Progresso para
trás
Professor
Nazareno*
Depois do golpe parlamentar dado em
2016 na ex-presidente Dilma Rousseff e no PT, o Brasil incrivelmente começou uma
estranha caminhada para trás em todos os setores. Os batedores de panelas, que
era uma forma de se protestar contra os desmandos dos políticos, simplesmente
deixaram de existir num momento em que as falcatruas e os acordos espúrios
continuaram com força. Temer se livrou da primeira denúncia, Aécio Neves,
depois de julgado no STF, foi anistiado pelos senadores, a exploração do
trabalho escravo ameaça voltar ao país e os paneleiros, conformados, se
calaram. Será que bateram panelas somente para o Brasil regredir? Mais uma vez Temer
dá sinais de que vai escapar da segunda denúncia e enquanto for presidente não
será investigado. O bordão “fora, Dilma!”
foi o único responsável pelo “fiquem,
corruptos!”.
Uma onda conservadora, retrógrada e
reacionária parece querer tomar conta do país inteiro. Capitaneada em sua
maioria por líderes religiosos e “defensores
da família” essa atual onda fascista invade áreas onde “há pouco tempo e há muito custo” se
conseguiram vitórias esperançosas. Se mais de 62 por cento dos eleitores hoje desejam
a volta da ditadura, significa que “tempos
escuros” podem estar perigosamente se aproximando da sociedade brasileira.
Nas escolas, nos teatros, na mídia, na política, na música e também no nosso
cotidiano, os “arautos das boas novas”
ameaçam sem arrodeio com a volta da censura e do obscurantismo. Querem proibir
peças teatrais e livros didáticos. Exposições sofrem restrições. Em vez de
progredir, a sociedade regride e parece querer voltar à Idade Média e reeditar
os tristes tribunais da Santa Inquisição.
O anacronismo político infelizmente
também se verifica em muitos fatos onde antes havia mais progresso e mais
debates de ideias. O dogmatismo estéril está tomando o lugar da dialética. A
cada dia que passa, as coisas ficam muito mais caducas. Toda sociedade evolui
de forma natural, mas no Brasil dos últimos tempos tudo parece voltar
estranhamente no tempo. Hoje, por exemplo, está muito mais difícil viajar de
avião do que há alguns anos. Passagens bem mais caras e muitas paradas até o
destino final é o que se tem observado. Piorou e muito. Em Porto Velho, no
porto do Cai N’água, há pouco tempo tínhamos um lindo terminal rampeado,
moderno e de fácil embarque de passageiros. Hoje temos no barranco escorregadio
e íngreme uma ridícula escada de madeira. Passou o tempo e aqui tudo só piorou.
Ideias senis trazem também o atraso.
Outro sintoma de subdesenvolvimento
e progresso enviesado: com o horário de verão, até a TV aberta em Rondônia transmite
o Jornal Nacional da Rede Globo com uma hora de atraso. Ou seja, como há trinta
ou quarenta anos as notícias ainda chegam atrasadas ao nosso Estado. Pouco antes,
era tudo ao vivo. Regredimos de novo. Com internet, assiste-se às notícias no
portal e dispensa-se o noticiário atrasado. Duvido que em Curitiba ou na Serra
Gaúcha jornal seja transmitido com atraso. O Jornal Alto Madeira de Porto Velho
fechou as portas depois de cem anos de existência. O lamento foi geral como se
as notícias virtuais não existissem. Será que queriam a permanência de um jornal
de papel? No mundo inteiro revistas e jornais impressos estão sendo
substituídos pela rede. O pensamento reacionário e as ideias anacrônicas são
comuns até nas postagens das redes sociais. Aqui, o que parece não mudar nunca
é o jeito de votar.
*É
Professor em Porto Velho.
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