O diabo ri: Porto Velho parou
Professor Nazareno*
Quando outro dia eu disse que o Satanás
era protetor de Porto Velho, a chiadeira foi geral. Muita gente apenas fingiu
não acreditar neste fato totalmente inusitado. Porém, como não entender que
isto seja verdade numa cidade em que dia após dia acontecem coisas
inimagináveis? O Capeta é assim mesmo, precisamos nos conformar: quando ele mexe
nos seus arquivos, a coisa sempre piora para a cidade que ele protege. Além da
tradicional e já costumeira falta de mínima infraestrutura urbana de que uma
cidade moderna necessita, a “currutela amaldiçoada” viveu recentemente
vários apagões medonhos sem nenhuma explicação. Desta vez, no entanto, é uma
greve geral no já precário sistema de transporte coletivo da cidade. Não é uma paralisação
propriamente dita. É como um locaute, quando os patrões param as suas
atividades.
O pior é que numa cidade de meio milhão
de habitantes e capital de um Estado, ninguém sabe explicar o motivo do caos.
Nenhum dos 21 vereadores, muito menos o Prefeito e seus assessores ou qualquer
outra autoridade municipal ou estadual até agora deram satisfações à população sobre a atual
barafunda. Bem ou mal, Porto Velho tinha algumas empresas de ônibus urbanos que
faziam, a duras penas, o transporte da população mais carente. Numa briga com a
atual administração da cidade, parece que perderam a concessão. Dizem que foi
feita uma nova licitação para explorar o sistema, mas a empresa ganhadora “caiu
fora” e a população usuária ficou à mercê da própria sorte. Nem as empresas
velhas e muito menos a nova. Alguns taxistas, mototaxistas, donos de vans e
outros tipos de transporte estão fazendo a festa em cima dos miseráveis.
Porto Velho não tem prefeito, é o que
parece. O que já era muito ruim conseguiu piorar. E os mais prejudicados nesta
queda de braço são, claro, os mais necessitados. Os pobres, que só são
lembrados em época de eleições, estão comendo “o pão que o diabo amassou”
para conseguir chegar ao trabalho ou às escolas. Aqui deve ser a terra do
Capiroto. Um lugar amaldiçoado que nunca terá dias felizes. Nada funciona, nada
presta, nada dá certo, nada tem futuro. Quem deveria resolver a confusão, anda
de carro luxuoso e não enfrenta a desgraça, a penúria. A ironia é tanta que até
um Deputado Federal daqui disse recentemente em Brasília que
andava de ônibus em Rondônia. Gostaria de vê-lo
dentro de um Interbairros ou de um Hospital de Base. Melhor ainda: que tal um Vereador
da capital ou um Deputado Estadual numa parada no sol quente?
Devemos torcer pelo dia em que o Inferno
vai, enfim, mandar um representante seu para administrar “a capital das
sentinelas avançadas”. Lúcifer, Cramunhão, Diabo, Saci, Perneta, Coisa
Ruim, Cão, Anjo Mau, Demônio, Pé Rachado, Fedorento, qualquer um serve, pois de
humanos nos administrando estamos fartos, já que quando o sujeito não é
corrupto ou ladrão é incompetente. O Anjo das Trevas não teria dificuldade
nenhuma para administrar a capital dos rondonienses e nem nela morar. A cidade
já fede naturalmente a enxofre podre e o calor sempre foi dos infernos mesmo.
Mas se tivéssemos entre nós uma Rosa Parks, a situação dos transportes
coletivos não seria dessa forma. A cidade que nunca teve saneamento básico, água
tratada e esteve no escuro, agora está sem transportes coletivos e com a população
carente no sofrimento. No meio da fumaça e da poeira e a pé, agora só falta
mesmo a esperada chuva de merda.
*É Professor em
Porto Velho.
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