Um Porto de
Promessas
Professor
Nazareno*
Conheço Porto
Velho, a fedorenta, inabitável e podre capital de Roraima, como poucas pessoas.
Há mais de quarenta anos que tenho a infelicidade de morar por aqui. Desde o
longínquo ano de 1980 que tive a infeliz ideia de fixar residência na
desorganizada cidade e assim resolvi “passar
uns dias” nesta suja curva de rio. E por incrível que pareça nada,
absolutamente nada mudou neste quase meio século de existência. O prefeito de
então era Sebastião Valadares e o governador do Estado era um apagado coronel
do Exército, ambos prepostos da infame ditadura militar por estas bandas. O
coronel logo virou “Deus” e aquele
prefeito continuou longe dos holofotes. A cidade era um caos e nada funcionava
direito. Como ainda hoje, a sujeira abundava, não tinha uma boa rodoviária,
aeroporto, saneamento básico, água tratada e nem hospital.
No entanto, naquela época, Porto
Velho e Rondônia já tinham uma tenebrosa, dissimulada e mentirosa classe
política que se manteve fiel até os dias de hoje. Durante todo este tempo, as
falsas esperanças se mantiveram e a cruel realidade insiste em bater todo dia
na cara dos tolos rondonienses e de todos aqueles que acreditaram na lorota de
novos tempos e de prosperidade na “nova
estrela no azul da União”. A rodoviária da capital já era a mesma de agora,
uma imundice que a caracteriza hoje como o pior terminal rodoviário do país.
Mas todos os anos as promessas de uma nova estação de passageiros da capital se
mantiveram. O infecto e tenebroso igarapé que a margeia era um pouco mais
limpo, pois a cidade tinha, óbvio, uma população menor. Hoje aquele curso
d’água é um esgoto mal cheiroso cujas águas matam qualquer um ser que as tome.
O acanhado aeroporto da cidade,
apesar de uma pequena reforma muito mal feita levada a cabo algum tempo depois,
continuou parado, improdutivo e imprestável como sempre foi. Hospitais bons não
havia naquela época. Só o velho e também inservível Hospital de Base. O bom era
que não tínhamos nenhum “açougue”
metido a hospital como temos hoje em dia. Porém, muitos eleitores idiotas de
Rondônia podem dizer que daqui “a não sei
quantos anos” teremos um novo hospital de pronto socorro que vai atender
aos pobres e miseráveis do lugar. Promessas nesse sentido já há. Custará 300 milhões
de reais, mas será pago mais de um bilhão do nosso suado dinheirinho. Porto
Velho tinha muito mais árvores do que agora. Mas todas foram solenemente
arrancadas para dar lugar a ruas tortas com tapiris e palafitas sem rede de
esgotos ou água tratada.
E apesar do nome Porto Velho, porto
de passageiros ou de cargas mesmo a cidade não tinha. E nem nunca teve até
hoje. Mas como no próximo ano haverá eleições, as promessas eleitoreiras e
mentirosas já estão a todo vapor. Infelizmente isso sempre foi praxe por aqui. E
como muitos dos eleitores rondonienses são tolos e facilmente enganáveis a
felicidade já reina em conversas e bate-papos. Teremos na cabeça dos incautos,
por exemplo, em Porto Velho a partir de 2022, um novo hospital de pronto
socorro, redes completas de águas e esgotos, urbanização, porto rampeado, excelente
mobilidade urbana, menos violência e claro, um novo terminal urbano de
passageiros. Haverá aumento da produção agropecuária, duplicação da BR-364,
ligação com Manaus via BR-319, garimpo de ouro “bombando” no rio Madeira, mais empregos, oportunidades e comida
para todos. Rondônia das promessas já é realidade.
*Foi
Professor em Porto Velho.
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