quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Quarenta anos perdidos

Quarenta anos perdidos

 

Professor Nazareno*

 

      Exatamente há 40 anos, o presidente da República, general João Batista Figueiredo, assinou o decreto de criação do Estado de Rondônia. “Fica criado o Estado de Rondônia, mediante a elevação do Território Federal do mesmo nome a essa condição”, dizia o lacônico documento. Porém, como o brasileiro não vive sem farra e nem cachaça, somente depois das festas de Natal e de Ano Novo é que a “nova estrela no azul da União” passaria a existir de fato. Assim, estranhamente o Estado tem duas datas na criação, pois fora implantado somente no dia 4 de janeiro do ano seguinte, 1982. A fatídica data ajudava dessa forma a corroborar a hegemonia política do PDS, o Partido Democrático Social, agremiação que dava sustentação à cruel e assassina Ditadura Militar. O governo federal ganha mais 3 senadores e cinco deputados federais.

        Desde o início, a criação do novo Estado de Rondônia foi um grande equívoco tanto para o Brasil quanto para a própria unidade da federação recém-criada. O lamentável fato provocou um dos maiores desastres ambientais da história da humanidade. Milhões de quilômetros quadrados foram totalmente destruídos, dizimados e substituídos pela agricultura familiar. Situado entre dois grandes biomas reconhecidos mundialmente, a Amazônia e o Cerrado, Rondônia serviu também para diminuir as tensões sociais provocadas pela mecanização agrícola no sul do país. Muitos pequenos agricultores, que foram expulsos de suas terras nos Estados do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul principalmente, vieram para o novo Estado a fim de recomeçar as suas vidas. Hoje, 40 anos depois, o Estado é só um curral de latifundiários.

       Do mesmo tamanho que o Estado de São Paulo, Rondônia tem hoje apenas a população da cidade de Campinas, ou seja, algo em torno de 0,8% da população nacional e um PIB que representa só meio por cento do PIB total do país. Traduzindo: pela devastação ambiental e pelos problemas que acumulou neste período, deduz-se que o Brasil perdeu e muito com a criação deste Estado. Todo ano, durante o verão amazônico, por exemplo, Rondônia arde em fogo no que ainda resta de florestas. As criminosas queimadas atingem São Paulo e também várias outras cidades e regiões do país com fuligem, fumaça e chuva contaminada. Isso sem falar nos garimpos ilegais e clandestinos que produzem o envenenamento dos rios da região com o mercúrio. Assim como alguns outros Estados, Rondônia só dá prejuízo e muita dor de cabeça ao Brasil.

          Esse Estado deveria voltar a ser território ou então ser devolvido à Bolívia, ao Peru, ao Amazonas ou então ao Mato Grosso que talvez tivesse muito mais futuro. Absurdo: a sua suja e fedorenta capital Porto Velho está fora de tempo e de espaço, pois é uma cidade que fica no extremo oeste e por isso totalmente descentralizada dificultando assim o seu acesso pelos cidadãos que moram em Cacoal, Costa Marques, Vilhena e em todo o Cone Sul do Estado. Uma capital mais centralizada facilitaria a vida dos habitantes como um todo. Talvez para compensar o prejuízo, o resto do Brasil usa a terra local para pastagens e também a energia elétrica produzida no rio Madeira. E como hoje, graças a Deus, não existe mais o PDS nem a Ditadura Militar, Rondônia sequer deveria existir como Estado. Como tem pouca ou nenhuma serventia para o restante do país, deveria ser extinto e governado lá de São Paulo ou mesmo de Brasília.

 

 

 

*Foi Professor em Porto Velho.

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