Greves
não me incomodam
Professor
Nazareno*
Ouvi dizer que os ônibus urbanos de
Porto Velho estão parados já há uns três ou quatro dias. Nem percebi, pois não
gosto de me meter em movimentos grevistas que quase sempre terminam em bagunças
e que envolvem, na maioria das vezes, pessoas desocupadas e radicais. Não posso
e nem devo me preocupar com estas “coisas menores”, pois tenho três
carros que uso diariamente para o meu transporte e o da minha família. Nunca
entendi por que vários veículos ficam parados e seus proprietários não querem
atender à população que deles precisa. Sou funcionário público e sempre cheguei
na hora certa ao meu trabalho. As pessoas insistem em arranjar empregos longe
de suas casas e por isso sofrem quando acontecem estes incômodos. Claro que
isso é de propósito e também para dar uma desculpa para se atrasar em seus
locais de trabalho.
Porto Velho não precisa muito de
transportes coletivos. Com aproximadamente 500 mil habitantes, é uma cidade
plana quase sem ladeiras íngremes. As pessoas deviam caminhar diariamente
apreciando de graça as belas paisagens, economizando dinheiro e contribuindo
dessa forma para uma vida mais saudável. O sol não incomoda e quase não é
percebido, pois as muitas árvores nas ruas e avenidas dão a impressão de
estarmos sempre na sombra. Era para todo mundo da capital comprar carros ou
motos para a sua locomoção. Se isso acontecesse, nossa mobilidade urbana seria
muito melhor. Por isso, entende-se que a falta de consciência da maioria dos
nossos habitantes é um dos nossos maiores problemas. Com uma semana sem ônibus,
a vida caminha normalmente sem nenhum contratempo mais sério e dá gosto ver as
pessoas alegres e felizes caminhando.
Além do mais, o prefeito Mauro Nazif,
agindo como um verdadeiro estadista, já providenciou transporte gratuito para
todos. A Câmara Municipal da cidade, o vice-prefeito Dalton di Franco, todos os
vereadores e demais autoridades do município, preocupados com o possível
sofrimento da população, não mediram esforços para socorrer a todos que
precisarem do Poder Público. Até o Governo do Estado, o Poder Judiciário e a
Assembleia Legislativa estão a postos para ajudar os mais necessitados. A falta
de ônibus na capital dos “destemidos pioneiros” mobilizou toda a
sociedade civil organizada numa corrente cívica e patriótica. OAB, Maçonaria,
Igrejas evangélicas, quartéis das Forças Armadas, escolas públicas e
particulares, entidades de classe e até cidadãos comuns, todos juntos num
objetivo único: ajudar, sem restrições, o próximo.
Por isso eu não me preocupo com nenhuma
greve. Elas são boas, pois unem as pessoas. Se houver esses movimentos absurdos
nas escolas, por exemplo, eu nem me mexo. Meus filhos estudam num ótimo colégio
particular da cidade. Educação pública é para os mais necessitados e é normal
que uma vez ou outra os professores queiram um pouquinho de aumento em seus já
altos salários. Greve na Polícia? Eu moro num excelente e seguro condomínio
fechado e tenho até seguranças particulares para garantir a minha proteção e a
da minha família. Já que estou protegido por todos os lados, por que me
preocupar com a angústia e o sofrimento alheios? Dos pobres e necessitados, o
Estado e o Poder Público cuidam. A minha única preocupação é com o preço da
cerveja, claro. E por falar em comemorações, o jogo do Brasil hoje contra o
Chile vai ser demais. Viva o Brasil! Viva Rondônia! Viva Porto Velho! Viva os
nossos políticos!
*É Professor em
Porto Velho.
2 comentários:
Fantástico!
Pimenta no "olho" dos outros é refresco! Belo texto!
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