Professor,
a escória social
Professor
Nazareno*
Dia 15 de outubro. No Brasil é
comemorado o Dia do Professor. Comemorado não, apenas lembrado e lamentado.
Numa sociedade que nunca valorizou nem valoriza este profissional e muito menos
a sua faina diária, qualquer ação que lembre alegria e festa não passa de pura
hipocrisia, de mentira deslavada, de adulação e puxa-saquismo. O nosso país é
um dos poucos do mundo que não dá a mínima importância à educação e ao
educador. Políticos, demais autoridades e governantes vão à mídia neste
fatídico dia para dizer lorotas e mentiras usando o nome desse profissional.
Mentem à vontade tentando passar a imagem de serem grandes admiradores dos
mestres. Se todos os professores tivessem as características que os políticos dizem
que têm, jamais estes se confraternizariam com aqueles. “Ao mestre com
carinho” é só falsidade mesmo.
Acredita-se
que apenas trinta por cento, em média, dos educadores no Brasil são esforçados,
competentes, comprometidos e dedicados à profissão e ao saber. Querem a vitória
e o sucesso dos seus alunos. Veem-se como importantes dentro da sociedade. Valorizam
o seu próprio trabalho e incentivam a busca pelo conhecimento. E valem cada
centavo que recebem para formar as futuras gerações. Ganham pouco, pelo muito que
fazem pela educação. Do outro lado, no entanto, há um grupo bem maior: cerca de
70 por cento dos professores são canalhas e picaretas, por isso merecem os
achincalhes e os insultos que recebem diariamente. Ganham muito bem, pelo pouco
que fazem. Odeiam a profissão, não formam conhecimentos e debocham de qualquer
um aluno que queira seguir a sua honrada labuta. São fracos, incompetentes e às vezes, alienados.
Esses maus educadores não entendem
quase nada de política, geralmente seguem o senso comum, há décadas elegem e
reelegem os mesmos colegas para dirigir seus sindicatos pelegos, jamais
preparam uma aula e durante a mesma ficam estudando dentro de sala para poder
passar num concurso público “que dê mais dinheiro”. Pior: no final do
ano, para se ver livre do batente e entrar logo de férias, participa de um
Conselho de Classe espúrio, imoral e indecente que aprova alunos
semianalfabetos que mal sabem escrever o próprio nome depois de anos de escola.
Como não culpá-lo também pelo fracasso da educação no país? É comum veem-se
professores torcendo por times de futebol. Vestindo um ridículo uniforme,
discutem com um fanatismo tolo que não leva a nada. E ainda há os “acéfalos”
que ensinam religião dentro da sala de aula.
O mau professor geralmente é
homofóbico, racista e antiético. Piadas infames já prontas para achincalhar várias
minorias quase sempre são contadas em salas de professores para a gargalhada
geral. Já o bom professor é injustiçado:
se mata feito um condenado para preparar alunos para o ENEM e vestibulares. E
quando há aprovação, os pupilos só agradecem a Deus pela vitória alcançada. “Obrigado,
Deus”, é o que mais se lê nas redes sociais. Deus não deu uma única aula
nem corrigiu nenhuma redação desses infelizes, mas leva os louros, enquanto o
mestre é rapidamente esquecido. Mas nas reprovações, muitos pais vão em cima de
quem para reclamar do infortúnio e do fracasso? Ser professor não é fácil, mas
é gostoso e gratificante. Há exatos 40 anos, ainda não descobri, no entanto, a
qual grupo de educadores pertenço. Mesmo assim, parabéns para o bom e o mau
professor. A “escória” é importante. E salvaria o país.
*É Professor em Porto Velho.
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