Professor sem
vergonha
Professor
Nazareno*
O Brasil tem um dos piores sistemas
de educação do mundo. A prova disto está na pouca ou nenhuma leitura de mundo
de grande parte de sua população. Burrice é mato num país com mais de 207
milhões de pessoas. Muitos alunos, após doze ou treze anos de escola, mal
conseguem escrever o próprio nome. As escolas brasileiras de um modo geral
formam só analfabetos funcionais. As públicas geralmente “ignorantizam”, sabotam e “desinstruem”
seus alunos, e por isso formam uma massa de alienados e imbecis. Já nas escolas
particulares, a situação é um pouco melhor: elas formam apenas os gerentes
dessa ignorância e dessa imbecilidade. Ao professor, nesse contexto de fundo de
poço, cabe pouca utilidade, embora ele seja cantado em prosa e loas pelos
políticos e pelos mais “espertos”.
Dia 15 de outubro é um dia somente para lamentos.
Ser professor no Brasil não é tarefa
fácil. Há mais de quarenta anos que milito neste batente e sei as agruras da
sala de aula. Pouco reconhecido, sem condições de se especializar, mal
remunerado e perseguido em todos os flancos, muitos desses “mestres sem mestrado” se equilibram como
podem para ganhar a vida. Se um aluno é bom geralmente é por que é muito
inteligente e dedicado. Se é ruim, fraco, desleixado e sem conhecimentos
pergunta-se logo: quem é teu professor, criatura? No Brasil, onde a família já
decretou falência há muito tempo, cabe aos professores a tarefa de ensinar e
educar filhos alheios. E professor não é educador. Uma mãe, sozinha, educa por
cem professores. Um aluno, sozinho, quando ler e busca conhecimentos vale por
cem mães. Mas todos infelizmente “abrem
mão” de suas obrigações e esperam só pelo professor.
Alunos despreparados, mal educados,
sem leitura de mundo, muitos deles oriundos de famílias falidas e sem a menor
infraestrutura social são a matéria prima destes profissionais já estressados.
Raros são aqueles alunos de boa procedência e que dão valor à profissão.
Raríssimos são os que admitem querer seguir a espinhosa faina. Médicos,
engenheiros, advogados, psicólogos, políticos e até policiais desdenham de seus
mestres nesta data ridícula. Dia do professor? Deem refrigerantes e outros
açúcares aos miseráveis para que morram mais cedo vítimas de diabetes. Se o
mestre cai em desgraça, geralmente muitos de seus ex-alunos se lembram de
alguma coisa errada que ele fez lá no passado e logo se candidatam para depor
contra o infeliz. Triste, mas muitos pupilos sem caráter sentem uma espécie de
prazer ao ver seu ex-mestre na pior.
Mesmo assim, nenhum professor devia
sentir vergonha de sua profissão. No mundo desenvolvido e civilizado, todos
eles são valorizados e sua palavra é uma sentença respeitada. No Japão, ele
vale mais do que o próprio imperador. Já no Brasil, são muitos os exemplos de
professores agredidos por seus alunos. Em muitos casos já houve até morte
desses profissionais, que não têm quase nenhum reconhecimento da sociedade. Nas
greves, o miserável apanha sem dó da polícia. Os outros aparelhos repressores
do Estado também não lhes poupam. Militarização absurda das escolas,
implantação do projeto escola sem partido, censura pura e simples a livros
escolhidos por eles, como aconteceu em Ariquemes, dentre muitas outras
excrescências é o que se tem visto. Piedoso, criou o Conselho de Classe só para
aprovar alunos ineptos. Não é fácil lidar com educação num país de povo imbecil
e sem instrução. Mas não desisto!
*É
Professor em Porto Velho.
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