Outro
desabafo à Soniamar
Professor
Nazareno*
Querida professora, Soniamar. A
pouquíssimos dias da prova do Enem/2015 estou, de novo, muito desesperado com o
rendimento da maioria dos nossos alunos dos terceiros anos. Muitos não sabem
fazer uma simples redação e apresentam dificuldades de se expressar por escrito
em língua pátria. Temo que vão pontuar muito pouco nesta modalidade de prova
cobrada no Exame Nacional do Ensino Médio. Após corrigir as últimas redações do
simulado em nossa escola, cheguei à triste conclusão de que uma tragédia de
proporções gigantescas muito pior do que o PT está na iminência de acontecer com
as notas da maioria deles. O pior é que toda vez que me lembro da nossa responsabilidade
sobre os mesmos, bate-me uma forte depressão e até vontade de não deixar que
eles representem a nossa escola neste Enem para evitar a possível tragédia.
Neste
ano de 2015, na Escola João Bento da Costa, corrigi, contadas a dedo, 6.719 redações
feitas por eles. Isso mesmo, amiga: quase sete mil textos. E uma das únicas coisas
que consegui lhes ensinar foi a forma de escrever o numeral terceira (3ª) de “terceira
série” em vez de terceiro (3º). Mesmo assim, alguns ainda erram. Espero que
eles não escrevam “Segundo Guerra Mundial”. Mas e mais, nem insisto. “Mas”
é o mesmo que porém e “mais” é o contrário de menos. “É”, com
acento, o verbo ser, e “E”, sem acento, a conjunção, não ensino mais a
nenhum deles. “Á” craseado, com o acento para frente é o que mais eles
fazem. Parece que nunca viram o “À” com o acento da crase para trás.
Aliás, “trás” e “traz” é outra confusão para eles. Escrever “há
muito tempo atrás” e “lhe dar” em vez de “lidar” ou “concerteza”
e “dês do”, já virou rotina.
Disse-lhes para não deixar a linha 01 em
branco. Adianta? Fazer um título pequeno e sempre retirado da conclusão.
Iniciar o terceiro parágrafo com “Além disso,/ Além do mais,” e a
conclusão (último parágrafo) com uma das expressões: “Ainda assim,/ Dessa
forma,/ Diante do exposto, ou Portanto,”. Fazer pelo menos quatro
parágrafos sendo que no primeiro, a APRESENTAÇÃO do assunto e a TESE,
nos dois ou três parágrafos do meio ARGUMENTE e explique a tese criada.
Na CONCLUSÃO dar boas sugestões. Fazer 05, 06 ou 07 linhas por parágrafo
e nunca menos do que 25 linhas no total. “PRIMEIRO faça a redação e só
passe a limpo na meia hora final”. “Seja o último da sala
a entregar a prova. Façam questão disso”. Dos 634 alunos do JBC, menos de
30 (4%) podem fazer um excelente texto. Ainda assim, torço por todos.
Com raríssimas
exceções, dos textos que corrigi em 2015 pouco se aproveita. Geralmente não há tese,
não há argumentos, não há citações, não há sugestões,
não há absolutamente nada. Erros gramaticais primários é uma rotina maldita. Parece
até que não foram alfabetizados nestes 12 anos. Noutros textos, simplesmente
não há como decifrar a letra de tão ruim e ilegível que é. Se não evitarmos mais
esta tragédia na nossa educação, que futuro haverá? O que me conforta é que no
início do ano pedi para que buscassem leitura de mundo, informações e
conhecimentos. Mas muitos fogem da leitura como o diabo foge da cruz. Medo
de virar ateus? Esta fragilidade não é só culpa deles, mas são eles que
“vão pagar o pato” para o resto da vida se não adotarem a boa leitura
como rotina daqui em diante. Enfim, estou preocupado e não há mais como
ajudá-los. Não desejarei boa sorte, mas uma excelente prova. E não me
decepcionem!
*É Professor em Porto Velho.
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