Quarenta anos
perdidos
Professor
Nazareno*
Exatamente há 40 anos, o presidente
da República, general João Batista Figueiredo, assinou o decreto de criação do
Estado de Rondônia. “Fica criado o Estado de Rondônia, mediante
a elevação do Território Federal do mesmo nome a essa condição”, dizia o lacônico documento. Porém, como
o brasileiro não vive sem farra e nem cachaça, somente depois das festas de
Natal e de Ano Novo é que a “nova estrela
no azul da União” passaria a existir de fato. Assim, estranhamente o Estado
tem duas datas na criação, pois fora implantado somente no dia 4 de janeiro do
ano seguinte, 1982. A fatídica data ajudava dessa forma a corroborar a
hegemonia política do PDS, o Partido Democrático Social, agremiação que dava
sustentação à cruel e assassina Ditadura Militar. O governo federal ganha mais
3 senadores e cinco deputados federais.
Desde o
início, a criação do novo Estado de Rondônia foi um grande equívoco tanto para
o Brasil quanto para a própria unidade da federação recém-criada. O lamentável
fato provocou um dos maiores desastres ambientais da história da humanidade.
Milhões de quilômetros quadrados foram totalmente destruídos, dizimados e
substituídos pela agricultura familiar. Situado entre dois grandes biomas reconhecidos
mundialmente, a Amazônia e o Cerrado, Rondônia serviu também para diminuir as
tensões sociais provocadas pela mecanização agrícola no sul do país. Muitos
pequenos agricultores, que foram expulsos de suas terras nos Estados do Paraná,
de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul principalmente, vieram para o novo
Estado a fim de recomeçar as suas vidas. Hoje, 40 anos depois, o Estado é só um
curral de latifundiários.
Do mesmo
tamanho que o Estado de São Paulo, Rondônia tem hoje apenas a população da cidade
de Campinas, ou seja, algo em torno de 0,8% da população nacional e um PIB que
representa só meio por cento do PIB total do país. Traduzindo: pela devastação
ambiental e pelos problemas que acumulou neste período, deduz-se que o Brasil
perdeu e muito com a criação deste Estado. Todo ano, durante o verão amazônico,
por exemplo, Rondônia arde em fogo no que ainda resta de florestas. As
criminosas queimadas atingem São Paulo e também várias outras cidades e regiões
do país com fuligem, fumaça e chuva contaminada. Isso sem falar nos garimpos
ilegais e clandestinos que produzem o envenenamento dos rios da região com o
mercúrio. Assim como alguns outros Estados, Rondônia só dá prejuízo e muita dor
de cabeça ao Brasil.
Esse Estado
deveria voltar a ser território ou então ser devolvido à Bolívia, ao Peru, ao
Amazonas ou então ao Mato Grosso que talvez tivesse muito mais futuro. Absurdo:
a sua suja e fedorenta capital Porto Velho está fora de tempo e de espaço, pois
é uma cidade que fica no extremo oeste e por isso totalmente descentralizada
dificultando assim o seu acesso pelos cidadãos que moram em Cacoal, Costa
Marques, Vilhena e em todo o Cone Sul do Estado. Uma capital mais centralizada
facilitaria a vida dos habitantes como um todo. Talvez para compensar o
prejuízo, o resto do Brasil usa a terra local para pastagens e também a energia
elétrica produzida no rio Madeira. E como hoje, graças a Deus, não existe mais o
PDS nem a Ditadura Militar, Rondônia sequer deveria existir como Estado. Como tem
pouca ou nenhuma serventia para o restante do país, deveria ser extinto e governado
lá de São Paulo ou mesmo de Brasília.
*Foi Professor em Porto Velho.
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