quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Quero comprar a Caerd


Quero comprar a Caerd

Professor Nazareno*

            Caerd é a Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia, embora a sigla deste “valoroso” Estado seja RO. Para uns, a Caerd fora criada pelo ex-governador Jerônimo Santana em 1989, já para outros ela é muito mais antiga. É do tempo em que a sigla de Rondônia era “RD”. A inusitada companhia deveria fornecer água tratada para os seus consumidores. Só água mesmo, pois esgoto nunca existiu nem em Porto Velho muito menos nas cidades do interior. Nestes tempos de privatização de tudo o que é público, a insólita companhia deveria ser também repassada para a iniciativa privada. Se a Ceron, Centrais Elétricas de Rondônia, foi vendida por míseros 50 mil reais com a aceitação de toda a classe política e de autoridades deste Estado, a Caerd deve valer bem menos. Eu tenho coragem de pagar uma quantia de 20 mil reais pela empresa. Ela valeria mais?
            Primeiro eu iria pedir a permissão dos 24 deputados estaduais de Rondônia para poder comprá-la. Será que eles concordariam com o negócio? Talvez não, pois são muito “apegados” ao Estado e as suas instituições. Batido o martelo para o Professor Nazareno, a primeira coisa que eu fazia como proprietário dela seria mudar o nome para CARO, Companhia de Águas de Rondônia. Ora, se não existe esgotos no lugar, para que uma empresa com esse nome desnecessário? Iria distribuir água do rio Madeira para toda a população de Porto Velho e nas cidades do interior que têm rios próximos, faria a mesmíssima coisa. Trocaria todos os hidrômetros e colocaria fiscalização para evitar as ligações diretas. Para isso, pediria a colaboração da “competente” Polícia Civil do Estado assim como do IPEM e quem sabe até do PROCON para auxiliar nestas tarefas.
            Privatizada, de início todos os servidores da nova empresa seriam sumariamente demitidos sem direito a nenhuma indenização, pois já ganharam muito dinheiro sendo funcionários públicos e por isso não precisam de mais nada. A seguir, faria um acordo com os políticos mais exaltados: eles fingiam estar “vigiando” a empresa de possíveis desmandos enquanto a população carente, totalmente desprotegida, agonizava com as tarifas superfaturadas, uma vez que todos os novos hidrômetros seriam trocados só para este fim. Qualquer problema, o IPEM de Rondônia nos socorreria com sua formidável assessoria. Atestados de idoneidade da empresa não iriam faltar de jeito nenhum. Além do mais, incentivaria a criação de uma CPI na Assembleia Legislativa só para mostrar para todos os eleitores e consumidores que os políticos daqui trabalham pelo bem geral.
            Depois de passar para a iniciativa privada, já era! E todo mundo sabe disto. Não tem mais volta. Ninguém poderá fazer mais nada. “Só sofrer mesmo”. Qual foi a empresa no Brasil que depois de privatizada foi estatizada? Nenhuma. A ANA, Agência Nacional de Águas, é igual à ANEEL. São órgãos do governo federal que estão “muito preocupados” com o povão consumidor. Como empresário já rico e poderoso quero ver os habitantes de Porto Velho com latas de água na cabeça ou então aparando o precioso líquido das biqueiras, uma vez que aqui chove muito. No escuro, muitos já estão por causa da Energisa, de quem pretendo comprar algumas ações, claro. Sem água, sem esgotos, andando a pé, sem energia elétrica, sem Saúde e sem Educação de qualidade essa gente deixará de torcer pelo Lula e o PT e fará campanhas para o Bolsonaro, além de reeleger os “combativos políticos” que lutaram tenazmente por ela. E quem dá mais?



*É Professor em Porto Velho.

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