Quero comprar a
Caerd
Professor
Nazareno*
Caerd é a
Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia, embora a sigla deste “valoroso” Estado seja RO. Para uns, a
Caerd fora criada pelo ex-governador Jerônimo Santana em 1989, já para outros
ela é muito mais antiga. É do tempo em que a sigla de Rondônia era “RD”. A inusitada companhia deveria
fornecer água tratada para os seus consumidores. Só água mesmo, pois esgoto
nunca existiu nem em Porto Velho muito menos nas cidades do interior. Nestes
tempos de privatização de tudo o que é público, a insólita companhia deveria
ser também repassada para a iniciativa privada. Se a Ceron, Centrais Elétricas
de Rondônia, foi vendida por míseros 50 mil reais com a aceitação de toda a classe
política e de autoridades deste Estado, a Caerd deve valer bem menos. Eu tenho
coragem de pagar uma quantia de 20 mil reais pela empresa. Ela valeria mais?
Primeiro eu iria pedir a permissão
dos 24 deputados estaduais de Rondônia para poder comprá-la. Será que eles
concordariam com o negócio? Talvez não, pois são muito “apegados” ao Estado e as suas instituições. Batido o martelo para o
Professor Nazareno, a primeira coisa que eu fazia como proprietário dela seria
mudar o nome para CARO, Companhia de Águas de Rondônia. Ora, se não existe esgotos
no lugar, para que uma empresa com esse nome desnecessário? Iria distribuir
água do rio Madeira para toda a população de Porto Velho e nas cidades do
interior que têm rios próximos, faria a mesmíssima coisa. Trocaria todos os
hidrômetros e colocaria fiscalização para evitar as ligações diretas. Para isso,
pediria a colaboração da “competente”
Polícia Civil do Estado assim como do IPEM e quem sabe até do PROCON para
auxiliar nestas tarefas.
Privatizada, de início todos os
servidores da nova empresa seriam sumariamente demitidos sem direito a nenhuma
indenização, pois já ganharam muito dinheiro sendo funcionários públicos e por
isso não precisam de mais nada. A seguir, faria um acordo com os políticos mais
exaltados: eles fingiam estar “vigiando”
a empresa de possíveis desmandos enquanto a população carente, totalmente
desprotegida, agonizava com as tarifas superfaturadas, uma vez que todos os
novos hidrômetros seriam trocados só para este fim. Qualquer problema, o IPEM
de Rondônia nos socorreria com sua formidável assessoria. Atestados de
idoneidade da empresa não iriam faltar de jeito nenhum. Além do mais,
incentivaria a criação de uma CPI na Assembleia Legislativa só para mostrar
para todos os eleitores e consumidores que os políticos daqui trabalham pelo
bem geral.
Depois de passar para a iniciativa
privada, já era! E todo mundo sabe disto. Não tem mais volta. Ninguém poderá
fazer mais nada. “Só sofrer mesmo”. Qual
foi a empresa no Brasil que depois de privatizada foi estatizada? Nenhuma. A
ANA, Agência Nacional de Águas, é igual à ANEEL. São órgãos do governo federal
que estão “muito preocupados” com o
povão consumidor. Como empresário já rico e poderoso quero ver os habitantes de
Porto Velho com latas de água na cabeça ou então aparando o precioso líquido
das biqueiras, uma vez que aqui chove muito. No escuro, muitos já estão por causa
da Energisa, de quem pretendo comprar algumas ações, claro. Sem água, sem
esgotos, andando a pé, sem energia elétrica, sem Saúde e sem Educação de
qualidade essa gente deixará de torcer pelo Lula e o PT e fará campanhas para o
Bolsonaro, além de reeleger os “combativos
políticos” que lutaram tenazmente por ela. E quem dá mais?
*É
Professor em Porto Velho.
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