Coletivos,
tapiocas e greves
Professor Nazareno*
Fresno é uma cidade da Califórnia,
Estados Unidos. Tem pouco mais de 500 mil habitantes. Quase todos eles são
pacatos e acomodados. Recentemente a cidade viveu dias intensos. Houve uma
greve nos transportes públicos que causou problemas para todos que dependem
desta modalidade de locomoção. A vaidade e a incompetência do prefeito Mário
Autista e a ambição e falta de civilidade dos donos das duas únicas empresas de
ônibus de Fresno podem ter causado esta inusitada paralisação. Capital de um
condado, a cidade ficou totalmente parada durante quatro dias seguidos sem que
ninguém, nenhuma autoridade sequer, tivesse disposição para resolver o caos que
se instalara. Quando assumiu a Prefeitura, Mario Autista já encontrou as duas
empresas explorando o setor. Ele alegou caducidade no contrato das mesmas e
resolveu bani-las.
Fala-se à boca larga que o prefeito
tentou se livrar dessas empresas por que elas não financiaram sua campanha
eleitoral. Ele nega. E afirmou na mídia que agiu assim porque o serviço que
elas prestam é de péssima qualidade. Pura verdade. Dessa forma, foi rompido o
contrato com elas e logo após foi feita uma licitação para contatar novas
empresas de transportes para a cidade. Só que a empresa vencedora de tal
licitação mexia com cuscuz e tapiocas e, claro, não tinha ônibus. No dia de
assumir os serviços não apareceu. Resultado: a população de Fresno ficou sem
transportes. Nem as empresas velhas e muito menos a nova. Dizem até que as
antigas empresas subornaram a vencedora para que ela não assumisse e com isso
se instalasse o caos. Aí começou o “jogo de empurra”. Cada um tentando se
esquivar da “quiçaça” criada por eles mesmos.
A Justiça do condado nem se meteu na
confusão. Seus juízes, promotores e funcionários usam possantes carros e todos
têm como se locomover. A maioria da população mais rica de Fresno e os
vereadores locais não se envolveram também, pois todos têm como andar pela
cidade. Mototaxistas, taxistas comuns e pessoas interesseiras resolveram agir
para faturar em cima da miséria alheia. Uma corrida que antes custava cinco
reais passou a custar 15 ou vinte durante os dias de greve. Os trabalhadores
assim como os pobres e miseráveis, que dependem do transporte coletivo, é que “pagaram
o pato” pela confusão instalada. Como era esperado, o prefeito Mário
Autista e seus incompetentes assessores, todos pressionados pela “barafunda”,
fizeram um acordo e as velhas empresas voltaram espertamente a explorar o porco serviço. Grande novidade!
Mas como nos Estados Unidos a lei
funciona para todos, a Suprema Corte do país resolveu intervir. Inicialmente
censurou os magistrados de Fresno e deu advertências para os Ministérios Públicos
da localidade. Mandou prender Mário Autista e todos os seus assessores sob a
acusação de incompetência, prendeu também os donos das duas empresas que já
exploravam os serviços e também o dono da outra, a vencedora da licitação.
Todos foram acusados de causar transtornos à coletividade e de deliberadamente
paralisar a economia local. Além disso, foi nomeado um novo interventor para a
cidade. “Os interesses da população jamais devem ser contrariados”, disse
o novo administrador de Fresno. “Se preciso for, mobilizaremos as Forças
Armadas e confiscaremos todos os ônibus para transportar o povo”,
finalizou. Tudo dentro da lei e da ordem. Viver num país sério é outra coisa.
Todos devíamos morar lá.
*É Professor em
Porto Velho.
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