes e necessitados. No atual governo da extrema-direita, a fome voltou com força à mesa dos nossos cidadãos. Hoje são mais de 20 milhões de cidadãos famintos e miseráveis que sequer se prestam àquele dantesco espetáculo televisivo da África subsaariana. Lula, como muitos erroneamente afirmam, não venceu a fome de seus compatriotas. Apenas amenizou no varejo alguns casos pontuais quando criou os programas eleitoreiros com os quais se segurou durante 14 anos no poder. Já o Bolsonaro repete os mesmos erros do petista: programas sociais rendem muitos votos.

O Brasil é um país de gente faminta. E não adianta ter as maiores extensões de terras agricultáveis do planeta nem ser o segundo maior produtor de alimentos da atualidade. O agronegócio brasileiro, por exemplo, não produz alimentos apenas. Produz lucros e muitos alimentos de boa qualidade para exportação a fim de matar a fome, mas lá fora. Aqui, quem não tem dinheiro para comprar comida, fica à margem da sociedade e se quiser comer alguma sobra vai ter que revirar caminhões de lixo ou se sujeitar aos programas sociais do governo em troca de votos. Todos os presidentes do país, de Cabral a Jair Bolsonaro, nunca ensinaram o nosso povo a pescar, mas apenas a receber o peixe já pronto sempre em troca de alguma coisa. Nenhum deles nunca deu educação de qualidade para libertar os necessitados. A pobreza no Brasil dá dividendos.

O ideal seria que a família de um político qualquer, ou ele, fosse a uma “fila do osso” ou então revirar um caminhão de lixo para buscar o seu alimento de cada dia. Um presidente, um governador de Estado, senador, ministro do STF ou STJ, um prefeito, vereador ou deputado tinha que ver a realidade de grande parte de seus eleitores. O país que está há mais de 50 anos entre as dez maiores economias mundiais precisa exorcizar urgentemente a síndrome da “Casa Grande & Senzala” tão bem definida por Gilberto Freyre. Os cartões corporativos, os privilégios dos mais poderosos, as negociatas, a corrupção, as rachadinhas, o salário mínimo de fome, os altíssimos salários dos “marajás”, o “toma lá, dá cá”. Tudo isso precisa ser revisto e acabado se quisermos ter um país com mais justiça social e sem tanta fome e miséria. Precisamos de um país sem “fila do osso” e sem pessoas revirando lixo para ter comida. E presidentes mais simples.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

                                                                                                     

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