Santa
Maria, Mariana, Paris
Professor
Nazareno*
Tragédias sempre
aconteceram na história da humanidade. De causas naturais ou ligadas à ação
humana, as catástrofes já causaram mais mortes do que todas as doenças e
epidemias. Revoluções, guerras, acidentes aéreos, incêndios, atentados
terroristas, epidemias de proporções colossais sempre meteram medo e ainda
assustam todos os seres humanos. Hoje em dia, o que diferencia uma tragédia de
outra, no entanto, é a reação das pessoas a elas. O incêndio da Boate Kiss em
janeiro de 2013 em Santa Maria no Rio Grande do Sul matou mais de 250 pessoas e
infelizmente já é um assunto totalmente esquecido pela mídia e por quase todos
os brasileiros. Recentemente o desastre de Mariana em Minas Gerais, que vitimou
algumas dezenas de pessoas e matou o rio Doce, já perdeu a sua importância para
os atentados terroristas de Paris na França.
Toda tragédia é horrorosa e
abominável e devia ser lamentada por todos. Se morreu uma única pessoa ou se
morreram milhares, o fato deve ser repudiado e devem-se criar mecanismos para
evitar a sua repetição. Mas infelizmente muitas pessoas não veem dessa forma.
Os atentados terroristas em Paris mataram até agora 132 pessoas e deixaram
outras 352 feridas. O mundo inteiro está consternado. A mídia não fala de outra
coisa. O Jornal Nacional da Globo se despede em silêncio total. O fato é
notícia nos jornais do mundo inteiro. Mas ninguém dá um pio quando jatos de
guerra franceses bombardeiam cidades no Iraque ou na Síria matando centenas de
pessoas também inocentes e causando o mesmo terror de Paris. No Afeganistão
ocupado, a carnificina não é diferente. Na Síria mísseis russos dilaceram
pessoas todos os dias e não é notícia.
No Brasil a briga não é para saber o
porquê das atrocidades na França, mas por que as pessoas daqui não se preocupam
com as nossas tragédias. O Facebook muda a cor do seu perfil e todo mundo de
uma hora para outra vira francês. Boate Kiss, Mariana e outras catástrofes
locais não chegam nem perto do nosso pior drama: mais de 52 mil cidadãos
brasileiros são mortos todos os anos. Hoje, serão assassinadas no nosso país
pelo menos 143 pessoas segundo estatísticas. Isso sem falar nas vítimas de
acidentes de trânsito. Nossos mortos não têm rosto nem identidade e são tão
insignificantes que não são sequer lembrados pelas redes sociais e pelo Poder
Público. Os Estados Unidos, por exemplo, “pediram” o onze de setembro
assim como a França “provocou” a atual situação. E essa briga não é por
causa de religião. É pelo petróleo abundante da região.
Se tivéssemos amor ao próximo como
dizemos ter, devíamos lamentar o atentado às torres gêmeas, a Paris, Londres,
Beirute, Madri, Damasco, Kandahar, o acontecido de Mariana, Santa Maria e todo lugar onde se tira a vida de inocentes por questões político-ideológicas,
religiosas, econômicas ou mesmo por incompetência como é o caso do Brasil.
Devíamos lutar por um mundo melhor para todos. Devíamos participar mais da
política e exigir dos nossos governantes mais decência e honestidade para com
os governados. A nossa luta não seria somente nas redes sociais, mas nas ruas,
no Congresso, nas Assembleias, Câmaras e principalmente na hora de votar. Não
devemos orar por Paris, pois rezar lembra religião e foi por causa dela que tudo
isto aconteceu. Mas toda crença é boa e prega o bem. Nenhuma quer a morte de
ninguém. Tragédias não são mais ou menos importantes e não se comparam, apenas
se lamentam. Enfim, um mundo onde a solidariedade é seletiva não é um
bom lugar para se viver.
*É Professor em
Porto Velho.
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