Ajudem
a Banda e salvem Porto Velho
Professor
Nazareno*
Porto Velho, a charmosa e simpática
capital do Estado de Rondônia, vai se acabar. E o iminente fim desta cidade não
se deve, como muitas pessoas erroneamente acreditam, à maior enchente do
indomável rio Madeira que lhe banha. E muito menos às constantes e desastrosas
administrações a que fomos submetidos nas últimas décadas. O fim está muito
próximo e quem nos diz isto são as teorias antropológicas e sociológicas de
Claude Lévi-Strauss, intelectual franco-belga que afirmou certa vez que “para
se destruir uma sociedade, basta destruir a sua cultura”. Os dois fatos
acima citados têm influência direta no Armagedon porto-velhense, mas não são
determinantes para este ocaso. Se a cultura daqui ainda não foi extinta em
definitivo, está sofrendo com o passar dos tempos violentas e covardes investidas
que apontam nesta incômoda direção.
A rotina de se destruir sistematicamente
a “cultura” local começou há décadas por aqui. Se futebol é cultura como
muitos acreditam, este esporte já não faz parte da rotina dos nossos habitantes
há um bom tempo. Grandes clássicos entre Moto Clube e Ferroviário ou Flamengo e
Ipiranga apenas povoam escassas lembranças. O futebol, reconhecido no Brasil
inteiro como esporte das multidões, sobrevive hoje em alguns bares improvisados
apenas para adorar times de fora do Estado. Porto Velho é a única dentre as
capitais brasileiras que não tem este esporte. Não gosto de futebol, mas
defendo o direito de sua existência. Expovel, Feira Agropecuária de Porto
Velho, já deixou de existir faz um bom tempo apesar das mais de 12 milhões e
cabeças de gado que Rondônia possui. Não é cultura, mas deveria ser-lhe
assegurado o direito de existir.
O carnaval não me apraz, mas por que acabar com ele? Acho uma festa ridícula, sem sentido,
alienante, tosca e que incentiva a bebedeira, as drogas, a vadiagem e a
violência. Jamais iria a um desfile da Banda de Porto Velho, por exemplo. Mas
não vê-la desfilando no sábado de carnaval juro que me deu muita pena. Porém, penso: Como
pode uma Banda que se gaba de ter mais de três décadas de existência depender
de um Mauro Nazif, de um Confúcio Moura ou de um Judiciário brasileiro para desfilar?
Não conseguiu amealhar neste tempo todo infraestrutura suficiente para se
bancar sem depender do dinheiro público? E os inúmeros blocos daqui, também
não? Então não merecem mesmo sair às ruas. Deveríamos ter umas cinco ou seis
bandas iguais a essa e uns duzentos blocos, mas nenhum vivendo à custa do
Erário, mamando nas tetas.
O arraial Flor do Maracujá, festa
bizarra e sem sentido e que também, para mim, não é cultura de forma nenhuma,
foi desativado sem explicações há muito tempo pelo Poder Público local. Antônio
Serpa, o Basinho, cujos bons textos, leio todos, disse que carnaval e enchente
não são autoexcludentes. Tem razão, pois quem garante que o falso estado de
calamidade pública não é artimanha de políticos mal intencionados só para se conseguir
mais grana? Vejam o (mau) exemplo das cestas básicas da Prefeitura de Porto
Velho. Péssimo sinal: pela primeira vez na história, o número de evangélicos que
foram “encontrar Jesus” nos retiros mais próximos foi maior do que o
número de brincantes da famosa Banda. Tomara que não seja o começo de uma feroz
ditadura evangélica por aqui. Minha preocupação: sem estas bizarrices, como
poderei produzir meus textos? Se Lévi-Strauss estiver certo, Porto Velho pode
ir contando os seus dias. Sumirá do mapa.
*É Professor em Porto Velho.
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